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 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
SENHOR MARCO CÉSAR MEIRA NASLAUSKY
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*

12 de Novembro de 1989

 

Senhor Embaixador

1. É para mim grato acolher o distinto Representante do Brasil neste ato de apresentação das Cartas Credenciais como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto à Santa Sé. É aqui recebido hoje, como sempre o será, com a atenção e interesse que merecem a pessoa de Vossa Excelência e o seu nobre País; este, aliás, tem vindo a demonstrar recíproca consideração, até na escolha dos mandatos para esta missão, ao refletir o sincero afeto do povo brasileiro, em primeiro lugar do Presidente da República Federativa do Brasil, pelo Sucessor de Pedro.

Por isso, agradeço as amáveis palavras e a saudação que o mais Alto Mandatário da Nação desejou fazer-me chegar, através de Vossa Excelência. Peço-lhe encarecidamente a fineza de retribuir a saudação, de minha parte, com votos de paz e de bem.

2. Com a recente reeleição do Senhor Presidente da República, o Governo brasileiro prepara-se para dar continuidade à obra de saneamento social devido, como Vossa Excelência afirmava, «às distorções e injustiças acumuladas» nos anos de instabilidade política e econômica. Tenho acompanhado principalmente, e com interesse, a aplicação daqueles mecanismos de ação, destinados, entre outros, a enfrentar uma mais justa distribuição da riqueza, o direito de instrução escolar e de educação a todos os níveis, o espinhoso problema da dívida pública e o drama do desemprego em muitos setores da economia nacional. Anoto com satisfação os frutos alcançados pelo empenho do Governo brasileiro em dar prioridade à área social, na defesa dos direitos humanos especialmente da infância, e a efetiva aplicação da reforma agrária. São estes sérios desafios para a paz e o progresso harmônico da sociedade mas que, como compreenderá, dizem respeito a uma mais ampla exigência social, que vê no bem-estar futuro da família brasileira o referencial intransferível de toda ação governamental.

Assim sendo, permita-me acrescentar, Senhor Embaixador, que a comprovação do desenvolvimento do Brasil, registrado nestes últimos anos, será duradoura na medida em que houver, ao mesmo tempo, um crescimento dos valores morais que fazem da solidariedade, especialmente entre os menos favorecidos, o eixo das mais importantes decisões. A crise global que o mundo atravessa não é só de carácter financeiro, mas sim crise de valores, de ideais, do fundamento moral que norteia, de modo especial, a família. Foi por isso que no ano passado, em minha Viagem Pastoral ao Rio de Janeiro, para o II Encontro Mundial com as Famílias, quis sublinhar o fato que «através da família, toda a existência humana é orientada para o futuro. Nela, o homem vem ao mundo, cresce e amadurece. Nela, ele se torna um cidadão sempre mais maduro do seu país, e um membro da Igreja sempre mais consciente» (Homilia, 5 de outubro de 1997).

3. O momento de esperança que vive o País e os anseios de sua gente, por ver renovada a sociedade em seu conjunto, constituem fortes estímulos para uma mais ampla cooperação e sentimentos de partilha pelo bem comum, que estão na base da tradição cristã do povo da Terra da Santa Cruz.

A proximidade da celebração dos dois mil anos do nascimento de Cristo, coincidindo com os quinhentos anos de evangelização do Brasil, servirá, não resta dúvida, para recolher as experiências passadas e abrir-se aos desafios futuros, tendo em vista o papel que a Providência chamará vossa grande Nação a desempenhar no panorama internacional.

Sabemos, porém, que só poderá alcançar-se uma ordem temporal mais justa, se o progresso material vier acompanhado de um melhoramento dos espíritos, isto é, dos valores morais a nível nacional e internacional, como recordei na Encíclica Sollicitudo rei socialis; com efeito, a interdependência que hoje caracteriza e condiciona a vida dos indivíduos e dos povos deve ser um pressuposto moral que leve à «determinação firme e perseverante pelo bem comum» (n. 38). A defesa dos mais abandonados pela sociedade, a transparência nas decisões políticas conforme critérios de justiça, eqüidade e solidariedade, uma constante integração das raças e das culturas são, entre outros, postulados improrrogáveis de toda sociedade, mormente a brasileira, que há muito participa no cenário das decisões internacionais, como promotora de paz e de concórdia entre as nações.

Faço votos, Senhor Embaixador, que na consolidação destas exigências, o Brasil siga apoiando-se nos princípios cristãos do seu povo, por um renovado empenho a favor do bem comum, em contraste com o individualismo reinante em tantas regiões do globo, que está a sufocar as mais nobres aspirações de bem. Neste sentido, desejo reiterar aqui que a Igreja manterá sempre a rota traçada pelo Redentor dos homens, valendo- se dos princípios evangélicos da caridade e da justiça, para que, no âmbito da missão que lhe é própria e com respeito devido do pluralismo, seja promotora de todas aquelas iniciativas que sirvam à causa do homem como cidadão e filho de Deus. O exemplo de Frei Galvão recentemente beatificado, por todos conhecido como «o homem da caridade e da paz», e renascido em Cristo no mesmo ano em que o vosso País se tornou independente, sinaliza a todos os homens de boa vontade o caminho de uma Nação cada vez mais justa e mais fraterna.

A Santa Sede, por sua parte, não deixar á de favorecer também o melhor entendimento entre os povos, de modo especial os países latino-americanos - unidos por fortes laços históricos, culturais e religiosos - potenciando aqueles valores morais e espirituais que reforcem a solidariedade efetiva e eliminem as barreiras que tanto dificultam a compreensão e o diálogo, a nível de comunidade internacional.

4. Senhor Embaixador: na conclusão deste nosso encontro, peço-lhe a gentileza de fazer-se portador dos meus sinceros votos de felicidades ao Senhor Presidente da República, no momento em que se prepara para gerir, por mais um mandato, os altos destinos do Brasil; desejo, outrossim, manifestar-lhe minha gratidão pelas palavras de apreço que o Senhor Fernando Henrique Cardoso, em união com todos os brasileiros, quis enviar-me por ocasião da Beatificação do Frei Antônio de Sant'Anna Galvão. À Vossa Excelência exprimo a estima e o apoio de toda esta Sé Apostólica, para a nova e importante missão que hoje está a iniciar; peço a Deus que esta seja coroada de abundantes frutos e alegrias.

Ao encarecer-lhe fazer-se intérprete dos meus sentimentos e esperanças para quantos, em seu Governo, conduzem os destinos do povo brasileiro, aproveito a circunstância para implorar, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, para sua pessoa, para seu mandato e para seus familiares, assim como para todos os amados filhos da nobre Nação brasileira, copiosas bênçãos de Deus Todo- Poderoso.


*Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. XXI, 2 p. 995-998.

L'Osservatore Romano 13.11. 1998 p.7.

 

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