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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Topografia do espírito

Sexta-feira, 26 de maio de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 1º de junho de 2017

Há três «lugares referenciais» na vida de cada cristão: a «Galileia», o «céu» e o «mundo». A eles correspondem outras três «palavras» — «Memória, oração e missão» — que identificam o caminho de cada um. Foi a «topografia do espírito» delineada pelo Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta.

Seguindo as leituras litúrgicas, o Pontífice frisou que Jesus, durante os quarenta dias transcorridos da ressurreição até à Ascensão, «entretinha-se com os discípulos: ensinava-lhes, acompanhava-os, preparava-os para receber o Espírito Santo... animava-os». E são precisamente as Escrituras que indicam os «três lugares referenciais do nosso caminho cristão, três palavras que revelam sempre como deve ser o nosso caminho».

O Papa começou pela «primeira palavra», ou seja: «Galileia», que foi dita «à primeira apóstola, Madalena: «Vai e diz aos discípulos que vão à Galileia». Trata-se de uma palavra «referencial» densa de significados para os discípulos. De facto, na Galileia «ocorreu o primeiro encontro com Jesus, é o lugar onde Jesus se encontrou com eles, escolheu-os, ensinou-lhes desde o início, convidou-os a segui-lo». Um «lugar» que se reapresenta na vida de cada cristão: «cada um de nós tem a própria Galileia». Afirmou o Papa. É o momento no qual nos encontrámos com Jesus, em que Ele se manifestou, em que o conhecemos, também nós sentimos esta alegria, este entusiasmo de o seguir». Portanto, cada um de nós tem a própria Galileia que não é igual para todos: «Encontrei o Senhor desta forma: esta família com a mãe, a avó, o catequista...» — «E eu, ao contrário, encontrei o Senhor assim».

A Galileia, afinal de contas, indica para cada um «a graça da memória» porque «para ser um bom cristão é necessário ter sempre a recordação do primeiro encontro com Jesus ou dos encontros sucessivos». Será ela «no momento da provação» a dar a «certeza».

A «segunda palavra» que se encontra nesta ideal «topografia do espírito» é «Céu». Por exemplo, encontra-se no trecho em que «se narra a Ascensão do Senhor»: de facto, os apóstolos «mantinham os olhos fixos no céu a tal ponto que alguns anjos lhes disseram: «Mas, por que estais a olhar para o céu... Ele partiu. Está lá. Voltará, mas está lá».

O Céu, explicou o Pontífice, é «onde agora está Jesus, mas não separado de nós; fisicamente sim, mas está sempre unido connosco para interceder por nós». Lá Jesus mostra ao Pai «as chagas, o preço que pagou por nós, pela nossa salvação». E acrescentou, «assim como era necessário recordar o primeiro encontro com a graça da memória, devemos pedir a graça de contemplar o Céu, a graça da prece, a relação com Jesus na oração, neste momento nos ouve, está connosco». Como disse a Paulo, também a nós diz: «Não temas porque estou contigo». Por conseguinte, o Céu é «o segundo lugar referencial da vida».

Por fim, o terceiro: «o mundo». Também no Evangelho da ascensão lê-se que Jesus diz aos discípulos: «Ide e fazei discípulos em todas as nações». Disto compreendemos, afirmou Francisco, que «o lugar do cristão é o mundo para anunciar a Palavra de Jesus, para anunciar que fomos salvos, que Ele veio para nos dar a graça, para nos levar todos com Ele diante do Pai».

Eis então delineada a «topografia do espírito cristão». Trata-se, explicou de novo o Papa, de «três lugares referenciais da nossa vida: a memória — a Galileia; a oração, a intercessão — o Céu; e a missão — ir pelo mundo», acrescentando: «um cristão deve mover-se nestas três dimensões e pedir a graça da memória», dizer por exemplo: «Que não me esqueça do momento em que me elegeste, que não me esqueça do momento que nos encontrámos». Depois, é preciso orar, olhar para o céu porque Ele está lá para interceder. Por fim «ir em missão». Ou seja, frisou, não significa «que todos devem ir ao estrangeiro; ir em missão é viver e dar testemunho do Evangelho, é anunciar às pessoas como é Jesus». Isto, explicou, faz-se «com o testemunho e com a Palavra, porque se eu disser como Jesus é, como é a vida cristã e viver como pagão, não funciona. A missão não é eficaz».

Resumindo: a «Galileia da memória, o Céu da intercessão e da oração, a missão no mundo». E conclui o Papa, «se levarmos a vida cristã desta forma, a nossa existência será boa e feliz». Uma consequência retomada da última frase pronunciada por Jesus no Evangelho de hoje (Jo 16, 20-23): «No dia em que viverdes a vida cristã assim, conhecereis tudo e ninguém poderá cancelar a vossa alegria». Palavras aplicáveis a cada cristão: «Ninguém, porque tenho a memória do encontro com Jesus, a certeza de que Jesus está no Céu neste momento e intercede por mim, está comigo, eu rezo e tenho a coragem de dizer, de sair de mim e anunciar aos outros, de dar testemunho com a minha vida de que o Senhor ressuscitou, está vivo». Portanto: «memória, oração, missão».

 



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