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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
AOS JOVENS DO MOVIMENTO EUCARÍSTICO JUVENIL (MEJ)

Sala Paulo VI
Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015

[Multimídia]


 

Muito obrigado pelas perguntas!

Na introdução das perguntas, há duas palavras que me impressionaram, e trata-se de palavras que se vivem na vida diária, tanto na sociedade como em família. Elas são: «tensão» e «conflito». Magat Diop falou de «tensão» nas relações familiares, e Gregorius Hanzel referiu-se aos «conflitos». O conflito. Mas o que seria — pensemos — uma sociedade, uma família, um grupo de amigos, sem tensões, sem conflitos? Sabeis o que seria? Um cemitério! Pois as tensões e os conflitos só não existem nas realidades mortas. Quando há vida, há tensão e conflito; e por isso é necessário desenvolver este conceito e procurar, na nossa vida, quais são as verdadeiras tensões, como elas surgem, porque se trata de tensões que dizem que estamos vivos; e como são tais conflitos. Somente no Paraíso eles não existem! Todos estaremos unidos na paz com Jesus Cristo. E cada um deve identificar as tensões da própria vida. As tensões fazem-nos crescer, desenvolvem a coragem. E os jovens devem ter a virtude da coragem! Um jovem sem coragem é um jovem «diluído», um jovem já idoso. Às vezes desejo dizer aos jovens: «Por favor, não vos aposenteis!». Porque há jovens que vão para a reforma com vinte anos: na sua vida tudo é seguro e tranquilo; vivem sem «tensões».

É claro que nas famílias existem tensões. Mas como é que se resolve uma tensão? Mediante o diálogo! Quando em família há diálogo, quando há a capacidade de dizer espontaneamente o que pensamos, as tensões resolvem-se bem. Mais alto, mais alto... Não se pode ter medo das tensões. Mas é necessário também estar atento, porque se gostares da tensão por causa da tensão, isto prejudicar-te-á, e serás um jovem conflituoso em sentido negativo, alguém que ama estar sempre em tensão. Não, isto não! A tensão vem para nos ajudar a dar um passo rumo à harmonia, mas também a harmonia provoca outra tensão para ser mais harmoniosa.

Para o dizer de modo claro: primeiro, não tenhamos medo das tensões, porque elas nos fazem crescer; segundo, resolvamos as tensões mediante o diálogo, porque o diálogo une, tanto em família como no grupo de amigos, e encontra-se uma senda para caminhar juntos, sem perder a própria identidade; terceiro, não devemos apegar-nos demais a uma tensão, porque isto nos prejudicará. Está claro? As tensões fazem-nos crescer, as tensões resolvem-se mediante o diálogo, e devemos estar atentos a não nos apegarmos demais a uma tensão, porque no fim ela nos destrói. Eu disse que um jovem sem tensões é um jovem «aposentado», um jovem «morto»; mas um jovem que só consegue viver em tensão é um jovem doente. É preciso distinguir isto.

Gregorius falou sobre os conflitos: o conflito numa sociedade como a Indonésia, onde se respira uma grande diversidade interna de culturas. Um conflito social. Até os conflitos nos podem beneficiar, porque nos levam a compreender as diferenças, nos fazem entender como são as diversidades e nos levam a compreender que se não encontrarmos uma solução que resolva este conflito, haverá uma vida de guerra. Para ser bem enfrentado, o conflito deve ser orientado para a unidade, e uma sociedade como a tua [dirigindo-se ao jovem que lhe formulou a pergunta], que tem uma cultura formada por muitas culturas no seu interior, deve procurar a unidade, mas no respeito por todas as identidades. O conflito só se resolve mediante o respeito pelas identidades. Quando assistimos à televisão ou lemos os jornais, vemos conflitos que não sabem resolver-se, e acabam em guerras: uma cultura não tolera a outra. Pensemos nos nossos irmãos Rohingya: foram expulsos de um país, e depois de outro, e de outro ainda, e navegam à deriva pelo mar... Quando chegam a um porto ou a uma praia, dão-lhes um pouco de água ou algo para comer e depois voltam a rejeitá-los ao mar. Trata-se de um conflito não resolvido, é uma guerra; isto chama-se violência, chama-se matar! É verdade: se entro em conflito contigo e te mato, ponho fim ao conflito. Mas o caminho não é este. Quando muitas identidades — culturais e religiosas — vivem juntas num país, haverá conflitos, mas é necessário o respeito pela identidade do outro. É com este respeito que se resolve o conflito. Eu disse que para resolver as tensões — em família, entre amigos — é necessário o diálogo; os verdadeiros conflitos sociais, e também culturais, só se resolvem mediante o diálogo, mas antes com o respeito pela identidade da outra pessoa. Inclusive no Médio Oriente vemos que muitas pessoas não são respeitadas: as minorias religiosas, os cristãos, e não apenas eles, não são respeitados: muitas vezes são assassinados, perseguidos. Por quê? Porque não se respeita a sua identidade. Na nossa história sempre houve conflitos de identidade religiosa, por exemplo, que surgiam devido à falta de respeito pela identidade da outra pessoa. «Mas ele não é católico, não crê em Jesus Cristo...» — «Respeita-o. Procura ver o que ele tem de bom. Busca na sua religião, na sua cultura, os valores que ele tem. Respeita!». Assim, os conflitos resolvem-se mediante o respeito pela identidade do próximo. E as tensões — os conflitos comportam tensões — somente se resolvem através do diálogo. É assim que respondo à tua pergunta, da Indonésia.

