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SANTA MISSA AOS ESTUDANTES POR OCASIÃO DA ABERTURA
 DO ANO ACADÉMICO 1982-1983 NOS INSTITUTOS ECLESIÁSTICOS
 DE ESTUDOS SUPERIORES DE ROMA

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Basílica de São Pedro
Terça-feira, 19 de Outubro de 1982

 

1. "Vós sois o sal da terra..." (Mt 5, 13).
"Vós sois a luz do mundo..." (
Mt 5, 14).

Com estas palavras saúda-vos, Professores e Estudantes dos ateneus eclesiásticos romanos, a liturgia de hoje.

Com estas palavras abrimos o novo ano académico.

Desejamos que tudo o que vai constituir o trabalho científico educativo deste ano tenha início na liturgia eucarística; que se desenvolva no espírito da Eucaristia.

Ao celebrar o Santíssimo Sacrifício, saúdo-vos no limiar desta Igreja apostólica que está em Roma. Ao dar-vos as boas-vindas, também eu vos saúdo, enquanto acolho a vossa saudação, como de amados irmãos e filhos na comunhão da vocação de Cristo.

2. No Evangelho de hoje Cristo diz: "Vós sois": "Vós sois o sal da terra...", "Vós sois a luz do mundo...". Ao mesmo tempo, porém, sentimos que Ele deseja dizer: "Vós deveis ser": deveis ser e deveis tornar-vos o sal da terra e a luz do mundo.

As palavras do Evangelho de hoje afirmam e exprimem, ao mesmo tempo, um dever.

Então: quem sois, ou quem deveis tornar-vos?

O Mestre usa uma metáfora: o sal e a luz.

O sal serve para que o alimento tenha o justo sabor. A luz serve "para que alumie a todos os que estão em casa" (Mt 5, 15).

A metáfora exprime sobretudo isto: quem deveis ser e para quem: para o mundo, para os homens.

A metáfora evangélica fala do dever que têm os discípulos de Cristo. Realça este dever. Mas, ao colocá-lo em evidência, faz referência a cada um deles como sujeito do dever. E nesta referência afirma: quem deve ser aquele que deve cumprir tal dever, e como deve ser?

O "sal" e "a luz" — palavras metafóricas — contêm em si a síntese do programa inteiro.

É o programa que se propõem as universidades e os ateneus eclesiásticos de Roma.

Programa proposto na perspectiva do próximo ano, mas, contemporaneamente, na perspectiva de todo o futuro: tal como Cristo indicou aos seus discípulos de todas as gerações até ao fim do mundo.

O programa, proposto de maneira orgânica, refere-se aos professores e aos educadores, em vista dos estudantes. Refere-se aos estudantes baseando-se no princípio da reciprocidade. Refere-se ao futuro.

Mediante tudo o que diz respeito aos vossos estudos, à vossa formação académica, espiritual, pastoral — mediante tudo isto a Igreja deve receber no futuro o novo contributo do "sal" e da "luz", por onde quer que vos conduzir a Providência divina.

3. Deste modo, então, um primeiro e fundamental motivo de meditação sobre a abertura do ano académico é o conteúdo do "sal" e da "luz".

A este está intimamente ligado o segundo elemento: a oração. A leitura tirada do Livro da Sabedoria fala sobretudo disto.

A oração faz parte, em sentido estrito, da lógica da metáfora de Cristo. Se "o sal" e "a luz" não apenas afirmam mas, ao mesmo tempo, exprimem o dever; se orientam para a pergunta "quem devo ser"? "Como devo ser"?, então, de igual modo, elas se referem à oração.

Esta conexão lógica vem das fundamentais premissas da antropologia cristã, isto é, da verdade cristã sobre o homem. O homem torna-se "o sal da terra" e "a luz do mundo" não somente assumindo o dever, mas também acolhendo a Graça e colaborando com ela.

A Graça é a dimensão do divino início do homem, e dos seus destinos divinos. A Graça é um dom da Redenção de Cristo. Eis, por isso, a oração.

Descobrimos a dimensão da Graça, respondemos ao dom da Redenção, mediante a oração.

"Por isso, pedi a prudência e ela me foi dada; supliquei e veio a mim o espírito de sabedoria" (Sab 7, 7).

Nestas palavras o Autor do Livro veterotestamentário faz uma confidência sobre o tema dos problemas mais profundos da sua vida.

Oxalá fale também a vós todos, membros da comunidade académica eclesiástica de Roma, esta confidência do Autor do Livro da Sabedoria! Que ela se torne, ao mesmo tempo, a confidência de cada um de vós.

De facto, pertenceis à comunidade dos mestres e dos discípulos precisamente por amardes a sabedoria: "Amei-a mais do que a saúde e a beleza, e antes a quis ter que a luz do sol, porque a sua claridade jamais se extingue" (Sab 7, 10).

A sabedoria!

É preciso descobri-la no centro mesmo da metáfora evangélica do "sal" e da "luz". Sim. Precisamente ela faz que o homem se torne aquele que deve ser para os outros, para o mundo. Exactamente nela se manifesta, ao mesmo tempo, "o dever" e "a Graça". Esta vem a nós mediante o trabalho constante e a oração não menos assídua.

Oh! quanto é necessária, hoje, para a Igreja esta sabedoria evangélica. Quão necessário é "falar como se deseja e ter pensamento digno dos dons recebidos" (cf. Sab 7, 15).

Tal modo de pensar e de falar procede de Deus durante a oração. "Porque é Ela o guia da sabedoria e o que corrige os sábios. Porque nós estamos nas Suas mãos, nós e as nossas palavras, toda a nossa inteligência e a nossa habilidade" (Sab 1, 15-16).

Assim acontece. De Deus, durante a oração, nos vem a palavra da sabedoria.

E, por isso, a presente assembleia eucarística é também o início da oração constante.

É preciso sempre sustentar os estudos com a oração e permear os esforços ascéticos com o trabalho sobre si mesmo, a fim de não nos mantermos no vazio. Com a oração é preciso cultivar constantemente a inteligência e o coração, para que o professor e o estudante se tornem, nas suas recíprocas relações "o sal da terra" e "a luz do mundo".

4. "Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus" (Mt 5, 16).

Venerados Professores, caros estudantes dos ateneus eclesiásticos de Roma! Coloca-se diante de vós o fim último de toda a criatura. O fim do homem no mundo: a glória de Deus!

Sois chamados, mediante a palavra do sal e da luz, a viver para a glória de Deus. A descobrir esta glória em todas as coisas. A reencontrá-la na inteira riqueza das criaturas. A vê-la com os olhos da fé e da teologia nos mistérios da Revelação Divina.

Sois chamados a anunciar e proclamar aos homens a glória de Deus, com todo o vosso pensar e com toda a vossa conduta.

Cristo vos diz hoje: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que glorifiquem vosso Pai" (Mt 5, 16).

A vossa vocação em Cristo está centralizada na glória do Pai.

A vossa vocação em Cristo é teocêntrica e, mediante isto, orientada para os homens e para o mundo.

No início do ano académico, meditai no conteúdo integral que suscitam em si as palavras: "o sal da terra" e "a luz do mundo", e procurai vivê-lo.

 

 

© Copyright 1982 - Libreria Editrice Vaticana



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