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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

A salvação é um presente

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 13 de 27 de Março de 2014

A salvação «não se compra nem se vende» porque «é um presente totalmente gratuito». Mas para a receber Deus pede que tenhamos «um coração humilde, dócil, obediente». Foi quanto disse o Papa Francisco, na missa celebrada na manhã de terça-feira, 25 de Março, na capela da Casa de Santa Marta, convidando «a fazer festa e a dar graças a Deus» porque «hoje comemoramos uma etapa definitiva no caminho» rumo à salvação «que o homem percorreu desde o dia em que saiu do paraíso».

Precisamente «por esta razão hoje rejubilamos: a festa deste caminho de uma mãe para outra, de um pai para outro», explicou o Pontífice. E convidou a contemplar «o ícone de Eva e Adão, o ícone de Maria e Jesus», e a olhar para o decorrer da história com Deus que caminha sempre com o seu povo. Assim, prosseguiu, «hoje podemos abraçar o Pai que, graças ao sangue do seu Filho, se fez como um de nós, e nos salva: este Pai que nos espera todos os dias». Daqui o convite a dizer «obrigado: obrigado, Senhor, porque hoje Tu nos dizes que nos ofereceste a salvação».

Em síntese, o Senhor quer «abrandar o nosso coração», para que possa receber «aquela promessa que Ele fez no paraíso: por um homem entrou o pecado, por outro Homem veio a salvação». E precisamente este «caminho tão longo» ajudou «todos nós a ter um coração mais humano, mais próximo de Deus; não muito soberbo nem muito pretensioso».

O que significa então «o caminho da humildade, da humilhação»? Significa simplesmente, conclui o Papa Francisco, «dizer: eu sou homem, eu sou mulher e Tu és Deus! E ir em frente, na presença de Deus, como homem, como mulher na obediência e na docilidade do coração».

É no caminho da marginalização que Deus nos encontra e nos salva. Recordou o Papa Francisco na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 24 de Março, na capela da Casa de Santa Marta, focalizando a sua homilia sobre uma chamada forte à humildade.

Para explicar o que significa estar «nas margens» a fim de ser salvo, o Pontífice referiu-se à liturgia do dia, que apresenta dois trechos particularmente eloquentes, tirados do segundo Livro dos Reis (5, 1-15a) e do Evangelho de Lucas (4, 24-30). Na citação evangélica, observou o Santo Padre, Jesus afirma que não pode fazer milagres na sua Nazaré «devido à falta de fé»: precisamente ali, onde crescera, «não tinham fé». Jesus, acrescentou, diz exactamente: «Nenhum profeta é bem aceite na sua pátria». E recordou também a história de Naaman, o sírio, com o profeta Eliseu, narrada na primeira leitura, e a da viúva de Sidónia com o profeta Elias.

«Os leprosos e as viúvas naquele tempo eram marginalizados», frisou o Papa. Em particular, «as viúvas viviam graças à caridade pública, não viviam o dia-a-dia da sociedade», enquanto os leprosos deviam viver fora, distantes do povo.

Assim na sinagoga de Nazaré, narra o Evangelho, «Jesus diz que aqui não haverá milagre: aqui vós não aceitais o profeta, porque não tendes necessidade, sois demasiado seguros». Com efeito, as pessoas que Jesus tinha em frente «eram tão seguras na sua “fé”, tão seguras na sua observância dos mandamentos, a ponto de não precisar de outra salvação». Uma atitude que revela, explicou o Pontífice, «o drama da observância dos mandamentos sem fé: eu salvo-me sozinho, porque vou à sinagoga todos os sábados, procuro obedecer aos mandamentos»; e «que não me venha dizer que aquele leproso ou aquela viúva, aqueles marginalizados, são melhores do que eu!».

Mas a palavra de Jesus vai em sentido contrário. Ele diz: «Olha que se tu não te sentires às margens, não terás salvação! Esta é a humildade, o caminho da humildade: sentir-se muito marginalizado» a ponto de ter «necessidade da salvação do Senhor. E só Ele salva; não a nossa observância dos preceitos».

