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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Caminho e memória

 Quinta-feira 21 de abril de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 17 de 28 de abril de 2016

Ao longo da vereda da vida os homens nunca caminham sós, e saber fazer memória da presença de Deus ao seu lado ajuda-os a compreender que a salvação não é o acontecimento de um instante, mas uma história que se esclarece dia após dia, entre situações positivas e erros, até ao encontro final. A comparação entre a história do povo de Israel e a pessoal de cada cristão orientou a meditação do Papa Francisco na missa celebrada em Santa Marta: uma história que deve ser valorizada porque, disse o Pontífice, «a memória nos aproxima de Deus».

Não por acaso, frisou evocando o trecho dos Atos dos Apóstolos proposto pela liturgia do dia (13, 13-25), a primeira pregação, a «dos apóstolos de Jesus», era «histórica». Na pregação do Evangelho, eles «chegavam a Jesus, mas atravessando toda a história do Povo de Israel», a partir do «pai Abraão» passando por «Moisés, a libertação do Egito, a Terra Prometida» até, citando o rei David, concluir: «Da sua descendência, segundo a promessa, Deus enviou Jesus como Salvador de Israel». Assim explicavam um «caminho histórico», a senda que Deus «fez com o seu povo».

Tudo isto, disse Francisco, «nos faz pensar que o anúncio de Cristo, a salvação de Cristo, este dom que Deus nos ofereceu, não é algo de um momento e nada mais: é um caminho!». O caminho «que Deus quis percorrer com o seu povo» e que não devemos esquecer. Por isso, na Escritura são contínuas as recomendações neste sentido. Por exemplo, no livro do Deuteronómio, que é «o livro da memória de Israel», lê-se: «Recordai-vos! Fazei memória disto». Ou seja, é preciso «voltar atrás para ver como Deus nos salvou, percorrer — com o coração e com a mente — o caminho com a memória e assim chegar a Jesus». O próprio Jesus realçou a importância de fazer memória e «no momento mais excelso da sua vida», deu-nos o seu corpo e sangue, «dizendo: “Fazei isto em memória de mim”». Portanto, devemos «recordar como Deus nos salvou».

É um convite que a Igreja faz seu todos os dias na liturgia eucarística. A tal propósito, o Papa observou que na oração no início da missa foi inserida a invocação a «Deus que redimiu o homem, elevando-o acima do antigo esplendor». E acrescentou: «O povo deve recordar» que Deus fez tudo isto «a caminho» com o seu povo. Em cada Eucaristia celebramos «a memória desta salvação; o memorial de Jesus que se faz presente no altar para nos dar a vida», mas «também nós na nossa vida pessoal, devemos agir assim: fazer memória do nosso caminho», porque «cada um de nós percorreu uma senda, acompanhado por Deus, próximo de Deus, perto do Senhor», às vezes até «afastando-nos do Senhor». Contudo, recomendou o Papa, «faz bem ao coração» de cada cristão recordar-se «do próprio caminho», esclarecer como Deus o «conduziu até aqui», como o «guiou pela mão».

Nesta recordação do caminho percorrido podemos também dar-nos conta de que por vezes dissemos ao Senhor: «Não! Afasta-te de mim! Não quero!» — e «o Senhor», frisou o Papa, «é respeitoso» também disto — mas é importante fazer memória «da própria vida e caminho».

É útil repetir com frequência esta prática e recordar-se: «Naquele tempo Deus concedeu-me esta graça e eu respondi assim...», dizer: «Fiz isso, isto, aquilo» e dar-nos conta do modo como Deus sempre nos «acompanhou». Deste modo, disse o Papa, «chegamos a um novo encontro», que se poderia definir o «encontro da gratidão», no qual poderíamos rezar assim: «Obrigado, Senhor, por esta companhia que Tu me deste, por este caminho que percorreste comigo» e pedir perdão pelos pecados e erros dos quais podemos dar-nos conta, na consciência de que Deus «caminha connosco e não se assusta com as nossas maldades», está «sempre ali!».

A este respeito, o Papa acrescentou: «Quantas vezes fechamos a porta na sua cara; quantas vezes fingimos que não o vimos, que não cremos que Ele estava connosco; quantas vezes renegamos a sua salvação... Mas Ele estava ali!». E é importante «fazer memória disto» e também da «nossa bondade». Por exemplo, quantas vezes «ajudamos o próximo, curamos um doente». E convidou a «fazer memória de todo o caminho» pois «a memória nos aproxima de Deus», é uma espécie de «recriação», «regeneração» que nos leva além do «antigo esplendor de Adão na primeira criação». Em toda a sua homilia Francisco repetiu várias vezes este conselho simples: «Fazei memória!». Quer da vida inteira ou só do dia de hoje ou do ano passado, é sempre bom perguntar: «Como foram as minhas relações com o Senhor?», e fazer memória «das coisas boas e grandes que o Senhor fez na vida de cada um de nós».

 


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