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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Linda surpresa

Segunda-feira, 28 de novembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 48 de 1 de dezembro de 2016

Começa o ano litúrgico e com ele o itinerário do Advento, percurso litúrgico e caminho de vida para cada cristão, chamado ao «encontro» com Jesus. Na liturgia do 1º domingo de Advento — recordou Francisco — a Igreja «orou assim: “Ó Deus nosso Pai, suscitai em nós a vontade de ir com as boas obras ao encontro do vosso Cristo que vem, para que Ele nos chame a si na glória, para a posse do reino dos céus”». É o pedido «ao Pai, que suscite em nós a vontade de ir ao encontro de Jesus, do seu Filho». Esta é «a graça que nós queremos no Advento: ter o desejo de encontrar Jesus» e de «ir ao encontro» d’Ele.

Este período é marcado por «muitos encontros»: «de Jesus com a sua mãe no seio», «com São João Batista no ventre», «com os pastores» e «com os Magos», até à conclusão — não «liturgicamente» mas «simbolicamente» — «no grande encontro de Jesus com o seu povo, a 2 de fevereiro quando Jesus, com 40 dias, é apresentado no templo». E «nós esperamos encontrá-lo», disse o Papa recordando que «ontem na praça já estava a árvore. Um sinal. Um sinal que nos diz: “Presta atenção: deves encontrar o Senhor!”». Com efeito, após a primeira leitura, a aclamação ao Evangelho recita: «Vamos com alegria ao encontro do Senhor». Portanto, resumiu o Papa, o convite para todos consiste ainda em pedir «a graça de ir ao encontro» de Cristo. Neste «tempo não podemos estar parados. O nosso coração deve perguntar: “Como posso ir ao encontro do Senhor? Quais são as atitudes para o encontrar? Como devo preparar o meu coração para o encontrar?”».

Na liturgia do dia há uma resposta para tais perguntas: a coleta «indica três atitudes: vigilantes na oração, ativos na caridade, exultantes no louvor». Ou seja, «devo rezar com vigilância; devo ser ativo na caridade» e ter «a alegria de louvar o Senhor». Quanto à caridade, Francisco esclareceu que se trata da «caridade fraterna»: portanto, «não só dar esmolas, mas tolerar quem me incomoda, em casa tolerar as crianças quando fazem muito barulho, ou o marido ou a esposa quando há dificuldades, ou a sogra». Em síntese, «caridade ativa». E concluiu: «Assim devemos viver esta via, a vontade de encontrar o Senhor. Para o encontrar bem. Não fiquemos parados».

Mas no momento do encontro «haverá uma surpresa, porque Ele é o Senhor das surpresas». Recordando a prece litúrgica que menciona «o vosso Filho que vem», o Papa observou que «nem sequer Ele está parado: Ele vem. Estou a caminho para o encontrar e Ele está a caminho para me encontrar, e quando nos encontramos vemos que a grande surpresa é que Ele me procura antes que eu comece a procurá-lo». Esta é «a grande surpresa do encontro com o Senhor. Ele procurou-nos antes». É verdade que «o nosso caminho é importante», mas «Ele vem antes para nos encontrar».

De resto, «é a surpresa que teve o centurião». Francisco recordou em síntese o episódio: «Não era hebreu, e quando disse aos seus que iria encontrar o profeta, um curandeiro para pedir a graça, alguém disse: “Não te mistures com os hebreus, não sabes, terás problemas com os teus superiores...”, quantas coisas terá ouvido!». Não obstante, o centurião «teve coragem» e foi ao encontro do Senhor. E «a grande surpresa era que o Senhor queria ir à sua casa: “Virei e curarei”». Isto faz-nos entender que «o Senhor vai sempre além, antecipando-nos. Damos um passo e Ele dá dez. Sempre». É a experiência da «abundância da sua graça, do seu amor, da sua ternura que não se cansa de nos procurar». Uma experiência que fazemos «às vezes com as pequenas coisas: pensamos que encontrar o Senhor é algo magnífico», e fazemos como Naamã, o Sírio, na narração bíblica: «também ele teve uma grande surpresa no modo de agir de Deus».

«O nosso é o Deus das surpresas, que nos procura e nos espera, e só nos pede o pequeno passo da boa vontade». Por isso oremos: «Ó Deus nosso Pai, suscitai em nós a vontade de caminhar», porque ao Senhor «chega» esta vontade. Isto vale para cada aspeto da «nossa vida». Alguém poderia dizer: «Oh, carrego este pecado há anos, ele tortura-me, vivo assim, nunca revelei este aspeto da minha vida, é uma chaga que tenho dentro, mas como eu gostaria...»; para o Senhor já «chega» este «como eu gostaria». Ele «dá-me a graça para eu pedir perdão». Mas «a vontade é o primeiro passo». E a ajuda de Deus «acompanhar-nos-á durante a nossa vida». O Papa explicou que o Senhor «nos verá afastar-nos dele muitas vezes», mas ficará à nossa espera «como o pai do filho pródigo». Muitas vezes «verá que queremos aproximar-nos» e sairá «ao nosso encontro».

Portanto, o «encontro» é fundamental. A tal respeito, Francisco disse: «Sempre me impressionou o que o Papa Bento afirmou, que a fé não é uma teoria, uma filosofia, uma ideia: é um encontro, um encontro com Jesus». Ou seja: «Podes recitar o Credo de cor sem teres fé, se não encontrares Jesus, a sua misericórdia». Com efeito, «os doutores da lei sabiam tudo da dogmática e da moral daquele tempo, tudo», mas «não tinham fé porque o seu coração estava distante de Deus». Tudo depende desta dinâmica: «Afastar-se ou ter a vontade de ir ao encontro». E é esta, concluiu o Papa, «a graça que hoje pedimos. “Ó Deus nosso Pai, suscitai em nós a vontade de ir ao encontro do vosso Cristo”, com “a vigilância na oração, a atividade na caridade, exultantes no louvor”». Agindo assim «encontraremos o Senhor e teremos uma linda surpresa».

 



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