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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AO SENHOR
ALFREDO LUNA TOBAR NOVO EMBAIXADOR
DO EQUADOR JUNTO DA SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

26 de Junho de 1997

 

Senhor Embaixador

1. É-me grato receber as Cartas que acreditam Vossa Excelência como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Equador junto da Santa Sé, neste acto que me oferece também a possibilidade de lhe dar as minhas cordiais boas-vindas.

Agradeço sinceramente a deferente saudação que o Senhor Presidente, Dr. Fabián Alarcón, quis transmitir-me por meio de Vossa Excelência, expressão da proximidade espiritual da sua Pátria a esta Sé Apostólica, provada ao longo da sua história pelas contínuas actividades da Igreja através dos seus membros e instituições. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir ao Senhor Presidente os meus melhores votos, com a certeza da minha oração ao Altíssimo, para que outorgue prosperidade e bem espiritual a todos os equatorianos.

As cordiais palavras que me dirigiu, Senhor Embaixador, fizeram-me reviver os momentos da minha Viagem pastoral à sua Pátria, da qual conservo indelével e grata recordação, e na qual tive a ocasião de compartilhar as preocupações e esperanças das suas populações, professar juntamente com elas a mesma fé nas várias e emocionantes celebrações e apreciar «os valores mais genuínos da alma equatoriana, que embora no meio das dificuldades, demonstra a sua confiança em Deus e o seu propósito de se manter fiel à herança dos seus antepassados: à sua fé cristã à Igreja, à sua cultura, às suas tradições e à sua vocação de justiça e liberdade» (Discurso de despedida, 1 de Fevereiro de 1985, ed. port. de L'Osservatore Romano de 10.2.1985, pág.11).

2. Compraz-me comprovar que os vínculos que unem o povo equatoriano à Sé de Pedro estão bem convalidados pelas cordiais relações que, sobre a base de acordos e do respeito recíproco, permitem uma leal e frutuosa colaboração entre o Estado e a Igreja, que se alarga também em determinadas ocasiões aos foros internacionais, nos quais hoje se abordam grandes problemáticas de interesse para toda a humanidade. Há que desejar que esta colaboração continue e dê frutos para o bem da Nação equatoriana. Por sua vez, a Igreja sente como próprio o dever de propugnar os valores fundamentais que salvaguardam a dignidade da pessoa, como por exemplo, entre outros, a tutela da vida humana em todas as etapas do seu desenvolvimento e a defesa da família como instituição basilar e insubstituível, tanto para o indivíduo como para a sociedade. Do mesmo modo, procura promover, através da educação integral e da formação religiosa, os aspectos transcendentais do ser humano, sem os quais não pode alcançar a sua plena maturidade e a sua realização pessoal na liberdade. A missão da Igreja, que consiste em proclamar Cristo como único Salvador dos homens e da história, exige também um esforço constante em favor da paz entre as Nações e no seio de cada uma delas.

Por isso, é confortador saber que o Governo que Vossa Excelência representa se propôs com decisão a dialogar e colaborar amplamente com os organismos internacionais em que, sem dúvida, tem uma palavra importante a dizer, se se consideram a sua tradição, cultura e convicção. É importante que não falte esta voz diante de concepções ou propostas que, sob o pretexto de lucros parciais ou passageiros, conculcam os mais sagrados princípios morais, conduzindo na realidade a uma degradação das pessoas e da própria sociedade.

3. Superar as barreiras do isolamento nacional significa resgatar os povos da marginalização internacional e do empobrecimento (cf. Centesimus annus 33), que não se limita aos aspectos económicos, mas deve aplicar-se também no mundo das ideias, dos direitos fundamentais e dos valores. Neste sentido, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano eu recordava a importância que têm os organismos e diálogos multinacionais para a abordagem, com boas esperanças de êxito, das questões que podem ser causa de conflito nos povos e entre as nações (cf. n. 4).