A fã do Pelé [uma jovem brasileira] fez a seguinte pergunta: qual foi o maior desafio ou dificuldade que o Papa Francisco teve de enfrentar na sua missão religiosa? Diria: encontrar sempre a paz no Senhor, aquela paz que somente Jesus nos pode conceder. No trabalho, nas tarefas, o desafio consiste em encontrar aquela paz que significa que o Senhor nos acompanha, que o Senhor está próximo. E existe também outro desafio: saber distinguir a paz de Jesus de uma outra paz que não vem de Jesus. Entendeste? E isto é algo que vós deveis aprender bem; deveis pedir ao Senhor a graça de saber discernir a paz autêntica da paz falsa. Discernir, este é o desafio! E a verdadeira paz vem sempre de Jesus. Às vezes ela chega «embrulhada» numa cruz. Contudo, é Jesus quem nos concede a paz na hora da provação. Ela nem sempre nos chega como uma cruz, mas a paz autêntica vem sempre de Jesus. Ao contrário a outra paz, a superficial, a paz que nos contenta, que nos contenta um pouco mas é superficial, deriva do inimigo, do diabo, para nos contentar: «Sinto-me contente, não me preocupo com isto, estou em paz...». Mas no fundo, dentro, há um engano! E aqui é necessário pedir esta graça, saber distinguir, conhecer qual é a paz de Jesus e qual é a paz que vem do inimigo, que nos destrói. O inimigo sempre aniquila: leva-nos a crer que o caminho a seguir é este mas depois, no final, deixa-nos sozinhos. Por isso, recordai-vos disto: o diabo é um mau pagador, nunca paga bem! Trapaceia-nos sempre, é um vigarista! Faz-nos ver as realidades alteradas; assim, cremos que se trata de algo bom, que nos dá paz, mas quando vamos neste rumo no final não encontramos a felicidade. Devemos procurar sempre a paz de Jesus: este é um desafio, um desafio que enfrentei, que ainda enfrento e também vós enfrentais. Mas qual é o sinal da paz de Jesus? Como sei que esta paz deriva de Jesus? O sinal é a alegria, uma alegria profunda. O diabo nunca nos dá alegria. Oferece-nos um pouco de diversão, um pequeno «circo», faz-nos contentes por um instante, mas nunca nos dá alegria. Aquela alegria somente Jesus no-la pode oferecer, doando-nos o Espírito Santo. E o desafio de todos nós — inclusive meu — consiste em procurar sempre a paz de Jesus; até nos momentos difíceis, mas sempre a paz de Jesus. E devemos saber distingui-la da outra paz, deturpada, que no fim é um embuste: acabamos mal e não nos pagam bem! Mas Jesus é um bom pagador, paga bem: paga muito bem!

Pin-Ju Lu perguntou-me se vejo sinais concretos de alegria na Igreja, no mundo deste século XXI. Há sinais, e um deles é este [indica os jovens presentes na sala]! É um sinal de esperança ver jovens como vós acreditarem que Jesus está presente na Eucaristia, crerem que o amor é mais forte do que o ódio, que a paz é mais forte do que a guerra, que o respeito é mais forte do que o conflito, que a harmonia é mais forte do que as tensões... Tudo isto é uma esperança, que me enche de alegria! E isto dá-me alegria, pois a pergunta de Pin-Ju Lu era: «Qual foi o seu momento de maior alegria, depois de se ter tornado Papa?», e além disso estes são sinais de esperança, ou positivos, neste mundo onde existem tantas guerras. Vivemos em guerra: repito muitas vezes, dizendo que esta é a terceira guerra mundial por etapas. Estamos em guerra, e isto é negativo. Mas existem também sinais de esperança e sinais de alegria.

