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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

HOMILIA DO SANTO PADRE
NA CATEDRAL DE OAXACA

Sexta-feira, 29 de Janeiro de 1979

 

Queridos irmãos e irmãs

Esta cerimónia, em que vou conferir com imenso gosto alguns ministérios sagrados a descendentes das antigas estirpes desta terra da América, confirma a verdade do que disse uma alta personalidade do vosso País ao meu venerado predecessor Paulo VI: Desde o começo da história das nações americanas, foi sobretudo a Igreja quem protegeu os mais humildes, a sua dignidade e valor, como pessoas humanas.

A verdade de tal afirmação é hoje de novo confirmada, uma vez que o Bispo de Roma e Pastor da Igreja Universal chamará alguns de entre eles a colaborarem com os seus Pastores no serviço da comunidade eclesial, para maior crescimento e vitalidade desta (Cfr. Evangelii Nuntindi, 73).

1. É sabido que estes ministérios não transformam leigos em clérigos: os que os recebem continuam sendo leigos, isto é, não deixam o estado em que viviam quando foram chamados (Cfr, 1Co. 7, 20).. Também quando cooperam, como suplentes ou ajudantes, com os Ministros sagrados, estes leigos são sobretudo colaboradores de Deus (Cfr. 1Cor. 3, 9), que recorre também a eles para dar cumprimento à sua vontade de salvar todos os homens (Cfr. 1Tim. 2, 4).

Mais ainda, precisamente porque estes leigos se comprometem, de maneira deliberada, com esse desígnio salvífico, a ponto de tal compromisso ficar sendo para eles a razão última da sua presença no mundo (Cfr. São João Crisóstomo, In Act. Ap. 20, 4), devem ser considerados como arquétipos ou modelos da participação de todos os fiéis na missão salvífica da Igreja.

2. Na realidade, todos os fiéis, em virtude do próprio Baptismo e do Sacramento da Confirmação, têm de professar publicamente a fé recebida de Deus por meio da Igreja, difundi-la e defendê-la como verdadeiras testemunhas de Cristo (Cfr. Lumen Gentium, 11). Ou seja, estão chamados à evangelização, que é dever fundamental de todos os membros do Povo de Deus (Cfr. Ad Gentes, 35), tenham ou não tenham particulares funções ligadas mais intimamente aos deveres dos Pastores (Apostolicam Actuositatem, 24).

A este propósito, deixai que o Sucessor de Pedro lance um fervoroso apelo, a todos e a cada um, para que assimilem e pratiquem os ensinamentos e as orientações do Concílio Vaticano II, que dedicou aos leigos o capítulo IV da Constituição dogmática Lumen Gentium e o Decreto Apostolicam Actuositatem.

Desejo ainda — como recordação da minha passagem entre vós e pondo também os olhos nos fiéis do mundo inteiro — aludir brevemente a tudo o que é próprio da cooperação dos leigos no apostolado único, nas suas expressões tanto individuais como associadas, e na sua característica determinante. Para isso, vou inspirar-me na invocação a Cristo, que lemos na oração de Laudes desta segunda-feira da quarta semana do tempo litúrgico ordinário: "Vós que estais sempre actuando no mundo em união com o Pai, renovai todas as coisas com a virtude do Espírito Santo".

Com efeito, os leigos, que por vocação divina comunicam com toda a realidade do mundo, injectando nela a sua fé, tornada realidade na sua vida pública e particular (Cfr. Sant. 2, 17), são os protagonistas mais imediatos da renovação dos homens e das coisas. Com a sua presença activa de crentes, trabalham na progressiva consagração do mundo a Deus (Cfr. Lumen Gentium, 34). Esta presença compagina-se com toda a economia da religião cristã, que é doutrina mas é sobretudo acontecimento: o acontecimento da Encarnação, Jesus Homem-Deus que recapitulou em si o universo (Cfr. Ef. 1, 10); corresponde ao exemplo de Cristo, que fez também do contacto físico um veículo de comunicação do seu poder restaurador (Cfr. Mc. 1, 41 e 7, 33; Mt. 9, 29 ss. e 20, 34; Lc. 7, 14 e 8, 54 ); é inerente à índole sacramental da Igreja, que, feita sinal e instrumento da união dos homens com Deus e da unidade de todo o género humano (Cfr. Lumen Gentium, 1), foi chamada por Deus a estar em comunhão permanente com o mundo para ser nele o fermento a transformá-la do interior (Cfr. Mt. 13, 33).

O apostolado dos leigos, assim entendido e posto em prática, confere sentido pleno a todas as manifestações da história humana, respeitando-lhe a autonomia e favorecendo-lhe o progresso que exige a natureza própria de cada uma delas. Ao mesmo tempo, dá-nos a chave para interpretarmos em plenitude o sentido da história, uma vez que todas as realidades temporais, como os acontecimentos que as manifestam, adquirem o seu significado mais profundo na dimensão espiritual que estabelece a relação entre o presente e o futuro (Cfr. Heb. 13, 14). O desconhecimento ou a mutilação desta dimensão converter-se-ia, de facto, num atentado contra a essência mesma do homem.

3. Ao deixar esta terra, levo de vós agradável recordação, a de me ter encontrado com almas generosas que desde já oferecerão a sua vida pela difusão do Reino de Deus. E, ao mesmo tempo, estou seguro que, à semelhança de árvores plantadas junto a rios de água, darão frutos abundantes a seu tempo (Cfr. Sl. 1, 3) para a consolidação do Evangelho.

Ânimo! Sede fermento no meio da massa (Mt. 13, 33), fazei Igreja! Por toda a parte vá despertando o vosso testemunho outros anunciadores da salvação: Quão formosos são os pés dos que anunciam boas novas! (Rom. 10, 15). Demos graças a Deus que principiou em vós a boa obra e a completará até ao dia de Cristo Jesus (19).

 



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