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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Deus das surpresas

Segunda-feira, 13 de Outubro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 42 de 16 de Outubro de 2014

«Um coração que ame a lei, porque a lei é de Deus», mas «que ame também as surpresas de Deus», pois a sua «lei santa não é fim em si mesma»: é um caminho, «é uma pedagogia que nos leva a Jesus Cristo». Foi quanto convidou a pedir ao Senhor o Papa Francisco na oração.

Na homilia o Pontífice deteve-se principalmente sobre o trecho do Evangelho de Lucas (11, 29-32) no qual Jesus define a multidão que se apinhava para o ouvir como «uma geração malvada» porque «procura um sinal». Segundo o bispo de Roma «é evidente que Jesus fala aos doutores da lei» que «muitas vezes no Evangelho» lhe pedem «um sinal». Com efeito, eles «não viam muitos sinais de Jesus». Mas precisamente por esta razão «Jesus os repreende» em diversas ocasiões, recorrendo à imagem da árvore da figueira.

O Papa Francisco exortou a questionar-se sobre o motivo pelo qual os doutores da lei não compreendiam os sinais dos tempos, invocando um sinal extraordinário. E propôs algumas respostas: a primeira é «porque eram fechados. Fechados no seu sistema, tinham elaborado muito bem a lei, uma obra-prima». Mas Jesus surpreende-os fazendo «coisas estranhas», como por exemplo «acompanhar com os pecadores, comer com os publicanos». E os doutores da lei «não gostavam disso, era perigoso; estava em perigo a doutrina, que eles, os teólogos, tinham elaborado ao longo dos séculos».

A este propósito, o bispo de Roma, reconheceu que se tratava de uma lei «feita por amor, para ser fiéis a Deus», mas já se tinha tornado um sistema normativo fechado. Eles «simplesmente tinham esquecido a história. Tinham esquecido que Deus é o Deus da lei», mas é também «o Deus das surpresas. E que muitas vezes Ele reservou surpresas ao seu povo»: é suficiente pensar «no modo como os salvou» no mar vermelho da escravidão do Egipto, recordou o Papa.

Não obstante tudo, eles «não compreendiam que Deus é sempre novo; nunca se renega a si mesmo, nunca afirma que o que disse estava errado, nunca: mas surpreende sempre.

A segunda resposta à pergunta inicial, observou o Pontífice, deve ser referida ao facto de que eles «tinham esquecido que eram um povo a caminho. E quando alguém está a caminho encontra sempre coisas novas, algo que não conhece. E estas coisas deviam assumi-las num coração fiel ao Senhor, na lei». Mas, também neste caso, «um caminho não é absoluto em si mesmo, é o caminho rumo a um ponto: rumo à manifestação definitiva do Senhor». Aliás, toda «a vida é um caminho rumo à plenitude de Jesus Cristo, quando voltar pela segunda vez».

Em síntese, reafirmou o Papa Francisco, reiterando as palavras do trecho evangélico e esclarecendo «o sinal da ressurreição, da glória, daquela escatologia em direcção à qual estamos a caminho». Daqui o convite final a reflectir sobre este tema, a questionar-se sobre dois aspectos, perguntando-se: «Eu estou apegado às minhas coisas, às minhas ideias, fechado? Ou sou aberto ao Deus das surpresas?». E ainda: «Sou uma pessoa firme ou uma pessoa que caminha?». E concluiu, «acredito em Jesus Cristo e no que Ele fez», ou seja «morreu, ressuscitou... acredito que o caminho vai em frente rumo à maturidade, rumo à manifestação de glória do Senhor? Sou capaz de compreender os sinais dos tempos e ser fiel à voz do Senhor que se manifesta neles?».

 


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