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 XII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
79ª VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II – PARIS

HOMILIA DO SANTO PADRE
NO ENCERRAMENTO  DO ENCONTRO
COM OS JOVENS EM «LONGCHAMP»

Paris, 24 de Agosto de 1997

 

1. «Mestre, onde moras?» (Jo 1, 38). Certo dia, esta pergunta foi feita a Jesus de Nazaré por dois jovens. Isto aconteceu nas margens do Jordão. Jesus tinha ido receber o baptismo de João; mas o Baptista, ao ver Jesus que vinha ao seu encontro, diz: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36). Estas palavras proféticas indicavam o Redentor, Aquele que ia dar a Sua vida pela salvação do mundo. Assim, desde o baptismo no Jordão, João indicava o Crucificado. Foram precisamente estes dois discípulos de João Baptista que, ao ouvirem estas palavras, seguiram Jesus: não é isto rico de sentido? Quando Jesus lhes perguntou: «Que buscais?» (Jo 1, 38) eles, por sua vez, responderam com uma pergunta: «Rabbi – que quer dizer Mestre – onde moras? » (ibid.). Jesus respondeu-lhes: «“Vinde ver”. Foram, pois, e viram onde morava, e permaneceram junto d’Ele nesse dia» (Jo 1, 39). Tornaram-se os primeiros discípulos de Jesus. Um deles era André, que conduziu também a Jesus o seu irmão Simão Pedro.

Caros amigos, estou feliz por poder meditar este Evangelho convosco, juntamente com os Cardeais e os Bispos que estão ao redor de mim. É-me grato saudá-los. Quero agradecer a D. James Francis Stafford e ao Pontifício Conselho para os Leigos a sua activa preparação deste maravilhoso encontro, no seguimento do Cardeal Eduardo Pironio, que muito trabalhou para as Jornadas Mundiais. A minha gratidão dirige-se ao Cardeal Jean-Marie Lustiger pelo seu acolhimento, a D. Michel Dubost, aos Bispos de França e aos dos numerosos países do mundo que vos acompanham e enriqueceram as vossas reflexões. Saúdo também cordialmente os sacerdotes concelebrantes, os religiosos, as religiosas, todos os responsáveis dos vossos movimentos e dos grupos diocesanos.

Agradeço a presença dos nossos irmãos cristãos de outras comunidades, assim como as personalidades civis que quiseram associar-se a esta celebração litúrgica.

Ao saudar todos vós de novo, desejo em particular exprimir o meu encorajamento afectuoso àqueles de entre vós que são deficientes; estamos-lhes gratos por terem vindo connosco e nos trazerem o seu testemunho de fé e de esperança. Recordo igualmente na oração todos os doentes, assistidos no hospital ou na própria casa.

Em nome de todos vós, quereria também exprimir a nossa gratidão aos numerosos voluntários que asseguram, com devotamento e competência, a organização da vossa reunião. Quereria elogiar sentidamente os voluntários pela sua seriedade. Voltemos ao Evangelho.

2. O breve trecho do Evangelho de João, que acabámos de escutar, diz o essencial do programa da Jornada Mundial da Juventude: um intercâmbio de perguntas, depois uma resposta que é um apelo. Ao apresentar este encontro com Jesus, a liturgia quer mostrar hoje o que mais vale na vossa vida. E eu, Sucessor de Pedro, vim pedir-vos que façais, vós também, esta pergunta a Cristo: «Onde moras?». Se Lhe dirigirdes sinceramente esta pergunta, podereis ouvir a Sua resposta e receber d’Ele a coragem e a força para O seguir.

A pergunta é o fruto duma busca. O homem procura a Deus. O jovem compreende no fundo de si mesmo que esta busca é a lei interior da sua existência. O ser humano procura o seu caminho no mundo visível; e, através do mundo visível, procura o invisível ao longo da sua peregrinação espiritual. Cada um de nós pode repetir as palavras do salmista: «É a Vossa face, Senhor, que eu procuro; não escondais de mim o Vosso rosto » (Sl 27/26, 8-9). Cada um de nós tem a sua história pessoal e traz em si o desejo de ver a Deus, um desejo que se experimenta ao mesmo tempo que se descobre o mundo criado. Este mundo é maravilhoso e rico, desvela diante da humanidade as suas inumeráveis riquezas, seduz, atrai a razão tanto quanto a vontade. Mas, no final das contas, não colma o espírito. O homem dá-se conta de que este mundo, na diversidade das suas riquezas, é superficial e precário; num certo sentido, está destinado à morte. Hoje tomamos mais consciência da fragilidade da nossa terra, com muita frequência degradada pela própria mão do homem, a quem o Criador a confiou.

