Index   Back Top Print

[ PT ]

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

A alegria de ser perdoado

Quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 02 de 11 de janeiro de 2018

O cristão deve ser sempre testemunha de alegria; por isso, nunca pode ter «cara de velório»: para o Papa Francisco, esta foi a mensagem da liturgia de 21 de dezembro, como o ressaltou na homilia da missa matutina celebrada em Santa Marta, frisando que se trata de «uma mensagem de esperança, mas também de grande alegria: “Alegra-te, grita de alegria — diz o profeta — exulta e aclama com todo o coração”, rejubila».

A referência é ao trecho de Sofonias (3, 14-17), proclamado na primeira leitura: «Não é a alegria — explicou — de uma festa; é uma alegria que vem de dentro e nos convida, como Igreja, a encontrar o júbilo que nos oferece a redenção do Senhor: “Alegra-te, grita de alegria, exulta e aclama com todo o coração”». A propósito, o Papa convidou a pensar «no salmo que recorda a libertação do povo da Babilónia, o qual diz: “Mas o nosso coração estava repleto de alegria, a boca encheu-se de riso”», porque «a alegria que nos convida a ter hoje é uma boca de sorriso, de riso».

Sucessivamente, Francisco indicou «três pontos ligados a esta alegria», sugeridos pela primeira leitura. Antes de tudo, «“rejubila, alegra-te, grita de alegria porque o Senhor revogou a tua condenação”. “Revogou a tua condenação”»; ou seja, «perdoou-te, não és culpado, Ele esqueceu-se de tudo; alegra-te Ele perdoou-te». Às vezes, «sabemos que fomos perdoados», mas há uma incapacidade de o demonstrar: preferimos levar uma «vida tíbia». Mas «se foste perdoado, foste curado, alegra-te!», exortou. De resto, «a alegria cristã é esta, esta é a raiz própria da alegria cristã».

Como de costume, Francisco citou alguns exemplos concretos: «Pensemos num preso, que lhe é comutada a pena. Não consegue acreditar, não o esperava e alegra-se: “Perdoaram-me!”». Ou então «recordemos muitas vezes os doentes curados por Jesus no Evangelho, aqueles paralíticos que... “Levanta-te, caminha”, e pegavam na maca e iam embora jubilosos». Mas infelizmente, como cristãos, muitas vezes «não estamos conscientes do perdão da redenção, da justificação que Jesus nos trouxe: fomos perdoados!». A ponto que, recordou, «um filósofo criticava os cristãos, dizia-se agnóstico ou ateu, não tenho certeza, mas criticava os cristãos, dizendo: “Mas eles — os cristãos — dizem que têm um Redentor; acreditarei no Redentor, quando eles tiverem a cara de remidos, alegres por terem sido redimidos”».

Mas, observou, «se tens a cara de funeral, como podem crer que és remido, que os teus pecados foram perdoados?». Portanto, «este é o primeiro ponto, a primeira mensagem da liturgia de hoje: és um perdoado, cada um de nós foi perdoado». E convidou: «Recebe este perdão e vai em frente com alegria. “Mas sou pecador...”. Sim, mas se Ele nos perdoou pela raiz, perdoar-nos-á depois aquilo que todos fizermos por debilidade. Deus é o Deus do perdão, nunca o esqueçais, e tende o rosto de remidos, alegres».

Quanto ao segundo ponto, o Papa voltou a propor o trecho onde o profeta exorta: «Alegra-te porque o rei de Israel, o Senhor, está no meio de ti, e já não temerás desventura alguma». Portanto, é preciso que sejamos «não só alegres, porque fomos perdoados, mas jubilosos porque o Senhor caminha ao nosso lado, está no meio de nós; está no meio das nossas provações e dificuldades, da nossa vida e nas nossas alegrias; está no meio de tudo. O Senhor está connosco, caminha connosco, desde o momento que chamou o nosso pai Abraão». E em relação ao «Deus que caminha connosco», o Papa observou que «é bom, durante o dia, dirigir algumas palavras ao Senhor que está ao nosso lado, que está na nossa vida: “Olha, Senhor, como isto é bonito, olha, Senhor, estas dificuldades, isto e aquilo...”». É bom, acrescentou, «falar porque Ele está no meio de nós, no meio do nosso povo e da minha vida, e é por isso que o profeta nos diz: “Alegra-te, salta, grita e dança de alegria”».

Finalmente, quanto ao terceiro aspeto, o Papa realçou que Sofonias «nos diz mais uma coisa: “Haverá desventuras na vida, mas tu, por seres um perdoado e porque o Senhor está no meio de ti — que dizes? Terceiro: — não desanimes”». Com efeito, «aquele pessimismo da vida não é cristão. Nasce de uma raiz que não está consciente de ter sido perdoada, nasce de uma raiz que nunca sentiu as carícias de Deus». Em contrapartida, «o Evangelho faz-nos ver esta alegria: “Maria jubilosa levantou-se e foi à pressa”», escreve Lucas (1, 39-45). Sim, «a alegria traz-nos também a pressa; sempre, porque a graça do Espírito Santo não conhece a lentidão. O Espírito Santo vai sempre à pressa, impele-nos sempre: ir em frente; como o vento na vela, na barca... Vai em frente, ânimo».

Sempre com o olhar dirigido ao episódio evangélico do dia, o Papa deu ênfase à constatação de que «Maria, cheia do Espírito Santo, encontra a outra mulher; e aquela mulher», Isabel, «ao ouvir a saudação de Maria recebe a plenitude do Espírito Santo. E também ela rejubila, e não só ela: o menino estremeceu no seu seio», disse, referindo-se à figura de João Batista. Em síntese, concluiu o Papa, «esta é a alegria que a Igreja nos transmite: por favor, sejamos cristãos alegres, envidemos todo o esforço para mostrar que cremos que somos remidos, que o Senhor nos perdoou tudo e, se cairmos, Ele perdoar-nos-á porque é o Deus do perdão; que o Senhor está no meio de nós e não nos deixará desanimar». Porque «esta é a mensagem de hoje: “Levanta-te”. Aquele “Levanta-te” de Jesus aos doentes: “Levanta-te e caminha, grita de alegria, alegra-te, exulta e aclama com todo o coração”».

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana