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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Pequenos artífices de paz

 Quinta-feira, 8 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 15 de setembro de 2016

Não são «os grandes manifestos» nem «os grandes encontros internacionais», com todas «as palavras maravilhosas» de uma «conferência de sucesso», que edificarão a paz que «hoje todos pedem», porque «vivemos em guerra». Assim, o Papa Francisco convidou a ter, antes de tudo, «a sabedoria de fazer a paz nas pequenas coisas de todos os dias, mas tendo em vista o horizonte da humanidade inteira». Com o estilo do artesão, sugeriu, é preciso começar a partir de nós mesmos, da própria família, do bairro e do lugar de trabalho. Foi esta a essência da verdadeira paz que o Pontífice relançou na missa celebrada na manhã de 8 de setembro, festa da natividade da bem-aventurada Virgem Maria, na capela da Casa de Santa Marta.

«Na oração da coleta no início da missa — observou imediatamente — pedimos ao Senhor o dom de crescer em unidade na paz». Portanto, a palavra «paz» é decisiva e trata-se de «crescer na paz: hoje pedimos que todos nós possamos crescer na paz, na unidade, porque a paz faz a unidade».

Na liturgia do dia, a palavra «paz» aparece imediatamente «na oração no início da missa». Mas é repetida também na primeira leitura, tirada do livro do profeta Miqueias (5, 1-4): «Quando ele anuncia a vinda do Salvador, acaba assim: “Ele mesmo será a paz”». E aparece ainda no Evangelho de Mateus (1, 1-16.18-23): «Depois da genealogia de Jesus, há o sonho de José, e o anjo diz: “Ele chamar-se-á Emanuel” que significa Deus-connosco». E o «Deus-connosco é a paz».

Eis que na liturgia por «três vezes se fala da paz», insistiu o Papa, acrescentando: «Peçamos para crescer na paz. A liturgia hodierna está inteiramente concentrada neste caminho, e todos nós, o mundo inteiro, temos necessidade de paz».

«Se pedimos a paz — explicou — é porque ela é um dom que recebemos do Senhor. Mas também peçamos para crescer na paz: é um dom, mas com o seu caminho de vida, a sua senda de história; uma dádiva que cada um de nós deve receber e trabalhar para a ajudar a crescer». E «na história da salvação, da primeira promessa do Senhor no Paraíso terrestre até à vinda de Jesus, há um longo percurso que ouvimos no Evangelho: este gerou aquele, um gerou o outro».

Exatamente «este caminho de santos e pecadores — afirmou — recorda que também nós devemos receber este dom da paz, transformá-lo no caminho da nossa vida, deixá-lo entrar em nós, entrar no mundo». De resto, «a paz não se faz de um dia para o outro: a paz é um dom, mas um dom que deve ser recebido e realizado todos os dias». Por isso, continuou Francisco, «podemos dizer que a paz é um dom que se torna artesanal nas mãos dos homens: somos nós homens, cada dia, que damos um passo rumo à paz, este é o nosso trabalho. É a nossa labuta com o dom recebido: construir a paz».

Nesta altura, é importante entender como realizar este «trabalho artesanal» a favor da paz. E para nos ajudar, explicou, «há outra palavra na liturgia de hoje que nos pode fazer refletir, uma palavra que nos fala da pequenez». E «na oração da coleta fala-se da natividade de Nossa Senhora: uma pequena menina, cuja festa se celebra hoje». Também «na profecia de Miqueias se começa frisando» a pequenez: «E tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as aldeias de Judá...”». Palavras claras para dizer que Belém é «tão pequena» que nem aparece «nos mapas».

Referindo-se à liturgia do dia, o Pontífice disse também que «no Evangelho, após a longa história de um povo, encontramos a pequenez de uma decisão tomada por José, a pequenez de uma promessa». Tudo isto, afirmou, nos ajuda a entender que «a paz é um dom, um dom artesanal que devemos realizar todos os dias, mas a partir das pequenas realidades diárias». Assim, «não são suficientes os grandes manifestos pela paz, os grandes encontros internacionais, se não se constrói esta paz na pequenez». Aliás, insistiu o Papa, «podes falar da paz com palavras maravilhosas, fazer uma conferência de sucesso, mas se na tua simplicidade, no teu coração, na tua família, no teu bairro, no teu lugar de trabalho não houver paz, ela também não existirá no mundo».

«Hoje, como sabemos, vive-se uma guerra e todos pedem a paz», afirmou o Pontífice. Face a esta realidade, «só farei uma pergunta, primeiro a mim e depois a todos: como está o teu coração hoje, está em paz? Se não estiver em paz, antes de falares de paz, põe o teu coração em paz. Como está a tua família hoje: está em paz? Se não fores capaz de orientar a tua família, o teu presbitério, a tua congregação, fazendo-a progredir em paz, não serão suficientes palavras de paz para o mundo». Eis, «a pergunta que gostaria de fazer: como está o coração de cada um de nós, está em paz? E a família de cada um, está em paz?». Comecemos pelas pequenas coisas «para chegar a um mundo em paz».

«Hoje, dia da natividade de Maria — recordou — pedimos para crescer na paz e na unidade, porque onde há paz há unidade». E «vimos que a paz é um dom que se realiza cada dia de modo artesanal e que, como todas as coisas manuais, ela se constrói a partir do pequeno para chegar ao grande».

Concluindo, antes de retomar a celebração, o Papa rezou «ao Senhor para que nos dê a sabedoria de construir a paz nas pequenas coisas diárias, mas tendo em vista o horizonte da humanidade inteira».

 



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