Quanto ao homem mesmo, ele vem ao mundo, nasce do seio materno, cresce e matura; descobre a sua vocação e desenvolve a sua personalidade ao longo dos seus anos de actividade; depois, aproxima-se o momento em que deve deixar este mundo. Quanto mais longa é a sua vida, tanto mais o homem sente a sua própria precariedade, tanto mais faz a pergunta sobre a imortalidade: o que existe para além das fronteiras da morte? Então, no profundo do ser, surge a pergunta feita Àquele que venceu a morte: «Rabbi, onde moras?». Mestre, Vós que amais e respeitais a pessoa humana, Vós que partilhastes o sofrimento dos homens, que desvelais o mistério da existência humana, fazei-nos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida e da nossa vocação! «É a Vossa face, Senhor, que eu procuro; não escondais de mim o Vosso rosto» (Sl 27/26, 8-9).

3. Nas margens do Jordão, e ainda muito mais tarde, os discípulos não sabiam quem era verdadeiramente Jesus. Terão necessidade de muito tempo para compreender o mistério do Filho de Deus. Nós também trazemos em nós o desejo de conhecer Aquele que revela o rosto de Deus. Cristo responde à pergunta dos discípulos através de toda a Sua missão messiânica. Ele ensinava; para confirmar a verdade daquilo que proclamava, fazia grandes prodígios, curava os doentes, ressuscitava os mortos, aplacava as tempestades do mar. Mas todo este caminho fora do comum chegou à sua plenitude no Gólgota. É ao contemplá-l’O na Cruz, com o olhar da fé, que se pode «ver» quem é o Cristo Salvador, Aquele que carrega os nossos sofrimentos, o justo que fez da Sua vida um sacrifício para a justificação das multidões (cf. Is 53, 4.10-11).

São Paulo resume a sabedoria suprema na segunda leitura deste dia, com palavras muito impressionantes: «A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, e poder de Deus para os que se salvam, isto é, para nós, pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes”. [...] Pois, já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os crentes por meio da loucura da pregação. [...] Nós anunciamos a Cristo crucificado» (1 Cor 1, 18-23). O Apóstolo falava ao povo do seu tempo, aos filhos de Israel que tinham recebido a revelação de Deus no monte Sinai e aos Gregos que elaboravam uma alta sabedoria humana, uma grande filosofia. Mas agora, o fim e o ápice da sabedoria, é Cristo crucificado, não só por causa da Sua palavra, mas porque Se doou para a salvação da humanidade!

Com o seu excepcional ardor, São Paulo repete: «Anunciamos a Cristo crucificado ». Aquele que, aos olhos dos homens, parece não ser senão debilidade e loucura, nós proclamamos como Potência e Sabedoria, plenitude da Verdade. É verdade que em nós a confiança experimenta altos e baixos. É verdade que o nosso olhar de fé é muitas vezes obscurecido pela dúvida e pela nossa própria fragilidade. Humildes e pobres pecadores, aceitamos a mensagem da Cruz. Para responder à nossa pergunta: «Rabbi, onde moras?», Cristo dirige-nos um apelo: vinde ver; na Cruz vós vereis o sinal luminoso da redenção do mundo, a presença amorosa do Deus vivo. Precisamente porque compreenderam que a Cruz domina a história, os cristãos colocaram o crucifixo nas igrejas e à margem dos caminhos, ou levam-no no seu coração. Pois a Cruz é um sinal verdadeiro da presença do Filho de Deus; através deste sinal Se revela o Redentor do mundo. In hoc signo vinces!

