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SOLENIDADE DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR E BÊNÇÃO DOS CÍRIOS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2010

 

1. Lumen ad revelationem gentium.

Estas palavras ressoaram pela primeira vez no lugar mesmo do templo de Jerusalém, em que se realizava o rito da purificação das mães depois do nascimento do seu primogénito.

Pronunciou-as o velho Simeão, que era profeta.

Pronunciou-as diante de Maria e José, que tinham trazido ao templo o Menino nascido em Belém.

Ainda que estas palavras tenham ressoado num só lugar, a verdade proclamada nelas encheu o mundo inteiro: o espaço completo dedicado ao Deus de Israel na expectativa do Messias.

Estas palavras encheram o templo de Jerusalém com a luz dos seus destinos concebidos desde a eternidade:

"Luz para iluminar as nações / e glória de Israel, Vosso povo" (Lc 2, 32).

2. Entramos hoje na Basílica de São Pedro, repetindo as palavras de Simeão.

Caminhamos em procissão, empunhando as velas: o sinal da luz "que ilumina todo o homem" (Jo 1, 9). Sinal de Cristo nascido em Belém. Sinal de Cristo apresentado no templo. Sinal de contradição (cf. Lc 2, 34).

Confessamos Cristo neste sinal.

Não iam acaso contradizê-1'O os seus contemporâneos? Os filhos do povo ao qual Ele era mandado? Sim.

É assim. Contradisseram-n'O. Para apagar a Luz, deram-Lhe a morte.

Simeão profetiza esta morte quando diz à Mãe d'Ele: "Uma espada trespassará a vossa alma" (Lc 2, 35).

A morte de cruz não apagou a luz de Cristo. Ele não foi esmagado pela pedra do sepulcro.

Entramos, pois, nesta Basílica levando a luz: sinal de Cristo crucificado e ressurgido.

Na cruz e na ressurreição confirmar-se-á até ao fim a profecia de Simeão: sinal de contradição — sinal de luz.

3. Cristo não entrou acaso com este sinal na história do homem? Não vem Ele ter connosco partindo das diversas épocas da história? Não existe uma época, na qual Ele não tenha sido contradito. E nesta contradição desvelou-se, cada vez novamente, a Luz para iluminar o homem.

O nosso século não é também a época de uma múltipla contradição quanto a Cristo?

E precisamente neste século não se desvela Ele de novo como a Luz para iluminar os homens e os povos?

"Lumen gentium cum sit Christus...": precisamente com estas palavras começa o texto do principal documento da Igreja nos nossos tempos.

O sinal luminoso em que hoje professamos a Cristo — Filho de Maria — Cristo nascido em Belém, apresentado no templo — Cristo crucificado e ressurgido — é um sinal simples e ao mesmo tempo muito rico. Rico como a vida — porque de facto "a vida era a luz dos homens" (Jo 1, 4).

Cristo é a luz da vida humana. É a luz porque dissipa as suas trevas. É a luz porque esclarece os seus mistérios. Porque responde às perguntas fundamentais e ao mesmo tempo definitivas. É a luz porque dá o sentido à vida. É a luz pois convence o homem da sua grande dignidade.

No sinal desta luz viemos hoje a este templo romano de São Pedro, como uma vez Maria e José subiram ao templo da Antiga Aliança, que esperava o Messias.

4. Estamos aqui para viver de novo o mistério da Apresentação do Senhor. A apresentação no templo, que se tornou modelo e fonte de inspiração.

Ela é também a luz que ilumina a vida humana. Vivemos em Cristo com a luz da Apresentação.

Mediante o coração do homem, em que o homem oferece "sacrifícios espirituais", o mundo inteiro não se transforma num gigantesco templo dos cosmos?

Não se transforma num grande espaço cristocêntrico do espírito criado, em que opera o Espírito Santo?

Oh, quanto pode o pequeno coração humano ao deixar-se penetrar pela luz de Cristo, e ao tornar-se o templo da Apresentação!

5. Falo precisamente de vós, caros Irmãos e Irmãs, Filhos e Filhas da Igreja, pertencentes a tantas Ordens e Congregações religiosas.

Falo de todos — de todo o Povo de Deus que fez Cristo "para o nosso Deus um reino de sacerdotes" (Ap 5, 10) — mas falo sobretudo de vós.

De vós, que hoje estais aqui e levais nas vossas mãos a luz de Cristo — e de todos os vossos irmãos e irmãs no mundo inteiro. Em particular daqueles que levam as cruzes mais pesadas!

Oxalá a luz da santa Apresentação, que por graça de Cristo se acendeu nos vossos corações mediante a profissão religiosa, arda sempre em cada um e em cada uma de vós!

Ardendo, brilhe ela diante dos outros.

Não escondais esta luz! Não lhe tireis o seu simples esplendor evangélico!

Sois muito necessários a todo o Povo messiânico de Deus na sua peregrinação para a Luz eterna.

6. Cristo do templo de Jerusalém! Renovai-nos a nós todos no mistério da Vossa apresentação — consenti-nos, por intercessão da Vossa Mãe, que prossigamos com perseverança a caminho d'Aquele que "habita uma luz inacessível" (1 Tim 6, 16).

Amém.

 

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