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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Um nome sonhado

 Quinta-feira, 13 de outubro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 42 de 20 de outubro de 2016

No bilhete de identidade de cada cristão há o nome que Deus escolheu com a mesma ternura de uma mãe e de um pai que «sonham a própria criança». E há também três características irrenunciáveis: «bendito porque escolhido, porque perdoado e porque a caminho». Eis os sinais particulares do cristão indicados pelo Papa.

«Na oração da coleta — Francisco realçou imediatamente — pedimos ao Senhor que a sua graça «nos preceda e nos acompanhe», para que não nos cansemos de ir pelo caminho cristão». Portanto, explicou, «precisamos da graça para não nos cansarmos», porque «nós, sozinhos, não o podemos fazer».

Trata-se então de compreender bem, afirmou o Papa, qual é «este caminho, esta identidade cristã». Nisto pode-nos ajudar o próprio apóstolo Paulo que, no início da carta aos Efésios (1, 1-10) proclamada na liturgia «explica qual é a identidade cristã, e antes de tudo diz: “Fomos abençoados”. O cristão é um abençoado: abençoado pelo Pai, por Deus».

Paulo propõe três traços característicos desta bênção. O primeiro é: «o cristão é uma pessoa escolhida; nós somos escolhidos; Deus escolheu-nos um por um, não como uma multidão oceânica, como uma massa de gente». Ao contrário, Deus «deu-nos um nome, conhece-nos pelo nome um por um». Eis que cada um pode dizer: «Eu sou abençoado, porque sou conhecido pelo Pai, fui escolhido pelo Pai, fui esperado pelo Pai».

A fim de fazer compreender esta verdade, o Papa recorreu à imagem de «um casal, quando espera um bebé». Os dois pais questionam-se: «Como será? Como será o seu sorriso? Como falará». E do mesmo modo, afirmou, «ouso dizer que também nós, cada um de nós, foi sonhado pelo Pai como um pai e uma mãe sonham o filho que esperam». E «isto dá-te uma grande segurança. O pai quis-te, especificamente a ti, a cada um de nós». Esta consciência «é o fundamento, é a base da nossa relação com Deus: nós falamos a um Pai que nos ama, que nos escolheu, que nos deu um nome».

«O cristão foi escolhido, foi sonhado por Deus, afirmou Francisco o qual fez referência à necessidade de se sentir parte de uma comunidade, um pouco como o torcedor que escolhe e pertence a uma equipa de futebol. Quando pensamos que fomos escolhidos e sonhados por Deus, explicou o Papa, «sentimos no coração uma grande consolação: não somos abandonadas, não estamos pela estrada da vida “desenrascar-nos como podemos”, temos um nome sonhado por Deus». A primeira característica da bênção é que «somos escolhidos».

Na carta aos Efésios, Paulo Escreve: «Deus concedeu-nos a sua gloriosa graça no Filho amado.

Nele temos, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, o perdão das culpas conforme a riqueza da sua graça». Um trecho que nos revela a segunda caraterística: «o cristão é uma pessoa “perdoada”». Com efeito, um homem ou uma mulher que não se sentem perdoados não são plenamente cristãos, assemelham-se «àquele homem que estava diante do altar e dizia “agradeço-te Senhor, porque não preciso de perdão, eu não cometo pecados como todos os outros!”». Mas «um só — recordou o Pontífice — não foi perdoado, porque era tanta a soberba que não deu lugar ao perdão: o diabo». Ao contrário, todos «fomos perdoados com o preço do sangue de Cristo».

É importante, sugeriu Francisco, fazer também um pouco de exercício de memória para recordar bem «o que me foi perdoado», tendo em conta «as coisas más que fiz, não as que fez o teu amigo, o teu vizinho, a tua vizinha: as tuas!». Tudo isso com a certeza de que o Senhor «perdoou estas coisas» que fizemos na vida. Eis, disse o Papa, «eu sou abençoado, sou cristão»: «esta é a primeira caraterística, sou escolhido, sonhado por Deus, com um nome que Deus me deu, amado por Deus». E, a «segunda caraterística», fui «perdoado por Deus».

Na carta aos Efésios, Paulo escreve: «O Pai fez-nos conhecer o mistério da sua bondade, segundo a benevolência que nele se propusera para o governo da plenitude dos tempos: reconduzir a Cristo, único chefe, todas as coisas». Por conseguinte, afirmou Francisco, «o cristão é um homem e uma mulher a caminho rumo à plenitude, rumo ao encontro com o Cristo que nos redimiu».

A ponto que «não se pode compreender um cristão parado». Com efeito, «o cristão deve ir sempre em frente, deve caminhar». Ao contrário «o cristão parado é aquele homem que tinha recebido o talento e devido ao medo da vida, ao medo de o perder, ao medo do dono, por medo ou comodidade, enterrou-o, e deixou-o ali, ficando tranquilo e levando a vida sem ir» em frente. Eis por que «o cristão é um homem a caminho, uma mulher a caminho, que faz sempre o bem, que procura fazer o bem, ir em frente».

Esta é «a identidade cristã: abençoados, porque escolhidos, porque perdoados e porque a caminho», concluiu o Pontífice, sublinhando que «é bom viver assim: não somos anónimos, não somos soberbos, a ponto de não precisar do perdão, não somos parados». O auspício do Papa é que «o Senhor nos conserve esta graça, que o Senhor nos acompanhe com esta graça da bênção que nos deu, ou seja, a bênção da nossa identidade».

 


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