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PEREGRINAÇÃO JUBILAR DO PAPA JOÃO PAULO II
AO MONTE SINAI
(24 - 26 DE FEVEREIRO DE 2000)

ENCONTRO ECUMÉNICO

PALAVRAS DO SANTO PADRE

 Nova Catedral de Nossa Senhora do Egipto
Cidade do Cairo (25 de Fevereiro de 2000)

 

"A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor  de  Deus  e  a  comunhão  do  Espírito  Santo  estejam  com  todos  vós!" (2 Cor 13, 13).

Santidade Papa Shenouda
Beatitude Patriarca Stephanos
Bispos e Dignitários das Igrejas
e das Comunidades eclesiais
do Egipto

1. Com a bênção de São Paulo, que nos conduz directamente ao coração do mistério da comunhão trinitária, saúdo todos vós com profundo afecto e nos vínculos do amor que nos congrega no Senhor.

Para mim é uma grande alegria vir como peregrino ao país que ofereceu hospitalidade e protecção ao Senhor Jesus Cristo e à Sagrada Família; como está escrito no Evangelho de São Mateus:  "José levantou-se à noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto. Lá ficou até à morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito por meio do profeta:  "Do Egipto chamei o meu Filho"" (Mt 2, 14-15).

O Egipto foi a casa da Igreja desde o princípio. Fundada sobre a pregação apostólica e a autoridade de Marcos, a Igreja de Alexandria tornou-se imediatamente uma das principais comunidades no mundo cristão nascente. Bispos veneráveis como Santo Atanásio e São Cirilo deram testemunho da fé em Deus uno e trino e em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como os primeiros Concílios ecuménicos o definiram. É no deserto do Egipto que a vida monástica encontra a sua origem, nas suas formas tanto solitária como comunitária, sob a paternidade espiritual de Santo António e de São Pacómio. Graças a eles e ao grandioso impacto dos seus escritos espirituais, a vida monástica tornou-se uma parte da nossa herança comum. Durante as últimas décadas, aquele mesmo carisma monástico floresceu novamente e agora difunde uma vital mensagem espiritual, para muito além das fronteiras do Egipto.

2. Hoje damos graças a Deus pelo facto de estarmos cada vez mais conscientes da nossa herança comum, na fé e na riqueza da vida sacramental. Também temos em comum aquela filial veneração pela Virgem Maria, Mãe de Deus, pela qual a Igreja copta e todas as Igrejas orientais são famosas. E "quando se fala de um património comum, devem-se inserir nele não só as instituições, os ritos, os meios de salvação, as tradições que todas as Comunidades conservaram e pelas quais elas estão plasmadas, mas também, e em primeiro lugar, esta realidade da santidade" (Carta Encíclica Ut unum sint, 84). A fim de conservar e anunciar fielmente este património, a Igreja no Egipto teve de enfrentar grandes sacrifícios e continua a fazê-lo. Quantos mártires aparecem no venerável Martirológio da Igreja copta, que remonta às terríveis perseguições dos anos 283-284! Através do seu infalível testemunho, eles louvaram a Deus no Egipto até à morte!

3. Desde o início, estas comuns tradição e herança apostólicas foram transmitidas e explicadas de várias formas, tendo em consideração a específica índole cultural dos povos. Contudo, até ao século V, os factores teológicos e não teológicos, amalgamados à falta de amor e compreensão fraternos, levou a dolorosas divisões na única Igreja de Cristo. Nasceram a desconfiança e a hostilidade entre os cristãos, em contradição com o fervoroso desejo de nosso Senhor Jesus Cristo, que pediu:  "Para que todos sejam um só" (Jo 17, 21).

