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CELEBRAÇÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE
SANTA MISSA PELA AMÉRICA LATINA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana
Terça-feira, 12 de dezembro de 2017

[Multimídia]


 

A celebração de hoje, os textos bíblicos que ouvimos e a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que nos recorda o Nican mopohua, sugerem-me três adjetivos para Ela: senhora-mulher, mãe e mestiça.

Maria é mulher. É mulher, é senhora, como diz o Nican mopohua, Mulher, com o senhorio de mulher. Apresenta-se como mulher e com uma mensagem de outrem, ou seja, é mulher, senhora e discípula.  Santo Inácio gostava de lhe chamar Nossa Senhora. E é tão simples, não pretende mais nada: é mulher, discípula.

Ao longo dos tempos, a piedade cristã procurou sempre louvá-la com novos títulos: tratava-se de títulos filiais, títulos do amor do povo de Deus, mas que em nada tocavam o seu ser mulher-discípula.

São Bernardo disse-nos que quando falamos de Maria, nunca são suficientes o louvor, os títulos de louvor, mas eles em nada tocavam este seu discipulado humilde. Discípula!

Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!

E um Santo Padre diz por aí que o discipulado é mais digno do que a maternidade. Questões de teólogos, mas Ela foi discípula! Nunca roubou para si mesma nada do seu Filho; serviu-o porque é mãe, dá a vida na plenitude dos tempos, como ouvimos, àquele Filho nascido de mulher.

Maria é nossa Mãe, é Mãe dos nossos povos, é Mãe de todos nós, é Mãe da Igreja, mas é também imagem da Igreja. E é Mãe do nosso coração, da nossa alma. Há um Santo Padre que diz que o que se diz de Maria pode ser dito, de certa forma, da Igreja e da nossa alma. Porque a Igreja é feminina e a nossa alma tem a capacidade de receber a graça de Deus e, num certo sentido, os Padres viam-na como feminina. Não podemos pensar na Igreja sem este princípio mariano que se propaga.

Quando procuramos o papel da mulher na Igreja, podemos seguir o caminho da funcionalidade, porque a mulher tem funções para desempenhar na Igreja. Mas isto deixa-nos no meio do caminho.

Na Igreja a mulher vai mais longe, com este princípio mariano, que “maternaliza” a Igreja, transformando-a na Santa Mãe Igreja. 

Maria mulher, Maria mãe, sem outro título essencial. Os demais títulos — pensemos nas ladainhas lauretanas — são títulos de filhos apaixonados que cantam à Mãe, mas não tocam a essencialidade do ser de Maria: mulher e mãe.

E o terceiro adjetivo que eu lhe diria, fitando-a, é que Ela quis ser mestiça, mestiçou-se. E não só com Juan Dieguito, mas também com o povo. Ela mestiçou-se para ser a Mãe de todos, mestiçou-se com a humanidade. Porquê? Porque Ela mestiçou Deus. E este é o grande mistério: Maria, Mãe mestiçou Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, no seu Filho.

Quando nos dizem que era necessário declará-la como tal, ou fazer mais um dogma, não nos devemos perder em disparates: Maria é mulher, é Nossa Senhora; Maria é Mãe do seu Filho e da Santa Mãe Igreja hierárquica, e Maria é mestiça, mulher dos nossos povos, mas que mestiçou Deus.

Que Ela nos fale como falou a Juan Diego, a partir destes três títulos: com ternura, com calor feminino e com a proximidade da mestiçagem. Assim seja!

 



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