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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

A intuição de Madalena

Segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 49 de 8 de dezembro de 2016

Com a sua intuição Madalena entendeu que Jesus queria «recriá-la», não simplesmente encobrir os seus pecados com uma operação de maquilhagem: e precisamente ela, que teve a coragem de dar «nome e sobrenome» aos seus pecados, foi indicada pelo Papa como exemplo para se deixar renovar real e profundamente pelo Senhor. A primeira leitura, tirada do livro de Isaías (35, 1-10), «fala-nos de renovação: a estepe se rejubile e floresça porque será glorificada», observou Francisco. Portanto «a estepe florescerá e o que era deserto, o que era feio e descartado ficará cheio de flores, novo: renovar-se-á». Assim «a profecia de Isaías prenuncia a vinda do Salvador: é a mudança do feio para o belo, do mau para o bom». E «isto alegrar-nos-á, ajudar-nos-á porque prenuncia curas: “Abrir-se-ão os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos. O coxo saltará» e no deserto «haverá uma senda, uma via, e chamar-lhe-ão vereda santa»: será «um caminho que o seu povo poderá percorrer». São palavras que narram «uma melhoria; e assim o povo esperava o Messias, anunciado pelo profeta Isaías».

Com efeito, «Jesus veio para curar, ensinar e indicar um caminho de mudança ao povo, que por isso o seguia». Mas «não o seguia porque era atual: seguia-o porque a sua mensagem chegava ao coração». A Bíblia diz «que Ele falava com autoridade, não como os doutores da lei, e o povo entendia». Além disso «o povo via que Jesus curava, e seguia-o também por isso: muitos doentes eram levados a Ele para que lhes restituísse a saúde». Tudo isto é narrado no trecho de Lucas (5, 17-26) proposto pela liturgia. Todavia, frisou o Papa, «o que Jesus fazia não era só uma mudança do feio para o belo, do mau para o bom: Jesus fez uma transformação». Com efeito «não é questão de embelezar, de maquilhagem, de aparência». Na realidade, o Senhor «mudou tudo de dentro, com uma recriação: Deus tinha criado o mundo; o homem caiu no pecado; Jesus vem e recria o mundo».

Eis «a mensagem do Evangelho que se vê claramente: antes de curar aquele homem, Jesus perdoa os seus pecados». Assim o Senhor «vai à recriação, recria aquele homem de pecador em justo: recria-o como justo». Em síntese, «renova-o e isto escandaliza». Por isso «os doutores da lei começam a discutir, a murmurar: “Quem é ele que faz isto? Com que autoridade o faz?”». Jesus escandalizava» porque «é capaz de nos mudar — a nós pecadores — em pessoas novas». Precisamente isto intuiu Madalena quando foi ter com Ele, chorou e lavou os seus pés com as próprias lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos». Ela «intuiu nele o curador da sua chaga: era uma mulher sadia, tinha saúde, mas possuía uma chaga dentro, era uma pecadora». Assim «intuiu que aquele homem podia curar não só o corpo, mas a ferida da alma: podia recriá-la». Mas «para isto é necessária muita fé». A ponto que para o entender, «rezamos hoje ao Senhor na prece da coleta, a fim de que nos ajude a prepara-nos para o Natal com grande fé».

«Para a cura da alma, a cura existencial, a recriação que traz Jesus, serve uma grande fé, não é fácil». E a tal propósito o Papa referiu-se a um diálogo evangélico: «“Tudo é possível para quem crê” disse Jesus ao pai daquele menino após a transfiguração; “Creio, Senhor, mas ajuda-me a ter mais fé” disse o pobre homem». Também ele entendeu «que havia algo mais». «Ser transformado: esta é a graça da saúde que traz Jesus», acrescentou o Pontífice: «Muitas vezes, quando pensamos nisto, dizemos: “Não aguento!”», porque «começar uma nova vida, deixar-me transformar, recriar por Jesus é muito difícil». O próprio «Isaías profetiza: “Robustecei as mãos fracas, fortalecei os joelhos vacilantes. Dizei aos desanimados: Coragem, não temais! Eis o vosso Deus”».

Eis por que razão «“coragem” é a palavra de Deus: “Coragem, deixai-vos recriar”». Portanto, «não só curar, mas recriar: recriar o coração: todos somos pecadores, mas olha para a raiz do teu pecado e que o Senhor vá até lá e a recrie; e aquela raiz amarga florescerá com obras de justiça; e tu serás um homem novo, uma mulher nova». Depois, Francisco alertou contra a tentação de não nos deixarmos recriar pelo Senhor, limitando-nos a reconhecer que «sim, tenho pecados», mas «vou, confesso-me, duas palavrinhas e depois continuo na mesma». Em síntese, «só duas pinceladas de verniz e pensamos que a história já terminou». Mas não, trata-se de reconhecer «os meus pecados, com nome e sobrenome: fiz isto, isso e aquilo, e envergonho-me no fundo do coração». Assim «abro o coração: “Senhor, o único que tenho, recria-me!”». Só deste modo «teremos a coragem de ir com fé autêntica — como pedimos — rumo ao Natal». Sem nunca procurar «esconder a gravidade dos nossos pecados».

O Papa quis também dar um exemplo concreto a propósito do pecado da inveja, sugerindo a quem admite que a teve só «um pouco», a pensar que é «algo muito feio, como o veneno da serpente», porque se procura «destruir o outro». Por isso, é oportuno «ir até ao fundo dos nossos pecados e depois entregá-los ao Senhor, para que os cancele e nos ajude a ir em frente com fé». Antes de retomar a celebração, o Papa contou «uma história: um grande santo, estudioso da Bíblia, tinha um caráter demasiado forte, com muitos ímpetos de ira». Mas «sempre pedia perdão ao Senhor, fazia muita penitência e oferecia ao Senhor muitas renúncias e sacrifícios». Aquele «santo, falando com o Senhor, dizia: “Estás contente, Senhor?” — “Não!” — “Mas dei-te tudo!” — “Não, falta algo”. Então o pobre homem fazia mais uma penitência, mais uma oração, mais uma vigília: “Dei-te isto, Senhor, está bem?” — “Não, falta algo” — “Mas o que falta Senhor?” — “Faltam os teus pecados, dá-me os teus pecados!”». É precisamente isto, concluiu o Pontífice, «que hoje o Senhor nos pede: “Coragem, dá-me os teus pecados e eu farei de ti um homem novo, uma mulher nova”». Que «o Senhor — auspiciou — nos dê fé para crer em tudo isto».

 


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