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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Medo de ressuscitar

Sexta-feira, 19 de Setembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 39 de 25 de Setembro de 2014

A identidade cristã cumpre-se para nós unicamente com a ressurreição, que será «como um despertar». Por isso o Papa Francisco convidou a «estar com o Senhor», a caminhar com ele como discípulos, de modo que a ressurreição comece aqui e agora. Mas «sem medo da transformação que o nosso corpo terá no final do nosso percurso cristão».

Foi precisamente a essência da ressurreição que o Pontífice focalizou na homilia, partindo do trecho da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (15, 12-20) proposta pela liturgia. O apóstolo, explicou, «devia fazer uma correcção difícil, naqueles tempos: a da ressurreição». Com efeito «os cristãos pensavam que sim, que Cristo ressuscitou, foi embora, acabou a sua missão, ajuda-nos do céu, acompanha-nos»; mas «não era muito claro» para eles «a consequência com isto relacionada, de que também nós ressuscitaremos».

Na realidade, afirmou Francisco, «eles pensavam de outra forma: sim, os mortos são justificados, não irão para o inferno, mas irão um pouco para o cosmos, para o ar, ali, a alma diante de Deus: só a alma». Mas «não compreendiam, a ressurreição não entrava na sua mente». «Há uma resistência forte» observou o Papa, e «isto desde os primeiros dias». Assim o próprio «Pedro, que tinha contemplado Jesus na sua glória no Tabor, na manhã da ressurreição foi apressadamente ao sepulcro» pensando que tivessem roubado o corpo do Senhor. Isto porque «não conseguiam entender uma ressurreição real»: a sua visão «teológica», explicou o Pontífice, «não ia além do triunfo». «Não compreendiam aquela passagem da morte para a vida através da ressurreição», reafirmou o bispo de Roma. «Nem sequer Maria Madalena, que amava tanto o Senhor», o tinha compreendido.

O Pontífice fez notar que «há uma resistência à transformação, a resistência a que a obra do Espírito, que recebemos no Baptismo, nos transforme profundamente, até à ressurreição». É mais fácil imaginar uma espécie de «panteísmo cósmico». «Com a ressurreição todos nós seremos transformados. Eis o futuro que nos espera e isto leva-nos a fazer muita resistência à transformação do nosso corpo», mas «também resistência à identidade cristã». E acrescentou: «Talvez não tenhamos tanto medo do apocalipse do maligno, do anti-Cristo que deve vir primeiro».

Nós ressuscitaremos para estar com o Senhor — confirmou o Papa — e a ressurreição começa aqui, como discípulos, se andarmos com o Senhor, se caminharmos com o Senhor. Este é o caminho rumo à ressurreição. E se estivermos habituados a andar com o Senhor, o medo da transformação do nosso corpo desaparece». Na realidade a ressurreição «será como um despertar», esclareceu Francisco repetindo as palavras do salmo 16: «Ao despertar saciar-me-ei com a tua imagem». Também «Job nos diz: eu vê-lo-ei com os meus olhos. Não espiritualmente: com o meu corpo, com os meus olhos transformados».

Por isso não devemos «ter medo da identidade cristã», que «não acaba com o triunfo temporal, não termina com uma bela missão». Porque «a identidade cristã cumpre-se com a ressurreição dos nossos corpos, com a nossa ressurreição: é ali o fim, para nos saciar-mos com a imagem do Senhor».

Por isso, afirmou o Papa, «a identidade cristã é um caminho, é um caminho no qual se anda com o Senhor». Assim «também toda a vida é chamada a estar com o Senhor para permanecer, estar com o Senhor, no final, depois da voz do arcanjo, depois do toque da trombeta». E a este propósito o Papa quis recordar em conclusão que são Paulo, na Carta aos tessalonicenses, «remata este raciocínio com a seguinte frase: “Consolemo-nos com esta verdade”».

 


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