Agora eu gostaria de retomar uma expressão inicial de Magat Diop, uma palavra da qual tirei o vocábulo «tensão»: a família. «Fortes tensões e lutas entre duas gerações». Pergunto-vos: quais são as duas gerações? Dizei-me: quais são? Eu pergunto, porque se vê que estais todos emudecidos. As gerações dos pais e dos filhos? São estas as duas gerações? Sim, as tensões entre o pai e a mãe e eu: eu quero algo, porque penso que a vida funciona assim, mas eles pensam de outro modo... Mas há outra geração. Por que motivo não falastes dos avós? Eis que vos digo algo — mas não se trata de uma repreensão — os avós são os grandes esquecidos desta nossa época. Agora um pouco menos, aqui na Itália, pois dado que não há trabalho e são eles que recebem a pensão, eis que se recordam dos avós! Mas os avós são os grandes esquecidos. E os avós representam a memória de uma família, a memória do país, a memória da fé, porque são eles que no-la transmitem. Os avós! Quanto a mim, dirijo-vos a seguinte pergunta: vós falais com os vossos avós? [Respondem: «Sim!»]; vós perguntais aos vossos avós: «Avô, avó, como foi que aquilo aconteceu? Como se faz isto? O que fazias tu?». Falai com eles, porque os avós constituem uma fonte de sabedoria, dado que conservam a memória da vida, a memória da fé, a memória das tensões, a memória dos conflitos... Os avós são bons! Eu gosto muito de falar com os avós. Agora narro-vos uma anedota. Recentemente, na praça, durante uma das audiências de quarta-feira, enquanto eu dava voltas com o papamóvel, vi ali presente uma avozinha, uma senhora idosa: e via-se que era idosa! Mas os seus olhos brilhavam de alegria. Assim, pedi que parassem o papamóvel. Desci e fui ao seu encontro para a cumprimentar. Ela sorria. «Diga-me avó, quantos anos a senhora tem?» — «92!» — «Ah, muito bem, cheia de alegria! Então, dê-me a receita do modo como se pode chegar assim à idade de 92 anos». E disse-me: «Sabe, eu como ravioli!». Em seguida, acrescentou: «E sou eu que os faço!». Esta é uma anedota para vos dizer que encontrar os avós é sempre uma surpresa. Os avós surpreendem-nos sempre: sabem ouvir-nos, têm paciência... Aqui falamos de três gerações, pelo menos de três gerações. E até quando os avós vivem em casa, ajudam muito a resolver as tensões, que são normais em família. Não vos esqueçais dos avós! Entendestes?

Louise: no Evangelho, Jesus diz-nos: «Vós sereis meus amigos, se fizerdes aquilo que vos ordeno». Contudo, neste relacionamento de amizade devemos também esperar em troca uma manifestação da sua presença?

Uma amizade é sempre em dois: eu sou teu amigo e tu és meu amigo. Quanto a Jesus, manifesta-se sempre — já falei sobre isto — na sua paz. Se te aproximares de Jesus, Ele comunicar-te-á a sua paz, a sua alegria. E quando te encontrares com Jesus na oração, numa obra de bem, numa tarefa de ajuda ao próximo — existem muitas maneiras de se encontrar com Jesus — sentirás paz mas também alegria. Esta é a sua manifestação, Louise. É assim! Jesus manifesta-se nesta retribuição. Mas és tu que o deves procurar, tanto na oração como na Eucaristia, na vida quotidiana, na responsabilidade dos teus deveres e inclusive indo ao encontro dos mais necessitados para os ajudar: é ali que Jesus se encontra! Ele far-te-á sentir isto. Às vezes sentirás aquilo que é característico precisamente do encontro com Jesus: o enlevo. O encanto de encontrar Jesus! Encontrar Jesus: por favor, não te esqueças destas palavras: encontrar Jesus!

