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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

 De pé em silêncio, em saída

 Sexta-feira, 10 de junho de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 24 de 16 de junho de 2016

Os cristãos estão «de pé» para acolher Deus, em paciente «silêncio» para ouvir a sua voz e «em saída» para o anunciar aos outros, conscientes de que a fé é sempre «um encontro». Estas três atitudes encorajam e relançam a vida de quantos se sentem subjugados pelo medo nos momentos mais difíceis. «Nós sabemos que a fé não é uma teoria, nem sequer uma ciência: é um encontro», disse Francisco logo no início da homilia. A fé «é um encontro com Deus vivente, com o Deus vivo, com o Criador, com o Senhor Jesus, com o Espírito Santo, é um encontro». Assim, explicou, na primeira leitura, tirada do primeiro livro dos Reis (19, 9.11-16) «ouvimos o encontro do profeta Elias com Deus». E «o profeta Elias tem uma longa história, é um vencedor: lutou muito pela fé, porque o povo de Israel se tinha afastado da fidelidade».

Ainda mais, acrescentou o Papa, «para usar uma palavra do Evangelho, também Jesus o diz ao povo de Israel, tinha-se tornado uma “geração adúltera”: por um lado queria adorar Deus e por outro os ídolos». E há «uma expressão que o profeta Elias diz ao povo: “até quando coxeareis sobre os dois pés?”». Usa precisamente a imagem do «coxear com os dois pés: não estar parados nem com Deus nem com os ídolos, ter os pés em dois barcos, como nós dizemos, na linguagem diária, “estar de bem com Deus e com o diabo”».

«Elias lutou tanto contra esta situação do povo e venceu: venceu uma luta forte contra os quatrocentos profetas dos ídolos, venceu-os no monte Carmelo e matou-os todos com a força de Deus: ele é o vencedor». Mas depois Elias «desceu do monte e ouviu a notícia de que a rainha Jezebel, mulher cruel e sem escrúpulos, o queria matar por isso, porque ela era idólatra». Então Elias «teve medo». Precisamente «ele, o vencedor, o grande, teve medo daquela mulher e foi-se embora: fugiu». Um medo que «o abate». A ponto que Elias se interroga porquê: «Fez tanto e no final sempre a mesma história: fugir e defender-me dos idólatras». E assim parece que ele «não se reanima mais: melhor a morte, e entra em depressão profunda. Jaz por terra, à sombra de uma árvore, e deseja morrer; entra naquele sono que antecede a morte, o sono da depressão».

Mas eis que «o Senhor envia o anjo despertá-lo: «Levanta-te! Come um pouco de pão e bebe um pouco de água”». E Elias obedece, mas «depois continua a dormir». O anjo «volta pela segunda vez» convidando-o de novo a levantar-se. E, quando está de pé, «chega outra palavra: “Sai!”». Por conseguinte, «para encontrar Deus é necessário voltar à situação na qual o homem se encontrava no momento da criação: de pé e a caminho». Porque «assim nos criou o Senhor: à sua altura, à sua imagem e semelhança, e a caminho». Com efeito, o Senhor diz: Vai, vai em frente, cultiva a terra, fá-la crescer, e multiplica-te». E disse também: «Sai, vai ao monte e permanece lá na minha presença». Eis que «Elias se pôs de pé e, uma vez em pé, sai».

No Evangelho, em particular «na parábola do filho pródigo», encontra-se a mesma situação. É a realidade na qual se encontra precisamente aquele filho, «quando estava deprimido e observava os porcos que comiam bolotas e ele tinha fome». Naquele momento «pensou em seu pai e disse a si mesmo: “erguer-me-ei e irei” ter com meu pai». Repetem-se estas palavras: “levanta-te” e “sai”».

Por conseguinte, Elias «subiu ao monte para encontrar o Senhor e eis que o Senhor passou». E «como passou o Senhor? Como passa o Senhor? Como posso encontrar o Senhor para ter a certeza que é ele?» perguntou Francisco, relendo a página do Antigo Testamento: «Antes de tudo houve um vento impetuoso e tão forte que derrubava tudo e despedaçava as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento». Por isso «o Senhor não estava naquele tumulto, naquela majestade, não estava». E ainda, «depois do vento, um terramoto, mas o Senhor não estava no terramoto; depois do terramoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo». Elias «olhava, aguardava o Senhor: tanta confusão, tanta majestade, tanto movimento e o Senhor não estava ali». Finalmente, «depois do fogo, um sussurrar de uma brisa ligeira ou, precisamente como está no original, “o fio de um silêncio sonoro”. E o Senhor estava ali».

«Para encontrar o Senhor é preciso entrar em nós mesmos e sentir aquele “fio de um silêncio sonoro”», porque «ele nos fala ali». E «o que acontece?». Encontramos a resposta naquele «vai!», porque o Senhor «nos dá a missão» como a Elias: «Coragem, volta aos teus passos, não tenhas medo da rainha, volta ao teu caminho, rumo ao deserto e ungirás um como um rei, outro como um rei e Eliseu como profeta teu sucessor». Para Elias «há a missão» a cumprir.

E a missão de Elias sugere «três coisas claras». «Para ir ao encontro do Senhor, de pé e saindo de nós mesmos, a caminho», a primeira coisa clara é precisamente o estar «de pé e a caminho». O segundo aspeto é «ter a coragem de esperar aquele sussurro, aquele “fio de silêncio sonoro”, quando o Senhor fala ao coração e nos encontramos». O terceiro aspeto é a «missão». Um convite a voltar aos próprios passos para ir «em frente».

Eis «a mensagem que este trecho da Escritura nos ensina hoje», afirmou Francisco, recordando: «Devemos procurar sempre o Senhor: todos nós sabemos como são os maus momentos, momentos que te fazem desanimar, sem fé, obscuros, nos quais não vemos o horizonte, não somos capazes de nos erguer, todos o sabemos!». Mas «é o Senhor que vem, nos restabelece com o pão e com a sua força e nos diz “levanta-te e vai em frente, caminha!”». Por isso, «para encontrar o Senhor devemos estar assim: de pé e a caminho»; depois «esperar que ele fale: coração aberto». E ele nos dirá “sou eu”; e nesse momento a fé fortalece-se». Mas a fé «é para mim, para que eu a guarde? Não, deve ser levada a outros, para ungir os outros, para a missão». Por conseguinte, «de pé e a caminho; em silêncio para encontrar o Senhor; e em missão para levar esta mensagem, esta vida aos outros». É precisamente esta a vida do cristão, que podemos ver aqui, neste trecho do primeiro livro dos Reis».

Ao concluir, o Pontífice rezou para que «o Senhor nos ajude sempre: ele está sempre pronto para nos ajudar a pormo-nos de pé». E mesmo se cairmos, devemos ter a força de nos «erguermos» para «estar a caminho, não fechados, não dentro do egoísmo do nosso conforto: ser pacientes, a fim de aguardar a sua voz e o encontro com ele e depois ser corajosos na missão e anunciar aos outros a mensagem do Senhor».

 


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