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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS MEMBROS DO XXVI CAPÍTULO GERAL
DOS SALESIANOS DE DOM BOSCO

Segunda-feira, 30 de Março de 2008

 

Eminência
Queridos Membros do Capítulo-Geral
da Congregação Salesiana

É-me grato encontrar-me convosco hoje enquanto os vossos trabalhos capitulares já estão a chegar à sua fase conclusiva. Agradeço antes de tudo ao Reitor-Mor, Dom Pascual Chávez Villanueva, os sentimentos que expressou em nome de todos vós, confirmando a vontade da Congregação de trabalhar sempre com a Igreja e pela Igreja, em plena sintonia com o Sucessor de Pedro. Agradeço-lhe também o serviço generoso desempenhado no sexénio passado e apresento-lhe os meus bons votos pelo cargo que lhe acabou de ser renovado. Saúdo também os membros do novo Conselho Geral, que ajudarão o Reitor-Mor na sua tarefa de animação e de governo de toda a vossa Congregação.

Na mensagem dirigida no início dos vossos trabalhos ao Reitor-Mor, e por seu intermédio a vós Capitulares, eu tinha expressado algumas expectativas que a Igreja tem nos Salesianos e oferecido algumas considerações para o caminho da vossa Congregação. Hoje pretendo responder e aprofundar algumas destas indicações, também à luz do trabalho que estais a desempenhar. O vosso XXVI Capítulo Geral situa-se num período de grandes mudanças sociais, económicas, políticas; de acentuados problemas éticos, culturais e ambientais; de conflitos ainda sem solução entre etnias e nações. Neste nosso tempo existem, por outro lado, comunicações mais intensas entre os povos, novas possibilidades de conhecimento e de diálogo, um confronto mais vivo sobre os valores espirituais que dão sentido à existência. Em particular, os apelos que os jovens nos fazem, sobretudo as suas perguntas sobre os problemas básicos, fazem referência aos desejos intensos de vida plena, de amor autêntico, de liberdade construtiva que eles sentem. São situações que interpelam profundamente a Igreja e a sua capacidade de anunciar hoje o Evangelho de Cristo com toda a sua carga de esperança. Por isso faço vivos votos por que toda a Congregação salesiana, graças também aos resultados do vosso Capítulo Geral, possa viver com renovado impulso e fervor a missão pela qual o Espírito Santo, pela intervenção materna de Maria Auxiliadora, a suscitou na Igreja. Desejo hoje encorajar a vós e a todos os Salesianos a continuar pelo caminho desta missão, em plena fidelidade ao vosso carisma originário, no contexto já do iminente bicentenário do nascimento de Dom Bosco.

Com o tema "Da mihi animas, cetera tolle" o vosso Capítulo Geral propôs-se reavivar a paixão apostólica em cada Salesiano e em toda a Congregação. Isto ajudará a caracterizar melhor o perfil do Salesiano, de modo que ele se torne cada vez mais consciente da sua identidade de pessoa consagrada "para glória de Deus" e seja cada vez mais inflamado pelo impulso pastoral "para a salvação das almas". Dom Bosco quis que a continuidade do seu carisma na Igreja fosse garantida pela opção pela vida consagrada. Também hoje o movimento salesiano pode crescer em fidelidade carismática unicamente se no seu interior continua a permanecer um núcleo forte e vital de pessoas consagradas. Por isso, a fim de enrobustecer a identidade de toda a Congregação, o vosso primeiro compromisso consiste em fortalecer a vocação de cada Salesiano para viver em plenitude a fidelidade à sua chamada à vida consagrada. Toda a Congregação deve tender para ser continuamente "memória vivente do modo de ser e de agir de Jesus como verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos" (Vita consecrata, 22). Cristo seja o centro da vossa vida! É preciso deixar-se alcançar por Ele e é preciso voltar a partir sempre d'Ele. Tudo o mais seja considerado "uma perda face à sublimidade do conhecimento de Jesus" e tudo seja considerado "esterco, a fim de ganhar Cristo" (Fl 3, 8). Nasce daqui o amor fervoroso ao Senhor Jesus, a aspiração de se identificar com Ele assumindo os seus sentimentos e a forma de vida, o abandono confiante ao Pai, a dedicação à missão evangelizadora, que devem caracterizar todos os salesianos: eles devem sentir-se escolhidos para se porem no seguimento de Cristo obediente, pobre e casto, segundo os ensinamentos e os exemplos de Dom Bosco.

