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CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO
DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO  

"A graça da vergonha"

Segunda-feira, 9 de março de 2020

[Multimídia]


 

Introdução à Santa Missa

Nestes dias, oferecerei a missa pelos doentes dessa epidemia de coronavírus, pelos médicos, enfermeiros, voluntários que ajudam muito, familiares, pelos idosos que estão em casas de repouso e pelos presos. Esta semana recitemos juntos esta intensa oração ao Senhor: “Salvai-me, Senhor, e concedei-me misericórdia. Os meus pés estão no caminho certo. Na assembleia bendirei ao Senhor”.

Homilia

A Primeira Leitura do Profeta Daniel é uma confissão dos pecados. O povo reconhece-se pecador. «Senhor, fostes fiel a nós, mas nós pecamos, fomos maus e ímpios. Fomos rebeldes, distanciamo-nos dos vossos mandamentos e leis. Não obedecemos aos vossos servos, os Profetas, que em vosso nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos antepassados e a todo o povo do país». Há uma confissão dos pecados, um reconhecimento de que pecamos.

Quando nos preparamos para receber o Sacramento da Reconciliação, devemos fazer um “exame de consciência” e ver o que eu fiz diante de Deus: pequei. Reconhecer o pecado. Reconhecer o pecado não pode ser apenas fazer uma lista dos pecados intelectuais, dizer: “pequei”. Depois, digo-o ao padre e ele perdoa-me. Não é necessário, não é justo fazer isto. Seria como redigir uma lista das coisas que devo fazer ou que devo ter ou que fiz mal, mas que permanece na cabeça. Uma verdadeira confissão dos pecados deve permanecer no coração. Confessar-se não é apenas dizer ao sacerdote esta lista: “Fiz isto e aquilo”, e depois ir embora. Estou perdoado. Não, não é justo. É preciso dar um passo, um passo a mais, que é a confissão das nossas misérias, mas com o coração, ou seja, de modo que aquela lista de coisas ruins que fiz desça ao coração.

Assim faz o profeta Daniel. «A Vós, Senhor, convém a justiça; a nós, a vergonha». Quando reconheço que pequei, que não rezei direito e sinto isto no coração, vem-me este sentimento de vergonha: “Envergonho-me por ter feito isto. Peço-lhe perdão com vergonha”. A vergonha pelos nossos pecados é uma graça, devemos pedi-la: “Senhor, que eu tenha vergonha”. Uma pessoa que perdeu a vergonha, perde a autoridade moral, perde o respeito pelos outros. Um desavergonhado. O mesmo acontece com Deus: devemos ter vergonha. A Vós convém a justiça; a nós, a vergonha. A vergonha no rosto, como hoje. “Senhor, continua Daniel, devemos ter vergonha no rosto: diante dos nossos reis e príncipes, dos nossos antepassados, pois pecamos contra Vós”. Ao Senhor nosso Deus, antes tinha dito convém a justiça, agora diz: cabe a misericórdia. Quando nós temos não apenas a recordação, a memória dos pecados que fizemos, mas também o sentimento de vergonha, isto toca o coração de Deus, que responde com misericórdia. O caminho para ir ao encontro da misericórdia de Deus é envergonhar-se das coisas ruins, das coisas más que fizemos. Assim, quando vou confessar-me digo não somente a lista de pecados, mas os sentimentos de confusão, de vergonha por ter feito isto a um Deus tão bom, tão misericordioso e justo.

Peçamos hoje a graça da vergonha: de ter vergonha pelos nossos pecados. Que o Senhor conceda a todos nós essa graça!

 



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