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CARTA DO PAPA FRANCISCO
AO CARDEAL OMELLA OMELLA POR OCASIÃO
DO V CENTENÁRIO DA CONVERSÃO
DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA 

 

Ao Eminentíssimo Cardeal
Juan José Omella Omella
Arcebispo de Barcelona
Presidente da Conferência Episcopal Espanhola

Estimado Irmão!

A 14 de novembro, celebrar-se-á em Barcelona um evento singular, o V Centenário da chegada de um pobre soldado a um lugar escondido na geografia da Espanha, enquanto ia a caminho para a Terra Santa. O nosso protagonista, tendo servido o rei e as suas convicções a ponto de derramar o próprio sangue, estava ferido no corpo e no espírito, despojara-se de tudo e alimentou o propósito de seguir Cristo na pobreza e na humildade. Naquele momento, pouco lhe importava ficar em albergues para os pobres ou ter de se refugiar numa gruta para rezar, e menos ainda que isso significasse ser “considerado insensato e louco” (E.E. 167). E no entanto — paradoxos do destino — cinco séculos depois, as autoridades civis e religiosas daquela região, juntamente com o prepósito-geral do instituto religioso por ele fundado, a Companhia de Jesus, reúnem-se de forma institucional para celebrar aquele evento.

Também eu desejo unir-me a este ato, para o qual desejei que me representasses, pedindo-te que transmitas as minhas saudações a todas as autoridades presentes, tanto civis como eclesiásticas e, através delas, ao fiel Povo de Deus, que recorda Santo Inácio de Loyola com devoção e afeto, e aos homens de boa vontade que o respeitam como homem íntegro e coerente nas suas convicções. E também aos membros da Companhia de Jesus que, como eu, o veneram como fundador.

É significativo, neste momento, pensar que Deus usou uma guerra e uma peste para o levar até lá. A guerra, que o tirou de Pamplona e foi o gatilho da sua conversão, e a peste, que o impediu de chegar a Barcelona e obrigou a ficar na gruta de Manresa. Esta é uma grande lição para nós, porque não nos faltam guerras e pestes para nos converter. Portanto, podemos considerá-las uma oportunidade para inverter o rumo que temos seguido até agora e investir no que é realmente importante, seja qual for o âmbito no qual nos movemos. Porque, através das crises, Deus diz-nos que não somos os donos da História, com letra maiúscula, nem das nossas histórias, e por muito livres que sejamos para responder ou não às chamadas da sua graça, é sempre o seu desígnio de amor que guia o mundo.

Naquela circunstância, Inácio mostrou-se dócil a esta chamada, mas o mais importante é que não guardou essa graça para si, mas considerou-a desde o início como um dom para os outros, como um caminho, um método que poderia ajudar outras pessoas a encontrar Deus, abrir os seus corações e deixar-se interpelar por Ele. Desde então, os seus exercícios espirituais, como outros caminhos de perfeição, assim como os doze graus de humildade de São Bento, las moradas  [o castelo interior] de Santa Teresa ou mais simplesmente o que as bem-aventuranças ou os dons do Espírito Santo nos propõem, apresentam-se-nos como a escada de Jacob que conduz da terra para o céu, e que Jesus promete àqueles que o procuram sinceramente.

Que o Senhor te abençoe, querido irmão, que abençoe o povo que peregrina por aquelas terras, e que a Santíssima Virgem vos proteja.  E, por favor não vos esqueçais de rezar por mim,

Fraternalmente,

Francisco

Roma, São João de Latrão, 12 de setembro de 2022



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