O processo de secularização, que aumenta nas culturas contemporâneas, infelizmente não poupa nem sequer as comunidades de vida consagrada. É preciso por isso vigiar sobre formas e estilos de vida que arriscam tornar débil o testemunho evangélico, ineficiente a acção pastoral e frágil a resposta vocacional. Por isso, peço-vos que ajudeis os vossos Irmãos a conservar e a reavivar a fidelidade à chamada. A oração dirigida por Jesus ao Pai antes da sua Paixão, para que guardasse no seu nome todos os discípulos que lhe tinha dado e para que nenhum deles se perdesse (cf. Jo 17, 11-12), é válida em particular para as vocações de especial consagração. Para isto "a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa" da vossa Congregação (Vita consecrata, 93). A Palavra de Deus e a Liturgia sejam as fontes da espiritualidade salesiana! Em particular a lectio divina, praticada quotidianamente por todos os Salesianos, e a Eucaristia, celebrada todos os dias na comunidade, sejam o seu alimento e apoio. Daqui surgirá a espiritualidade autêntica da dedicação apostólica e da comunhão eclesial. A fidelidade ao Evangelho vivido sine glossa e à vossa Regra de vida, em particular um teor de vida austero e a pobreza evangélica praticada de modo coerente, o amor fiel à Igreja e a doação generosa de vós mesmos aos jovens, especialmente aos mais necessitados e desfavorecidos, serão garantia do florescimento da vossa Congregação.

Dom Bosco é um exemplo resplandecente de uma vida marcada pela paixão apostólica, vivida ao serviço da Igreja dentro da Congregação e da Família salesiana. Na escola de São José Cafasso, o vosso Fundador aprendeu a assumir o mote "Da mihi animas, cetera tolle" como síntese de um modelo de acção pastoral inspirado na figura e na espiritualidade de São Francisco de Sales. O horizonte no qual se coloca este modelo é o da primazia absoluta do amor de Deus, um amor que chega a plasmar personalidades fervorosas, desejosas de contribuir para a missão de Cristo, a fim de acender toda a terra com o fogo do seu amor (cf. Lc 12, 49). Ao lado do fervor do amor de Deus, outra característica do modelo salesiano é a consciência do valor inestimável das "almas". Esta percepção gera, por contraste, um sentido agudo do pecado e das suas devastantes consequências no tempo e na eternidade. O apóstolo está chamado a colaborar na acção redentora do Salvador, para que ninguém se desvie. "Salvar as almas", segundo a palavra de São Pedro, foi portanto a única razão de vida de Dom Bosco. O Beato Michele Rua, seu primeiro sucessor, sintetizou assim toda a vida do vosso amado Pai e Fundador: "Não moveu passo algum, não pronunciou palavras, não empreendeu obras que não tivessem por finalidade a salvação da juventude... Realmente a sua única preocupação eram as almas". Assim o Beato Michele Rua falou de Dom Bosco.

Também hoje é urgente alimentar no coração de cada Salesiano esta paixão. Ele não terá assim receio de se mover com audácia nos âmbitos mais difíceis da acção evangelizadora a favor dos jovens, especialmente dos mais pobres material e espiritualmente. Terá a paciência e a coragem de propor aos jovens que vivam a mesma totalidade de dedicação na vida consagrada. Ele terá o coração aberto para encontrar as novas necessidades dos jovens e ouvir a sua invocação de ajuda, deixando eventualmente a outros os campos já consolidados de intervenção pastoral. O Salesiano enfrentará por isso as exigências totalizantes da missão com uma vida simples, pobre e austera, na partilha das mesmas condições dos pobres e terá a alegria de dar mais a quem na vida teve menos. A paixão apostólica far-se-á contagiosa e atrairá também outros. O Salesiano torna-se portanto promotor do sentido apostólico, ajudando antes de tudo os jovens a conhecer e a amar o Senhor Jesus, a deixar-se fascinar por Ele, a cultivar o compromisso evangelizador, a querer fazer o bem aos próprios coetâneos, e a ser apóstolos de outros jovens, como São Domingos Sávio, a Beata Laura Vicuña e o Beato Zeferino Namuncurá e os cinco jovens Beatos Mártires do oratório de Poznan. Queridos Salesianos, seja vosso compromisso formar leigos com um coração apostólico, convidando todos a caminhar na santidade de vida que faz amadurecer discípulos corajosos e apóstolos autênticos.