Pensemos naquele dia (cf. Jo 1, 35-42): talvez fossem dez horas da manhã. Jesus passava, enquanto João e André estavam ali, com João Baptista, a conversar sobre muitas questões. E João Baptista disse: «É Ele, o Cordeiro de Deus! É Ele!». E eles, intrigados, foram atrás de Jesus, para o procurar. É a curiosidade... E Jesus faz um pouco de conta que não é nada, e dirige-se a eles dizendo: «Que procurais?» — «Onde moras?» — «Vinde!» (vv. 38-39). E eles — reza o Evangelho — permaneceram com Jesus o dia inteir0. Mas o que aconteceu depois? Correndo, André foi ao encontro do seu irmão Simão: sentia-se repleto de alegria, de um grande júbilo; estava cheio de admiração por se ter encontrado com Jesus. E disse: «Encontramos o Messias!» (v. 41). E João fez a mesma coisa em relação a Tiago. É assim! O encontro com Jesus enche-nos de encanto. É a sua presença! Depois passa, mas Ele transmite paz e alegria. Nunca te esqueças disto: enlevo, paz e alegria. Jesus está presente. Esta é a retribuição!

E agora «Maradona» [o rapaz argentino]. Papa Francisco, o que o senhor diria aos jovens a fim de que descubram a profundidade da Eucaristia?

É sempre útil pensar na última Ceia. E naquelas palavras que Jesus pronunciou, quando distribuiu o pão e o vinho, o seu Corpo e o seu Sangue: «Fazei isto em memória de mim». Ali está presente a memória de Jesus; a memória de Jesus que está ali, em cada Missa e aí nos salva! A memória daquele gesto de Jesus, que depois foi ao Horto das Oliveiras, onde teve início a sua Paixão. A memória de um amor tão grande que deu a sua vida por mim! E cada um de nós pode dizer isto.

A graça da memória, à qual me referi, quando falei sobre os avós. A graça da memória: a memória daquilo que Jesus fez. Não se trata apenas de um ritual, nem de uma celebração. Existem comemorações muito bonitas, festas militares, culturais... não, não! É algo diferente: significa ir ali, ao Calvário, onde Jesus entregou a sua vida por mim. Cada um de nós deve dizer isto. E com tal memória, vendo Jesus, recebendo o Corpo e o Sangue de Jesus, tu aprofundas o mistério da Eucaristia. «Mas Padre, quando vou à Missa, aborreço-me...». Mas não se trata de um ritual. Se quiseres aprofundar-te no mistério da Eucaristia, recorda-te disto. Este verbo é bonito, porque Paulo o diz a um dos seus discípulos preferidos — não me recordo se o dirige a Tito ou a Timóteo, mas a um dos dois, pois ambos foram ordenados bispos por ele mesmo. Recorda-te de Jesus Cristo (cf. 2 Tm 2, 8). Recorda-te de Jesus Cristo! Quando estou ali, quando participo na Missa, sei que Ele oferece a sua vida por mim. É assim que podemos aprofundar o Mistério. Além disso, quando não vais à Missa, mas vais rezar diante do Tabernáculo, recorda-te que Ele está ali, e que entregou a sua vida por ti. Esta é a memória! Foi este o mandato que Jesus deixou aos seus: «Fazei isto em memória de mim!». Ou seja, cada vez que fizerdes esta celebração, recordai-vos de mim; cada vez que fordes rezar diante do Tabernáculo, recordai-vos disto. E não vos esqueçais daquilo que são Paulo dizia ao seu discípulo, que também era bispo: Recorda-te de Jesus Cristo!

Concluamos assim o nosso diálogo de hoje. Obrigado! Eu tinha recebido as perguntas escritas, mas não as li antes. Aquilo que eu vos disse veio do meu coração, do modo como surgiu no momento.

Pensai nestas palavras: tensão-diálogo; conflito-respeito-diálogo; retribuição da presença de Jesus-amizade com Jesus: paz e alegria; encontro com Jesus: enlevo, alegria e paz; aprofundar a Eucaristia: memória daquilo que Jesus fez. E assim por diante. No mundo existem muitas fealdades, estamos em guerra; mas existem também muitas realidades positivas e tantos santos escondidos no meio do povo de Deus. Deus está presente! Deus está presente e existem muitos, numerosos motivos de esperança para ir em frente. Ânimo e em frente!

Antes de vos conceder a Bênção, podemos pedir o auxílio de Nossa Senhora. Porque as crianças, quando começam a caminhar, procuram a mão da própria mãe para não errar o caminho. Também nós devemos percorrer a vereda da vida segurando a mão da nossa Mãe. Oremos a Nossa Senhora, cada qual na sua própria língua.

[Ave Maria e Bênção]

Mas peço-vos por favor, por favor: não vos esqueçais de rezar por mim!

 



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