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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

A evangelização não se faz na poltrona

Quinta-feira, 19 de abril de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 18 de 03 de maio de 2018

«A evangelização não se faz na poltrona», baseando-se em «teorias», mas deixando agir o Espírito Santo. O estilo certo é ir ao encontro das pessoas e estar perto delas, começando sempre pelas «situações concretas»: quase «um corpo a corpo» que se faz com a vida e a palavra. O Papa propôs um «tratado» simples e direto sobre a evangelização.

«Após o martírio de Estêvão — observou Francisco, referindo-se expressamente às narrações dos Atos dos Apóstolos, propostas nestes dias pela liturgia — desencadeou-se uma grande perseguição em Jerusalém: os cristãos eram perseguidos, também por Paulo, e as suas casas ocupadas em toda a parte». Assim, afirmou, «os discípulos dispersaram-se um pouco por todas as regiões da Judeia, da Samaria».

Precisamente «aquele vento da perseguição» fez com «que os discípulos fossem mais além», confirmou o Pontífice insistindo sobre esta imagem eficaz: «Tal como faz o vento com as sementes das plantas, levando-as e semeando-as, o mesmo aconteceu aqui: eles foram além, com a semente da palavra, e semearam a palavra de Deus». Assim, «podemos dizer brincando um pouco, nasceu a Propaganda fide».

Foi «a partir de uma perseguição, de um vento» que «os discípulos promoveram a evangelização». Confirma-o, de resto, o «trecho que lemos hoje», dos Atos (8, 26-40). Um trecho que «é de grande beleza», observou o Papa, definindo-o «um verdadeiro tratado de evangelização: assim evangeliza o Senhor, assim anuncia o Senhor, assim o Senhor quer que evangelizemos».

Francisco indicou «três palavras-chave» para compreender até ao fundo o sentido e o modo da evangelização. Antes de tudo, «é o Espírito que impele» e «diz a Filipe: “levanta-te”, primeira palavra; “aproxima-te”, segunda palavra; e “começa pela situação”, terceira palavra».

É exatamente «com estas três palavras que se estrutura toda a evangelização», afirmou o Papa. Com efeito, é o Espírito «que começa e sustém a evangelização». Porque «a evangelização não é um plano bem feito de proselitismo: “Vamos ali e façamos muitos prosélitos; lá, e muitos...”». Na realidade, esclareceu Francisco, «é o Espírito que nos diz onde devemos ir para levar a palavra de Deus, para anunciar o nome de Jesus». Por isso, «começa dizendo: “levanta-te e vai”» nessa direção. Consciente de que «não existe uma evangelização “de poltrona”». Portanto, «“levanta-te e vai”, sempre em saída, “vai” em movimento, vai ao lugar onde deves anunciar a palavra». O Papa quis recordar «muitos homens e mulheres que deixaram a pátria, a família, e partiram rumo a terras distantes, para levar a palavra de Deus». E muitos deles «tantas vezes» nem sequer estavam «preparados fisicamente, pois não tinham os anticorpos para resistir às doenças daquelas terras, e morriam jovens, com quarenta anos, ou eram martirizados».

A este propósito, Francisco compartilhou a narração de «um grande cardeal» — que «ainda vive, que é muito bom» — o qual tem o cargo de ir às terras de missão. Ele contou que «quando vai àqueles lugares, a primeira coisa que faz é visitar o cemitério e ver os nomes dos missionários e a data da morte: são todos jovens». Na opinião daquele cardeal, «todos eles devem ser canonizados: são mártires da evangelização».

Em síntese, insistiu o Pontífice, «vai, não te preocupes», tendo presente que a «primeira palavra de uma verdadeira evangelização é “levanta-te e vai”». Por isso, recomendou, «não leves contigo o vade-mécum da evangelização, porque não serve». Ao contrário, deve ser vivida a «segunda palavra: “aproxima-te”», que significa «proximidade». Portanto, «aproxima-te para ver o que acontece». Precisamente como «faz Filipe. Vê o carro que está a chegar e o Espírito diz-lhe: “Vai em frente e aproxima-te” para ver o que acontece ali dentro». Os Atos narram que «Filipe correu em frente. Pôs-se a correr «e ouviu aquele senhor que estava no carro, um ministro da economia que lia Isaías». Filipe «ouviu bem e intuiu, pela graça do Espírito Santo, que aquele homem não entendia bem». E «ali Filipe sentiu que devia dar mais um passo, o Espírito diz: “vai mais além”». Assim «começa a falar e a pergunta é: “entendes o que estás a ler?”». Eis, o homem pede a «Filipe para entrar no carro» e diz-lhe que não conseguia entender, porque ninguém lho tinha explicado. E «Filipe, tomando a palavra a partir daquele trecho, “começa pela situação”»: eis a «terceira palavra».

Portanto, «“levanta-te”, “aproxima-te”, “começa pela situação”, não pela teoria», mas por «aquela pergunta que o Espírito suscita. Não se pode evangelizar com a teoria», pois «a evangelização é um pouco corpo a corpo, pessoa a pessoa: começa-se pela situação, não pelas teorias».

Com este estilo, Filipe «anuncia Jesus Cristo e a coragem do Espírito impele-o a batizar» o seu interlocutor: «Vai além, vai, até sentires que a tua obra se concluiu».

«É assim que se faz a evangelização», insistiu o Papa, voltando a propor as «três palavras» que «são chave para todos nós, cristãos», chamados a «evangelizar com a nossa vida, com o nosso exemplo e até com a nossa palavra».

Então, «levanta-te, aproxima-te, proximidade, e começa pela situação concreta: um método simples, mas é o método de Jesus» que «evangelizava assim, sempre a caminho, sempre pela estrada, sempre perto das pessoas, começando pelas situações concretas».

Portanto, recordou o Pontífice, «só se pode evangelizar com estas três atitudes, mas sob a força do Espírito: sem o Espírito, nem sequer estas atitudes servem; é o Espírito que nos impele a levantar-nos, a aproximar-nos e a começarmos pelas situações».

Concluindo, Francisco convidou a rezar «hoje por todos nós, cristãos, que temos a obrigação de evangelizar, a missão de evangelizar». Que o Senhor «nos conceda a graça de ser ouvintes do Espírito e de ter estas três atitudes, em saída: partir, estar próximos das pessoas e não começar pelas teorias, mas pelas situações concretas».

 



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