Na mensagem que dirigi ao Reitor-Mor no início do vosso Capítulo Geral quis entregar idealmente a todos os Salesianos a carta por mim recentemente enviada aos fiéis de Roma, sobre a preocupação daquela a que chamei uma grande emergência educativa. "Educar nunca foi fácil e hoje parece tornar-se cada vez mais difícil: por isso não poucos pais e professores se sentem tentados a renunciar à sua tarefa, e não conseguem sequer compreender qual seja, verdadeiramente, a missão que lhes está confiada. De facto, demasiadas incertezas e dúvidas circulam na nossa sociedade e na nossa cultura, demasiadas imagens deturpadas são veiculadas pelos meios de comunicação social. Assim, torna-se difícil propor às novas gerações algo de válido e de certo, regras de comportamento e objectivos pelos quais valha a pena dispender a própria vida" (Discurso na entrega à Diocese de Roma da Carta sobre a tarefa urgente da educação, 23 de Fevereiro de 2008). Na realidade, o aspecto mais grave da emergência educativa é o sentido de desencorajamento que invade muitos educadores, em particular pais e professores, face às dificuldades que a sua tarefa hoje apresenta. De facto, assim escrevi na citada carta: "Alma da educação pode ser apenas uma esperança fiável. Hoje a nossa esperança é insidiada de muitas partes, e arriscamos de nos tornarmos nós também, como os antigos pagãos, homens "sem esperança e sem Deus neste mundo", como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso (2, 12). Nasce precisamente disto a dificuldade talvez mais profunda para uma verdadeira obra educativa: na raiz da crise da educação há de facto uma crise de confiança na vida", que, no fundo, não é mais do que desconfiança naquele Deus que nos chamou à vida. Na educação dos jovens é extremamente importante que a família seja um sujeito activo. Ela encontra-se muitas vezes em dificuldade ao enfrentar os desafios da educação; outras vezes é incapaz de oferecer a sua contribuição específica, ou então é ausente. A predilecção e o compromisso a favor dos jovens, que são característica do carisma de Dom Bosco, devem traduzir-se num igual compromisso pelo envolvimento e formação das famílias. Portanto, a vossa pastoral juvenil deve abrir-se decididamente à pastoral familiar. Ocupar-se das famílias não é subtrair forças ao trabalho pelos jovens, aliás é torná-lo mais duradouro e mais eficaz. Por isso encorajo-vos a aprofundar as formas deste compromisso, sobre o qual já vos encaminhastes; isto será também em benefício da educação e evangelização dos jovens.

Face a estas múltiplas tarefas é necessário que a vossa Congregação garanta, especialmente aos seus membros, uma formação sólida. A Igreja tem urgente necessidade de pessoas de fé sólida e profunda, de preparação cultural actualizada, de genuína sensibilidade humana e de grande sentido pastoral. Ela necessita de pessoas consagradas, que dediquem a sua vida a estar nestas fronteiras. Só assim se tornará possível evangelizar eficazmente. Anunciar o Deus de Jesus Cristo e assim a felicidade da vida. Portanto, a vossa Congregação deve dedicar-se a este compromisso formativo como sua prioridade. Ela deve continuar a formar com grande cuidado os seus membros sem se contentar com a mediocridade, superando as dificuldades da fragilidade vocacional, favorecendo um sólido acompanhamento espiritual e garantindo na formação permanente a qualificação educativa e pastoral.

Concluo dando graças a Deus pela presença do vosso carisma ao serviço da Igreja. Encorajo-vos na realização de metas que o vosso Capítulo Geral proporá a toda a Congregação. Garanto-vos a minha oração para a concretização do que o Espírito vos sugerir pelo bem dos jovens, das famílias e de todos os leigos comprometidos no espírito e na missão de Dom Bosco. Com estes sentimentos concedo agora a todos vós, em penhor de abundantes dons celestes, a Bênção Apostólica.

 



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