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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DO INÍCIO
DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
 DE 1990 NO BRASIL

 

Amados irmãos e irmãs em Jesus Cristo,
queridos Brasileiros
,

1. Neste encontro de início da Quaresma, saúdo-vos, com votos de todo o bem, exortando-vos à conversão a Deus numa vida mais digna e cristã.

Quaresma é tempo de caminhada para a Páscoa. A Igreja é santa em Cristo, mas pecadora em nós. Por isso, em toda a Quaresma ressoa na Liturgia este convite: “Reconciliai-vos com Deus. É agora o tempo favorável é agora o tempo da salvação”.

Para entrarmos no caminho da conversão nos é feita uma tríplice proposta: escuta da Palavra de Deus, oração e penitência pessoal e comunitária, com a prática das boas obras. E abre-se no Brasil, mais uma Campanha da Fraternidade.

2. A Igreja quer o bem do homem todo e de todos os homens. Guiada pelos Senhores Bispos, mestres e educadores da fé do povo cristão, administradores dos mistérios de Deus e construtores da unidade do Corpo místico de Cristo, ela vai agora centrar seu empenho de evangelizar no tema “Fraternidade e Mulher”, tendo como lema a grande verdade: “Mulher e Homem, imagem de Deus”.

Muito boa esta escolha, assim como a busca da novidade da Campanha: interpelação direta ao próprio ser da mulher e do homem, no que os dois são em si mesmos e no que são um para o outro, em ordem à conversão pessoal e comunitária, para se construir uma sociedade mais justa e fraterna, também para a mulher.

3. A mulher, efetivamente, tanto quanto o homem, é uma pessoa; é a única criatura que Deus quis por si mesma; a única a ser expressamente feita à imagem e semelhança do mesmo Deus, que é Amor Precisamente por isso, não pode se realizar plenamente, senão por um dom sincero de si mesma. Daí a origem da “comunhão”, em que deve exprimir-se a “unidade dos dois” e a dignidade pessoal, tanto do homem como da mulher.

Assim, nem o homem é superior à mulher, nem a mulher ao homem. Isso não quer dizer que ambos são iguais em tudo. Cada um dos dois, possui a totalidade e a dignidade do ser humano mas não da mesma forma. A mulher entende a sua realização e a sua vocação, como pessoa, segundo a riqueza dos atributos da feminilidade, que recebeu no dia da criação e que vai transmitindo de geração em geração, como sua maneira peculiar de ser imagem de Deus, obscurecida pelo pecado e recuperada em Jesus Cristo.

4. Com suas qualidades especificamente femininas, também ela está chamada a construir um mundo novo, participando na vida social e na vida e santidade da Igreja. Importante é que, em sua fundamental igualdade com o homem, não perda de vista a sua complementaridade e, sobretudo, a sua máxima nobreza: “ser imagem e semelhança de Deus”.

O espelho só reflete a “imagem” quando está no lugar certo, tem a devida luz e está polido. Para ambos, mulher e homem, o “espelho” é Cristo; a luz vem de Deus; e o lugar certo está marcado pela lei ética (“ethos”) gravada em cada coração. A Palavra de Deus proclama que, onde a mulher deixou de ser “ imagem ” e “semelhança” d’Aquele que é Amor, há um imperativo de conversão; para ela ou para os demais. Isto é, impõe-se a necessidade de libertar-se de algum mal, do pecado. De tudo quanto ofende o outro; toda a ofensa “diminui” não só aquele a quem se ofende, mas também aquele que a comete.

5. A dureza do coração humano, ferido pelas consequências do pecado original, no decorrer da história, foi prejudicando e transtornando o plano do Criador, também quanto à mulher, imagem de Deus. Agora é preciso percorrermos os caminhos da conversão, retornar à vontade original do Senhor.

Aqui deixo pois o meu apelo para a mulher brasileira, em favor da mulher brasileira, nem escrava nem rainha, só mulher:

- mulher-criança: a ser olhada como flor rara, mas simples, que, ao desabrochar, na aurora da vida, quer receber e refletir a luz de Deus;

- mulher-moça: sol da manhã de primavera, pela limpidez do olhar a irradiar esperança, precisando de respeito, confiança e dignidade;

- mulher-adulta: sol do meio-dia, com a sua dignidade simples, sinceridade e candura, a iluminar e a dar calor, pela reflexão serena, pela retidão do espírito, e pela harmonia com que se apresenta, veste e adorna;

- mulher-anciã, sombra que desce, acolhedora, em natural afeto materno e peculiar sabedoria e prudência, vivendo em doação, no desejo de servir a felicidade de outrem, a felicidade de todos os seus semelhantes.

A todas as mulheres brasileiras e a todos os Brasileiros, em todas as situações e em todos os ambientes, dirijo o meu apelo. Agradeçam a Deus e rezem por todas e cada uma: pelas mães, pela irmãs, pelas esposas; pelas consagradas a Deus na virgindade; pelas que se dedicam e gastam como imagem de Deus e que sabem ser senhoras, e pelas outras.

E peçamos à Mulher, Maria de Nazaré, “espelho de justiça”, pela elevação do Brasil, com o concurso da mulher brasileira. Que Nossa Senhora Aparecida, a todos ajude, como fruto da Campanha da Fraternidade, a “caminhar na fé, na caridade e numa união mais perfeita com Deus”. Com esta prece, a todos abençoo:

Em nome do Pai - e do Filho - e do Espírito - Santo. Amém.

Vaticano, 28 de Fevereiro de 1990

 

PAPA JOÃO PAULO II



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