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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

O único tesouro

Segunda-feira, 23 de Novembro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 48 de 26 de Novembro de 2015

O único tesouro da Igreja é Cristo, a ponto que ela corre o risco de se tornar «tíbia, medíocre e mundana» se, ao contrário, depositar a sua segurança «noutras realidades». Assim, convidando a repetir «Vem Senhor Jesus!», o Papa celebrou a missa na capela da Casa de Santa Marta.

«Ambas as leituras da liturgia de hoje» comentou imediatamente Francisco, referindo-se aos trechos do livro do profeta Daniel (1, 1-6.8-20) e do Evangelho de Lucas (21, 1-4) «falam-nos de pessoas necessitadas, especialmente na tradição de Israel: o estrangeiro e a viúva». E «o terceiro necessitado é o órfão».

«Os estrangeiros — explicou em relação à primeira leitura — eram os jovens trazidos da Babilónia: estavam distantes da sua terra e tinham decidido permanecer na fidelidade das suas tradições, à lei do Senhor». Mas «o personagem que mais chama a atenção, neste Evangelho, é a viúva». Na Bíblia, afirmou o Papa, «as viúvas aparecem muitas vezes, quer no Antigo quer no Novo Testamento». A viúva, prosseguiu Francisco, «é a mulher sozinha, sem marido que a proteja; a mulher que se deve arranjar como pode, que vive da caridade pública».

Em particular, disse o Pontífice, «a viúva deste trecho do Evangelho, que Jesus nos faz ver, era uma viúva que tinha esperança só no Senhor». E «quando Jesus viu aqueles que lançavam as ofertas no templo, viu-a que lançava só duas moedas, e disse: “Esta viúva, tão pobre, ofereceu mais do que todos. De facto, todos ofereceram parte do seu supérfluo. Ela, ao contrário, na sua miséria, ofereceu tudo o que tinha para viver”».

«Gosto de ver nas viúvas do Evangelho — afirmou o Papa — a imagem da “viuvez” da Igreja que espera a vinda de Jesus». Com efeito, «a Igreja é esposa de Jesus, e o seu Senhor é o seu único tesouro». E «a Igreja, quando é fiel, deixa tudo na expectativa do seu Senhor. Ao contrário, quando a Igreja não é fiel, ou não é muito fiel ou não tem muita fé no amor do seu Senhor, procura arranjar-se também com outras coisas, com outras seguranças, mais do mundo do que de Deus».

«As viúvas do Evangelho — continuou o Pontífice — transmitem-nos uma bonita mensagem de Jesus sobre a Igreja». Assim, «aquela mulher que saía de Naim com o féretro do filho: chorava, sozinha». Sim, «pessoas muito gentis acompanhavam-na, mas o seu coração estava sozinho!». É «a Igreja viúva que chora quando os seus filhos morrem para a vida de Jesus».

Depois, outra mulher «que, para defender os seus filhos, vai ter com o juiz iníquo: torna a sua vida impossível, batendo à sua porta todos os dias, dizendo, “faça justiça!”». E «no final aquele juiz faz justiça». «É a Igreja viúva que reza, intercede pelos seus filhos».

Mas «o coração da Igreja está sempre com o seu Esposo, com Jesus. Está nas alturas. Também a nossa alma, segundo os padres do deserto, se assemelha muito com a Igreja», esclareceu o Papa. E «quando a nossa alma, a nossa vida, estiver mais próxima de Jesus, afasta-se de muitas situações mundanas, que não servem, que não ajudam e nos distanciam de Jesus». Assim «é a nossa Igreja que procura o seu Esposo, espera o seu Esposo, espera aquele encontro, que chora pelos seus filhos, luta pelos seus filhos, dá tudo o que tem porque se interessa só do seu Esposo».

«Nestes últimos dias do ano litúrgico — frisou Francisco — far-nos-á bem questionar-nos se a nossa alma é como esta Igreja que deseja Jesus, se ela se dirige ao seu Esposo e diz: “Vem Senhor Jesus! Vem”». Ou se «deixamos de lado todas aquelas situações que não servem, não ajudam a fidelidade, como os jovens da primeira leitura deixaram de lado todas aquelas refeições, que não ajudavam a sua fidelidade».

«A “viuvez” da Igreja — explicou o Papa — refere-se ao facto de que a Igreja está à espera de Jesus, esta é uma realidade: pode ser uma Igreja fiel a esta expectativa, esperando com confiança a volta do esposo ou uma Igreja infiel a esta “viuvez”, procurando segurança noutras realidades... a Igreja tíbia, medíocre, mundana». E Francisco sugeriu, concluindo, «pensemos também nas nossas almas. Elas procuram segurança só no Senhor ou buscam outras seguranças que não agradam ao Senhor?». Assim, «nestes dias, far-nos-á bem repetir o último versículo da Bíblia: “Vem Senhor Jesus!”».

 


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