Neste contexto, é motivo de satisfação a vontade expressa pelo seu Governo de continuar as conversações em Brasília, com o apoio construtivo dos países garantes, que têm como objectivo chegar a uma solução digna e mutuamente aceitável das divergências no que concerne ao conhecido problema limítrofe com a Nação irmã do Peru. Posso assegurar-lhe que não faltará a minha especial oração ao Todo-poderoso pelo bom êxito dos esforços em vista de uma solução que leve estavelmente à concórdia entre os dois povos irmãos. Por sua vez, esta será mais fácil se as iniciativas diplomáticas forem acompanhadas de uma autêntica pedagogia da paz, que contribua para incrementar uma atitude de colaboração e harmonia entre todos.

4. A comunidade internacional acompanhou, não sem uma certa preocupação, os imprevisíveis acontecimentos que, no início deste ano, puseram à prova a têmpera do povo equatoriano e das suas mais altas instituições. Providencialmente, as dificuldades foram superadas com prontidão e de maneira pacífica, sem que se tenha caído na armadilha da violência, fortalecendo assim as instituições políticas.

O Governo que Vossa Excelência representa, Senhor Embaixador, assumiu um compromisso público de aperfeiçoar o Estado com a finalidade de melhorar a garantia de estabilidade institucional, ao mesmo tempo que formulou a sua firme decisão de fazer todo o possível para promover uma ordem social mais justa. A consecução de ambos os propósito postula uma reconciliação da actividade política com os valores éticos, de maneira que o poder público se impregne, tanto nos seus objectivos como nos seus métodos, do sincero afã de servir incondicionalmente o bem comum.

Nesta árdua empresa, as dificuldades podem levar à tentação de busca soluções espirituais redutivas, que não têm em devida consideração os valores espirituais e humanos que, sem dúvida, são ao mesmo tempo sinal e garantia de um futuro deveras prometedor e solidamente arraigado no tecido social do povo equatoriano. Com efeito, será difícil que uma nação alcance grandes metas, se os cidadãos não viverem com convicção firme os mais elevados ideais e os valores mais profundos. Neste sentido, é confortadora a vigência da «lei de liberdade educativa das famílias do Equador », que através da educação religiosa nas escolas aspira a fomentar uma formação integral dos alunos, que lhes permita desenvolver também a dimensão transcendente própria do ser humano. Formulo os meus melhores votos para que se proceda a uma adequada e cada vez melhor aplicação desta lei.

5. Perante os problemas, por vezes graves e urgentes, que o Equador tem à frente, a Igreja neste País não permanece indiferente e, menos ainda, pretende outro bem senão o do próprio povo, do qual ela faz parte e o qual serve com generosidade. A sua missão essencial, de proclamar a salvação de Cristo a todo o homem e ao homem todo, faz dela uma instância inspiradora e promotora de uma cultura de solidariedade e convivência pacífica na justiça, impelindo as vontades a colaborarem a favor do progresso e do bem comum, sem esquecer a atenção que merecem os mais pobres e desamparados. As multíplices iniciativas em sectores tão decisivos como a educação, a saúde, o serviço às várias comunidades nativas ou os indigentes são consequência da sua convicção de que evangelizar é também «anunciar a Boa Nova aos pobres» (Lc 4, 18). A Igreja que está no Equador, recebendo em determinadas ocasiões a solidariedade de outras Igrejas, exerce desta forma também a sua missão peculiar ao mesmo tempo que, a partir da sua própria identidade e autonomia, contribui para o bem das pessoas e do povo equatoriano em geral.

6. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro, exprimo-lhe a certeza da minha estima e apoio, juntamente com os meus melhores votos para que a importante missão que hoje inicia seja fecunda para o Equador, e a sua permanência nesta Cidade, que não é nova para Vossa Excelência, lhe seja grata e proveitosa.

Enquanto de novo lhe peço que se faça intérprete dos meus sentimentos e esperanças junto do seu Governo, invoco a Bênção de Deus sobre Vossa Excelência, sobre a sua ilustre família e os seus colaboradores, bem como sobre os amadíssimos filhos da nobre nação equatoriana. 

 

© Copyright 1997 - Libreria Editrice Vaticana

 



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