Contudo, este ensinamento de Jesus, lê-se ainda no trecho de Lucas, não agradou ao povo de Nazaré, a ponto que o queriam assassinar». É «a mesma ira» que sente também Naaman, o sírio, segundo quanto refere o Antigo Testamento. Para ser curado da lepra, explicou o bispo de Roma, Naaman «vai ter com o rei com muitos dons, com numerosas riquezas: sente-se seguro, é o chefe do exército». Mas o profeta Eliseu convida-o a marginalizar-se e a imergir-se «sete vezes» no rio Jordão. Um convite que, reconheceu o Papa, provavelmente lhe pareceu «um pouco ridículo». Naaman «sentiu-se humilhado, desprezado e foi-se embora», precisamente como «os da sinagoga de Nazaré».

Portanto, foi-lhe pedido «um gesto de humildade, que obedecesse como uma criança». Mas ele reagiu, precisamente, com desdém. Porém foram os seus colaboradores, com o bom senso, que «o ajudaram a marginalizar-se, a cumprir um acto de humildade». E do rio ele saiu curado da lepra.

Exactamente esta, sublinhou o Papa, é «a mensagem de hoje, nesta terceira semana de Quaresma: se quisermos ser salvos, devemos escolher a estrada da humildade, da humilhação». Pode servir como testemunho Maria, que «no seu cântico não diz que está contente porque Deus viu a sua virgindade, a sua bondade e a sua doçura, tantas virtudes que ela tinha», mas exulta «porque o Senhor viu a humildade da sua serva, a sua pequenez». É precisamente «a humildade que o Senhor vê».

Assim também nós, afirmou o Pontífice, «devemos aprender esta sabedoria de marginalizar-nos, para que o Senhor nos encontre». Com efeito, Deus «não nos encontrará no centro das nossas certezas. Não, o Senhor não vai ali. Ele encontrar-nos-á na marginalização, nos nossos pecados, nos nossos erros, nas nossas necessidades de sermos curados espiritualmente, de sermos salvos. Ali o Senhor nos encontrará».

E este — reiterou mais uma vez — «é o caminho da humildade». A humildade cristã não é uma virtude» que nos faz dizer «eu não sirvo para nada» e nos faz «esconder a soberba»; pelo contrário, «a humildade cristã é dizer a verdade: sou pecador, sou pecadora!». Em síntese, trata-se simplesmente de «dizer a verdade; e esta é a nossa verdade». Mas, concluiu o Papa, «há também outra verdade: Deus salva-nos! Mas sobretudo quando estamos marginalizados; não nos salva na nossa segurança».

Humildade e oração, na Igreja, são o antídoto contra as alterações da palavra de Deus e a tentação de se apoderar dela, interpretando-a a seu bel-prazer e engaiolando o Espírito Santo. É a síntese da meditação proposta pelo Pontífice na missa celebrada sexta-feira de manhã, 21 de Março.

Precisamente «durante estes dias de quaresma o Senhor torna-se próximo de nós e a Igreja conduz-nos rumo ao tríduo pascal. Rumo à morte e ressurreição de Jesus», disse o Papa referindo-se às duas leituras da liturgia, a primeira tirada do Génesis (37, 3-4.12-13.17-28), e a segunda do Evangelho de Mateus (21,33-43.45). Estamos diante, explicou, do «drama não do povo — porque o povo compreendia que Jesus era um grande profeta — mas de alguns chefes do povo, de alguns sacerdotes daquele tempo, dos doutores da lei, dos idosos que não estavam com o coração aberto à palavra de Deus». Com efeito, «sentiam Jesus mas em vez de ver nele a promessa de Deus, em vez de o reconhecer como um grande profeta, tinham medo».

Evoca a essencialidade da fé a meditação quaresmal proposta pelo Papa Francisco na missa celebrada na manhã de 20 de Março. Há uma palavra «mais do que mágica», capaz de abrir «a porta da esperança que nem sequer vemos» e restituir o nome a quem o perdeu por ter confiado apenas em si mesmo e nas forças humanas. Esta palavra é «Pai» e deve ser pronunciada com a certeza de ouvir a voz de Deus que nos responde chamando-nos «filhos». O Pontífice pediu «ao Senhor a graça da humildade, de olhar para Jesus como o Salvador que nos fala: fala a mim! Cada um de nós deve dizer: fala a mim!». E «quando lemos o Evangelho: fala a mim!». Eis então o motivo do convite a «abrir o coração ao Espírito Santo que dá força a esta palavra» e a «rezar, rezar tanto para que tenhamos a docilidade de receber esta palavra e obedecer-lhe».

 



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