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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Questão de estilo

 Sexta-feira, 9 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 15 de setembro de 2016

A evangelização faz-se com o testemunho e depois com a palavra, prestando atenção a não cair na tentação de se reduzir a funcionários que dão passeios ou fazem proselitismo. Relançando «o estilo» evangelizador de são Paulo, o seu «ser tudo em todos» sem procurar o enaltecimento pessoal, o Papa Francisco quis propor de novo também a figura de são Pedro Claver, jesuíta missionário entre os deportados.

«O apóstolo Paulo explica aos cristãos de Corinto o que significa evangelizar», afirmou o Pontífice referindo-se à primeira leitura proposta pela liturgia de hoje (1 Coríntios 9, 16-10.22-27). «Também nós — explicou — podemos refletir hoje sobre o que significa evangelizar, por que estamos, nós cristãos, chamados a evangelizar, a levar o Evangelho, que significa dar testemunho de Jesus Cristo».

E Paulo, dirigindo-se precisamente aos cristãos de Corinto, começa assim o seu raciocínio: «Irmãos, o que é evangelizar? Anunciar o Evangelho não é para mim vanglória». Portanto, certamente não nos enalteçamos «por ir evangelizar: vou fazer isto, vou fazer aquilo», como se evangelizar fosse «dar um passeio». Seria como «reduzir a evangelização a uma função: eu tenho esta função». E «estou a falar — observou o Papa — de coisas que acontecem nalguma paróquia no mundo, quando o pároco tem sempre a porta fechada».

Também pode acontecer, prosseguiu Francisco, que se encontrem «leigos que dizem “dou este curso de catequese, faço isto e isto...”». Reduzindo deste modo aquilo a que eles chamam evangelizar a uma função». Talvez enaltecendo-se ao dizer: «eu desempenho esta função, sou um funcionário catequista, sou funcionário disto, daquilo... e depois continuo a minha vida».

É precisamente esta a atitude de quem se vangloria, insistiu o Papa, «reduzir o Evangelho a uma função ou também a uma lisonja: “vou evangelizar e levei tantos para a Igreja”». E também «fazer proselitismo é vangloriar-se». Ao contrário, «evangelizar não significa fazer proselitismo». Mais: evangelizar nunca «é dar um passeio; reduzir o Evangelho a uma função; fazer proselitismo».

O que significa deveras evangelizar, explicou o Pontífice, repete-o eficazmente são Paulo: «Para mim anunciar o Evangelho não é um título de glória, é antes uma necessidade que se me impõe». Com efeito, insistindo sobre as reflexões paulinas, o Papa afirmou que «um cristão tem a obrigação, mas com esta forma, como uma necessidade, de levar o nome de Jesus, mas do próprio coração». E frisou as palavras claras do apóstolo: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!»

Uma admoestação — «Ai de mim» — que atinge aquele católico que pensa: «Vou à missa, faço isto e nada mais». Ao contrário, advertiu Francisco, «se dizes que és católico, que recebeste o batismo, que és crismado, deves ir além e levar o nome de Jesus: é uma obrigação!».

As indicações concretas de Paulo, prosseguiu Francisco, levam-nos a questionar-nos sobre qual deva ser o nosso «estilo de evangelização». Em síntese, «como posso ter a certeza que não estou a dar um passeio, ou a fazer proselitismo, ou a reduzir a evangelização a um funcionalismo? Como posso compreender qual é o estilo justo?».

É sempre Paulo quem responde: «Fiz-me tudo para todos». Isto significa «ir e partilhar a vida dos outros, acompanhar no caminho da fé, fazer crescer no caminho da fé». Na prática, explicou Francisco, trata-se de nos comportarmos como quando «se acompanha uma criança: quando queremos que uma criancinha comece a falar, não lhe damos «Os noivos» e dizemos: «Fala, lê e fala!». Mas ensinamos-lhe antes de tudo a dizer «mãe e pai». E fazendo assim «tornamo-nos crianças para que a criança cresça».

«Com o irmão devemos fazer o mesmo: por-nos na sua mesma condição e se ele estiver doente, aproximar-nos, não o enfadar com conversas; estar próximo dele, assisti-lo, ajudá-lo». Por conseguinte, para responder à pergunta sobre o estilo que deve ser usado para anunciar o Evangelho, Francisco respondeu que se evangeliza precisamente «com esta atitude de misericórdia: fazer-se tudo em todos», na certeza de que «é o testemunho que leva a Palavra».

E nesta perspetiva, o Papa quis partilhar também uma confidência pessoal: «Quando estava na Polónia, em Cracóvia, almoçando com os jovens na jornada mundial da juventude, um rapaz perguntou-me: “Padre, o que devo dizer a um amigo que é bom — é bom! — mas é ateu, não crê: o que devo dizer-lhe para que creia?». Esta «é uma boa pergunta, todos nós conhecemos gente afastada da Igreja: o que lhe devemos dizer?». Naquela ocasião, recordou, a sua resposta à pergunta daquele jovem foi: «Ouve, a última coisa que deves fazer é dizer algo! Começa a fazer e ele verá o que tu fazes e perguntará; e quando ele te interpelar, tu diz».

Portanto, «evangelizar é dar este testemunho: eu vivo assim, porque creio em Jesus Cristo; eu desperto em ti a curiosidade da pergunta “por que fazes estas coisas?”». E a resposta do cristão deve ser esta: «Porque creio em Jesus Cristo e anuncio Jesus Cristo e não só com a Palavra — devemos anunciá-lo com a Palavra — mas sobretudo com a vida». Portanto, «fazer-se tudo em todos, ir onde eles estão, no estado de ânimo em que se encontram, ao seu estádio de crescimento».

Eis o que «é evangelizar e também isto se faz gratuitamente» explicou o Papa. Escreve Paulo: «Qual é a minha recompensa? Anunciar gratuitamente o Evangelho. Porquê de graça? Porque nós recebemos de graça o Evangelho. A graça, a salvação não se compra nem se vende; é gratuita! E de graça a devemos dar». Precisamente «esta gratuitidade, este testemunho em anunciar Jesus Cristo — fez presente Francisco — vemo-la em tantos homens, mulheres, consagradas, consagrados, sacerdotes, bispos, que se fazem tudo em todos, de graça».

Uma gratuitidade que se encontra em toda a história da Igreja. «Hoje — quis recordar o Papa — celebra-se a memória de são Pedro Claver, um missionário: foi longe para anunciar o Evangelho. Talvez ele pensasse que o seu futuro teria sido pregar: no seu futuro o Senhor pediu-lhe para estar próximo, ao lado dos descartados daquele tempo, dos escravos, que ali chegavam provenientes da África, para serem vendidos». E este homem «não deu um passeio dizendo que evangelizava; não limitou a evangelização a um funcionalismo nem sequer a um proselitismo». São Pedro Claver «anunciou Jesus Cristo com os gestos, falando aos escravos, vivendo com eles e como eles». E «há tantos como ele na Igreja que se aniquilam a si mesmos para anunciar Cristo».

Antes de retomar a celebração, o Pontífice afirmou que «também todos nós, irmãos e irmãs, temos a obrigação de evangelizar, que não é bater à porta do vizinho e dizer: “Cristo ressuscitou!”». É, antes de tudo, «viver a fé, falar dela com mansidão, com amor, sem vontade de convencer ninguém, mas de graça». Porque evangelizar «é dar de graça aquilo que Deus me deu de graça».

 



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