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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Quando um homem cai

Sexta-feira, 15 de abril de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 16 de 21 de abril de 2016

«Levanta-te e vai»: é o convite feito pelo Senhor a Saulo, que caiu por terra no caminho de Damasco, e a Ananias enviado a batizar o perseguidor convertido. «Levanta-te e vai», disse o Papa, é um convite também para cada um de nós, porque um cristão «deve estar de pé e com a cabeça levantada», enquanto «um homem com o coração fechado é um homem por terra». Com uma meditação sobre o trecho bíblico da conversão de Saulo, tirado dos Atos dos Apóstolos (9, 1-20) Francisco voltou a falar da importância da docilidade à ação do Espírito Santo e a refletir «sobre a atitude daquelas pessoas que têm o coração fechado, o coração endurecido, o coração soberbo».

A liturgia de quinta-feira 14 evidenciou «que tanto o apóstolo Filipe como o ministro da rainha tinham um coração aberto à voz do Espírito». Nesta sexta-feira da terceira semana de Páscoa, ao contrário, confrontamo-nos com a história de Saulo, «história de um homem que deixa que Deus transforme o seu coração: a transformação de um homem de coração fechado, endurecido, num homem de coração dócil ao Espírito Santo».

Saulo, explicou o Pontífice, «estava presente no martírio de Estêvão» e «concordava». Ele era «um jovem, forte, corajoso, zeloso na sua fé, mas com o coração fechado»: de facto, não só «não queria ouvir falar de Jesus Cristo» mas foi além e começou «a perseguir os cristãos». Por isso, seguro de si, pediu autorização para «fazer o mesmo» em Damasco.

Quando estava em viagem, prosseguiu o Papa resumindo o episódio, «de repente ficou envolvido por uma luz do céu» e, «caindo por terra ouviu a voz». Precisamente ele, «Saulo o forte, o corajoso, estava por terra». E ali em baixo, continuou Francisco, «compreende a sua verdade; compreende que não era um homem como Deus queria, porque Deus nos criou, a todos nós, para estar em pé, com a cabeça levantada».

A este ponto o Senhor pronuncia «uma palavra-chave, a mesma que tinha dito a Filipe para lhe confiar a missão de ir visitar aquele prosélito etíope: «Levanta-te e vai!». Não só, mas a Saulo, homem corajoso, que sabia tudo, é comunicado: «Entra na cidade e dir-te-ão o que deves fazer». Como para dizer: «Tu tens ainda que aprender». Uma humilhação. E não era tudo.

Ao levantar-se, Saulo «apercebe-se de que estava cego» e então «deixa-se guiar». Precisamente aqui, frisou o Papa, «começou a abrir-se o seu coração», obrigado a ser guiado pela mão no caminho de Damasco. «Este homem, estava por terra» e «compreendeu imediatamente que tinha que aceitar esta humilhação». A este propósito o Pontífice explicou que é precisamente «a humilhação o caminho para abrir o coração». De facto, «quando o Senhor nos envia humilhações ou permite que elas aconteçam, é precisamente para isto: para que o coração se abra, seja dócil» e «se converta ao Senhor Jesus». Por conseguinte, a narração desloca-se para a figura de Ananias. Também a ele o Senhor disse: «Vai. Levanta-te e vai». Assim o discípulo «foi, entrou na casa, impôs-lhe as mãos e disse: “Saulo, irmão, enviou-me a ti o Senhor para que tu readquiras a vista e sejas colmado de Espírito Santo”». Uma frase que encerra um pormenor fundamental: «o protagonista destas histórias — observou Francisco — não são nem os doutores da lei, nem Estêvão, nem Filipe, nem o eunuco, nem Saulo... é o Espírito Santo. Protagonista da Igreja é o Espírito Santo que conduz o povo de Deus».

A este ponto, nos Atos lê-se que «caíram dos olhos de Saulo como que umas escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado»: a sua «dureza de coração», com a passagem da humilhação, tinha-se tornado «docilidade ao Espírito Santo». Ele, «que se considerava o detentor da verdade e perseguia os cristãos, recebe a graça do Senhor de ver e compreender a sua verdade: “És um homem caído por terra mas deves levantar-te!”».

Trata-se de uma lição para todos: «é bom — disse o Papa — ver como o Senhor é capaz de transformar os corações e de fazer com que um coração endurecido, teimoso se torne um coração dócil ao Espírito». Mas, acrescentou, é preciso que «não esqueçamos aquelas palavras-chave». Antes de mais: «Levanta-te», porque «um cristão deve estar de pé e com a cabeça levantada». Depois: «Vai», porque «um cristão deve ir, não pode ficar fechado em si mesmo». Por fim: «Deixa-te guiar», tal como Paulo que «se deixou guiar, como uma criança; entregou-se às mãos de outrem, que não conhecia». Em tudo isto, explicou o Pontífice, há a «obra do Espírito Santo».

Esta mensagem diz respeito a todos nós, porque todos «temos coisas duras no coração»: quem «não as tem», acrescentou o Papa, «levante a mão, por favor!». Portanto, sugeriu, «peçamos ao Senhor que nos mostre que estas durezas nos arrasam; nos envie a graça e também — se for necessário — as humilhações para não permanecer por terra e para nos levantarmos, com a dignidade com que Deus nos criou, ou seja, a graça de um coração aberto e dócil ao Espírito Santo».

 


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