4. «Rabbi, onde moras?». A Igreja responde todos os dias: Cristo está presente na Eucaristia, o sacramento da Sua morte e ressurreição. Nela e por ela, reconheceis a morada do Deus vivo na história do homem. Pois a Eucaristia é o sacramento do amor vencedor da morte, é o sacramento da Aliança, puro dom de amor para a reconciliação dos homens; é o dom da presença real de Jesus, o Redentor, no pão que é o seu Corpo imolado, no vinho que é o seu Sangue derramado por todos. Mediante a Eucaristia, incessantemente renovada em todos os povos do mundo, Cristo constitui a sua Igreja: Ele une-nos no louvor e na acção de graças pela salvação, na comunhão que só o amor infinito pode selar. O nosso encontro mundial toma todo o seu sentido agora, pela celebração da Missa. Jovens, meus amigos, que a vossa presença seja uma real adesão na fé! Pois eis que Cristo responde à vossa pergunta e, ao mesmo tempo, aos interrogativos de todos os homens que buscam o Deus vivo. Responde com o Seu convite: este é o Meu Corpo, comei-o todos. Confia ao Pai o Seu desejo supremo da unidade, na mesma comunhão de todos aqueles que por Ele são amados.

5. A resposta à pergunta: «Mestre, onde moras» comporta então numerosas dimensões. Tem uma dimensão histórica, pascal e sacramental. A primeira leitura de hoje sugere-nos ainda outra dimensão da resposta à pergunta-tema da Jornada Mundial da Juventude: Cristo habita no seu Povo. É o povo de que fala o Deuteronómio, em relação à história de Israel: «Foi porque o Senhor vos ama, porque é fiel ao juramento que fez aos vossos antepassados; por isso, a Sua mão poderosa vos arrancou e salvou da casa da escravidão [...]. Reconhece, então, que o Senhor, teu Deus, é o único Deus, um Deus verdadeiro e fiel ao pacto de misericórdia que estabeleceu com aqueles que O amavam e obedecem às Suas leis, até à milésima geração» (Dt 7, 8-9). Israel é o Povo que Deus escolheu para Si, com o qual estabeleceu uma Aliança.

Na Nova Aliança, a eleição de Deus estende-se a todos os povos da terra. Em Jesus Cristo, Deus escolheu toda a humanidade. Revelou a universalidade da eleição mediante a redenção. Em Cristo, já não há Judeu nem Grego, nem escravo nem homem livre, todos não fazem senão um só (cf. Gl 3, 28). Todos foram chamados a participar da vida de Deus, graças à morte e à ressurreição de Cristo. O nosso encontro, nesta Jornada Mundial da Juventude, não está a pôr em evidência esta verdade? Todos vós, aqui reunidos, provenientes de tantos países e continentes, sois as testemunhas da vocação universal do Povo de Deus remido por Cristo! A última resposta à pergunta «Mestre, onde moras?» deve, então, ser entendida assim: habito em todos os seres humanos salvos. Sim, Cristo habita no seu Povo, que aprofundou as suas raízes em todos os povos da terra, o povo que O segue, a Ele, o Senhor crucificado e ressuscitado, o Redentor do mundo, o Mestre que tem palavras de vida eterna, Ele «a Cabeça do povo novo e universal dos filhos de Deus» (Lumen gentium, 13). O Concílio Vaticano II disse de modo admirável: é Ele que «nos deu do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na Cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro» (ibid., n. 7). Graças à Igreja que nos faz participar da vida mesma do Senhor, todos nós podemos agora retomar as palavras de Pedro a Jesus: Para quem havemos nós de ir? Para quem outro havemos nós de ir? (cf. Jo 6, 68).

6. Caros jovens, o vosso caminho não se detém aqui. O tempo não pára hoje. Ide pelas estradas do mundo, pelos caminhos da humanidade, permanecendo unidos na Igreja de Cristo!

Continuai a contemplar a glória de Deus, o amor de Deus; e sereis iluminados para construir a civilização do amor, para ajudar o homem a ver o mundo transfigurado pela sabedoria e o amor eternos.

Perdoados e reconciliados, sede fiéis ao vosso baptismo! Testemunhai o Evangelho! Como membros da Igreja, activos e responsáveis, sede discípulos e testemunhas de Cristo que revela o Pai, permanecei na unidade do Espírito que dá a vida!

 

 

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