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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O INÍCIO DAS CELEBRAÇ
ÕES DOS 150 ANOS DA CAPITAL DA ITÁLIA

 

Gentis Senhoras e senhores!

Tenho o prazer de me unir, como Bispo de Roma, à abertura das celebrações do 150º aniversário de Roma Capital que, por iniciativa da Presidente da Câmara Municipal de Roma, Ilustre Virginia Raggi, começam hoje na presença do Presidente da República. Recordando o evento de Roma Capital, na véspera do Concílio Vaticano II, o Card. Montini dissera: «Parecia um colapso; e para o domínio territorial pontifício foi assim [...]. Mas a Providência, agora vemo-lo bem, dispusera de forma diferente, quase dramaticamente jogando com os eventos» («Studi Romani», Ano X, setembro-outubro de 1962, n. 5, 502-505). A proclamação de Roma como capital foi um acontecimento providencial, que na época causou controvérsias e problemas. Mas Roma, a Itália e a própria Igreja mudaram: começou uma nova história.

Em 150 anos, Roma cresceu e mudou tanto: «de ambiente humano homogéneo a comunidade multiétnica, na qual convivem, ao lado da visão católica, visões da vida inspiradas em outros credos religiosos e também em concepções não religiosas da existência» (São João Paulo II, Discurso no Capitólio, 15 de janeiro de 1998). A Igreja, nesta vicissitude, compartilhou as alegrias e tristezas dos romanos. Gostaria, quase como um exemplo, de recordar pelo menos três momentos desta rica história comum.

O pensamento dirige-se aos nove meses da ocupação nazista da cidade, marcados por tanta dor, entre 1943 e 1944. A partir de 16 de outubro de 1943, desenvolveu-se a terrível caça para deportar os judeus. Foi o Shoah vivido em Roma. Naquele tempo, a Igreja era um refúgio para os perseguidos: antigas barreiras e dolorosas distâncias caíram. Desses tempos difíceis, vamos antes de tudo tirar a lição da fraternidade eterna entre a Igreja Católica e a comunidade judaica, que reafirmei durante a minha visita ao Templo Maior em Roma. Estamos também humildemente convencidos de que a Igreja representa um recurso de humanidade na cidade. E os católicos são chamados a viver a vida de Roma com paixão e responsabilidade, especialmente nos seus aspetos mais dolorosos.

Gostaria de recordar, em segundo lugar, os anos do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, quando a cidade acolheu os Padres Conciliares, os Observadores Ecuménicos e muitos outros. Roma brilhou como um espaço universal, católico e ecuménico. Tornou-se uma cidade universal de diálogo ecuménico e inter-religioso, de paz. Viu-se quanto a cidade significa para a Igreja e para o mundo inteiro. Porque, como recordava o estudioso alemão Theodor Mommsen, no final do século XIX: «em Roma não se está sem intenções cosmopolitas» (Q. Sella, Discursos parlamentares recolhidos e publicados por resolução da Câmara dos Deputados, vol. II, Roma 1887, 292).

O terceiro momento que gostaria de recordar é tipicamente diocesano, mas tocou a cidade: a chamada conferência sobre os “males de Roma”, em fevereiro de 1974, desejada pelo então Cardeal Vigário Ugo Poletti. Nas assembleias participativas do povo, ouvimos as expetativas dos pobres e das periferias. Ali, era uma questão de universalidade, mas no sentido de incluir o periférico. A cidade deve ser a casa de todos. É uma responsabilidade ainda hoje: as modernas periferias estão marcados por demasiadas misérias, habitadas por uma grande solidão e pobres de redes sociais.

Há uma exigência escrita de inclusão na vida dos pobres e daqueles que, imigrantes e refugiados, veem Roma como um porto de salvação. Muitas vezes os seus olhos, incrivelmente, veem a cidade com mais expetativa e esperança do que nós romanos que, por causa dos muitos problemas diários, a vemos de forma pessimista, como se ela estivesse destinada à decadência. Não, Roma é um grande recurso da humanidade! «Roma é uma cidade de beleza única» (Celebração das Primeiras Vésperas de Maria Santíssima, Mãe de Deus, 31 de dezembro de 2013: Insegnamenti I, 2 [2013], 804). Roma pode e deve renovar-se no duplo sentido da abertura ao mundo e da inclusão de todos. Isto também foi estimulado pelos Jubileus, e o de 2025 já não está muito longe.

Não podemos viver em Roma “de cabeça baixa”, cada um nos seus circuitos e compromissos. Neste aniversário de Roma Capital, precisamos de uma visão comum. Roma só viverá a sua vocação universal se se tornar cada vez mais uma cidade fraterna. Sim, uma cidade fraternal! João Paulo II, que tanto amava Roma, citou muitas vezes um poeta polaco: “Se disseres Roma, responde-te Amor”. É este amor que não te faz viver para ti, mas para os outros e com os outros.

Precisamos de nos reunir em volta de uma visão de cidade fraterna e universal, que é um sonho proposto às gerações mais jovens. Esta visão está escrita nos cromossomas de Roma. No final do seu pontificado, São Paulo VI disse: «Roma é a unidade, e não só do povo italiano, mas herdeira do ideal típico da civilização como tal e como centro ainda hoje da Igreja Católica, isto é, universal» (Angelus, 9 de julho de 1978: Insegnamenti XVI [1978], 541). Roma será uma promotora da unidade e da paz no mundo, tanto quanto será capaz de se construir como uma cidade fraterna.

Celebramos 150 anos de Roma Capital, uma longa e significativa história. Muitas vezes o esquecimento da história é acompanhado por pouca esperança de um amanhã melhor e pela resignação na sua construção. Assumir a memória do passado estimula-nos a viver um futuro comum. Roma terá um futuro, se partilharmos a visão de uma cidade fraterna e inclusiva, aberta ao mundo. No panorama internacional, cheio de conflitos, Roma poderia ser uma cidade de encontro: «Roma fala ao mundo da fraternidade, da harmonia e da paz» — disse Paulo VI (ibidem). Com estes sentimentos e esperanças, formulo votos fervorosos para o futuro da cidade e dos seus habitantes.

Roma, São João de Latrão3 de fevereiro de 2020.

Francisco

 

 



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