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HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DA FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR
 E DIA DA VIDA CONSAGRADA

2 de Fevereiro de 1997

 

1. Lumen ad revelationem gentium: Luz para iluminar as nações (cf. Lc. 2, 32).

Quarenta dias após o nascimento, Jesus foi levado por Maria e José ao Templo para ser apresentado ao Senhor (cf. Lc. 2, 22), segundo quanto está escrito na Lei de Moisés: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» (Lc. 2, 23); e para oferecerem em sacrifício, «como se diz na lei do Senhor, um par de rolas ou duas pombinhas» (Lc. 2, 24).

Ao recordar estes eventos, a liturgia segue, intencionalmente e com precisão, o ritmo dos acontecimentos evangélicos: o prazo dos quarenta dias desde o nascimento de Cristo. Fará de igual modo, depois, no que se refere ao período que vai da ressurreição à ascensão ao céu.

Três elementos fundamentais emergem no evento evangélico que hoje se celebra: o mistério da vinda, a realidade do encontro e a proclamação da profecia.

2. Antes de tudo o mistério da vinda. As leituras bíblicas, que acabámos de escutar, ressaltam o aspecto extraordinário desta vinda de Deus: anuncia-o com enlevo e alegria o profeta Malaquias, canta-o o Salmo responsorial, descreve-o o texto do Evangelho segundo Lucas. Basta, por exemplo, pôr-se em escuta do Salmo responsorial: «Portas, levantai os vossos frontões... pois vai entrar o Rei da glória! Quem é esse Rei da glória? O Senhor forte e poderoso... É Javé dos Exércitos. Ele é o Rei da glória» (Sl. 23, 7-8.10).

Entra no Templo de Jerusalém o Esperado durante séculos, Aquele que é o cumprimento das promessas da Antiga Aliança: o Messias anunciado. O Salmista chama-o «Rei da glória». Só mais tarde tornar-se-á claro que o seu Reino não é deste mundo (cf. Jo. 18, 36) e que quantos pertencem a este mundo estão a preparar para Ele, não uma coroa régia, mas uma coroa de espinhos.

A liturgia, todavia, olha para além. Vê naquele Menino de quarenta dias a «luz» destinada a iluminar as nações e apresenta-O como a «glória» do povo de Israel (cf. Lc. 2, 32). Ele é Aquele que deverá vencer a morte, como anuncia a Carta aos Hebreus, explicando o mistério da Encarnação e da Redenção: «Como os filhos participam do sangue e da carne, também Ele participou das mesmas coisas» (Heb. 2, 14), tendo assumido a natureza humana.

Depois de ter descrito o mistério da Encarnação, o Autor da Carta aos Hebreus apresenta o mistério da Redenção: «Por isso, teve de assemelhar-Se em tudo aos Seus irmãos, a fim de ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, para expiar os pecados do povo. E porque Ele mesmo sofreu e foi tentado é que pode socorrer os que são tentados» (ibid., 2, 17-18). Eis uma profunda e comovedora apresentação do mistério de Cristo. O trecho da Carta aos Hebreus ajuda-nos a compreender melhor porque esta vinda a Jerusalém, do recém-nascido Filho de Maria, é um evento decisivo para a história da salvação. O Templo desde a sua construção esperava, de um modo muito particular, Aquele que tinha sido prometido. A sua vinda reveste, portanto, um significado sacerdotal: «Ecce sacerdos magnus»; eis que o verdadeiro e eterno Sumo Sacerdote entra no Templo.

3. O segundo elemento característico da Celebração hodierna é a realidade do encontro. Mesmo se ninguém está a receber José e Maria que chegam, confundidos entre as pessoas, com o pequenino Jesus, no Templo de Jerusalém, acontece algo de muito singular. Aqui eles encontram pessoas guiadas pelo Espírito Santo: o velho Simeão, a respeito do qual escreve São Lucas: «Era justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor» (Lc. 2, 25-26), e a profetisa Ana, que tendo vivido «casada sete anos, após o seu tempo de donzela, ficara viúva. Tinha oitenta e quatro anos. Não se afastava do Templo, servindo a Deus, noite e dia, com jejuns e orações» (Lc. 2, 36-37). O Evangelista prossegue: «Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém» (Lc. 2, 38).

Simeão e Ana: um homem e uma mulher, representantes da Antiga Aliança que, num certo sentido, tinham vivido a sua inteira existência em vista do momento em que o Templo de Jerusalém haveria de ser visitado pelo esperado Messias. Simeão e Ana compreendem que o momento finalmente chegou e, confirmados pelo encontro, podem enfrentar com a paz no coração a última etapa da sua vida: «Agora, Senhor, podeis deixar o Teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação» (Lc. 2, 29-30).

Neste encontro discreto, as palavras e os gestos exprimem de maneira eficaz a realidade do evento que se cumpre. A vinda do Messias não passou despercebida. Foi reconhecida mediante o olhar penetrante da fé, que o velho Simeão manifesta nas suas tocantes palavras.

4. O terceiro elemento que emerge nesta festa é a profecia: hoje ressoam palavras deveras proféticas. Com o cântico inspirado de Simeão, a Liturgia das Horas conclui cada dia a jornada: «Agora, Senhor, os meus olhos viram a Salvação... luz para iluminar as nações e glória de Israel, Teu povo» (Lc. 2, 29-32).

O velho Simeão, ao dirigir-se a Maria, acrescenta: «Este Menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações» (Lc. 2, 34-35).

Assim, pois, enquanto ainda estamos no alvorecer da vida de Jesus, somos já orientados para o Calvário. É na cruz que Jesus se confirmará, de modo definitivo, como sinal de contradição, e é lá que o coração da Mãe será trespassado pela espada da dor. Tudo nos é dito desde o início, no quadragésimo dia após o nascimento de Jesus, na festa da apresentação de Jesus no Templo, bastante importante na liturgia da Igreja.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A celebração hodierna enriquece-se este ano de um novo significado. Pela primeira vez, com efeito, celebramos o Dia da Vida consagrada.

A todos vós, caros Religiosos e Religiosas, e a vós, caros Irmãos e Irmãs membros dos Institutos Seculares e das Sociedades de Vida Apostólica, é confiada a tarefa de proclamar, com a palavra e com o exemplo, a primazia do Absoluto sobre qualquer realidade humana. É um empenho urgente neste nosso tempo, que não raro parece ter perdido o sentido autêntico de Deus. Como recordei na Mensagem a vós dirigida para este primeiro Dia da Vida consagrada, nos nossos dias, «na verdade, existe uma grande urgência de que a vida consagrada se mostre sempre mais “cheia de alegria e de Espírito Santo”, se lance com entusiasmo nas estradas da missão, se torne credível pelo testemunho vivido, já que “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”» (n. 4). Possa a vossa missão na Igreja e no mundo ser luz e fonte de esperança.

Juntamente com o velho Simeão e com a profetisa Ana vamos ao encontro do Senhor no seu Templo. Acolhamos a luz da sua Revelação, empenhando-nos em difundi-la aos nossos irmãos, em vista do já próximo Grande Jubileu do Ano 2000.

Acompanhe-nos a Virgem Santa,
Mãe da esperança e da alegria,
e obtenha para todos os crentes
a graça de serem testemunhas
da salvação, que Deus preparou
diante de todos os povos,
no seu Filho encarnado, Jesus Cristo,
Luz para iluminar as nações
e glória de Israel, Seu povo.

Amém!

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