Contudo, durante o século XX o Espírito Santo levou as Igrejas e as Comunidades cristãs a uma maior união, num movimento de reconciliação. Recordo com gratidão o encontro entre o Papa Paulo VI e Sua Santidade o Papa Shenouda III em 1973, bem como a Declaração Cristológica Comum, que eles assinaram nessa ocasião. Dou graças por todas aquelas pessoas que contribuíram para esse importante resultado, especialmente a Fundação Pró-Oriente de Viena e a Comissão Internacional Conjunta entre a Igreja romano-católica e a Igreja copto-ortodoxa. Queira Deus que esta Comissão Internacional Conjunta e a Comissão Internacional Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja romano-católica e a Igreja ortodoxa voltem imediatamente a ser activas, de modo  especial  a  propósito  de  determinadas  questões  eclesiológicas  fundamentais que ainda necessitam de um esclarecimento.

4. Reitero aqui o que escrevi na minha Carta Encíclica Ut unum sint, isto é, que tudo o que está relacionado com a unidade de todas as comunidades cristãs claramente faz parte integrante das solicitudes do Bispo de Roma (cf. n. 95). Por conseguinte, desejo renovar a exortação a fim de que todos "os responsáveis eclesiais e os teólogos instaurem comigo, sobre este argumento, um diálogo fraterno e paciente, no qual nos possamos ouvir, pondo de lado estéreis polémicas, tendo em mente apenas a vontade de Cristo para a sua Igreja" (n. 96). No que concerne ao ministério do Bispo de Roma, peço ao Espírito Santo que nos ilumine com a sua luz, esclarecendo todos os pastores e teólogos das nossas Igrejas, para juntos podermos buscar as formas de fazer com que este ministério concretize um serviço de amor,  reconhecido  por  todas  as  pessoas  interessadas  (cf.  Homilia  de  6 de  Dezembro  de  1987,  n.  3;  cf.  também Ut unum sint, 95). Dilectos Irmãos, não devemos perder tempo a este propósito!

5. A nossa comunhão no único Senhor Jesus Cristo, no único Espírito Santo e no único Baptismo já representa uma realidade profunda e essencial. Esta comunhão torna-nos capazes de dar um testemunho comum da nossa fé numa série de modos, e efectivamente exige que cooperemos na transmissão da luz de Cristo a um mundo que sente necessidade da salvação. Este testemunho comum é ainda mais importante no início de um novo século e milénio, que apresenta enormes desafios à família humana. Também por este motivo, não se deve perder tempo!

Como condição básica para este testemunho comum, devemos evitar tudo o que possa conduzir, uma vez mais, à desconfiança e à discórdia. Concordámos em evitar todas as formas de proselitismo ou métodos e atitudes opostos às exigências do amor cristão, o que deveria caracterizar os relacionamentos entre as Igrejas (cf. Declaração Comum assinada pelo Papa Paulo VI e pelo Papa Shenouda III, 1973). E recordamos que a verdadeira caridade, arraigada na total fidelidade ao único Senhor Jesus Cristo e no respeito mútuo pelas tradições eclesiais e pelas práticas sacramentais de cada um, constitui um elemento essencial desta busca da comunhão perfeita (Ibid.).

Não nos conhecemos uns aos outros de maneira suficiente:  por conseguinte, esforcemo-nos por encontrar modos de nos encontrarmos! Procuremos formas viáveis de comunhão espiritual, tais como a oração e o jejum conjuntos, ou os intercâmbios mútuos e a hospitalidade entre os mosteiros. Busquemos formas de cooperação concreta, de maneira especial em resposta à sede espiritual de inúmeras pessoas no mundo de hoje, para o alívio da sua aflição, na educação dos jovens, na salvaguarda de condições de vida humanas, na recíproca promoção do respeito, da justiça e da paz, assim como no progresso da liberdade religiosa como direito humano fundamental.

6. No início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, no dia 18 do passado mês de Janeiro, abri a Porta Santa da Basílica de São Paulo fora dos Muros em Roma e ultrapassei o seu limiar em companhia dos representantes de muitas Igrejas e Comunidades eclesiais. Juntamente comigo estavam Sua Excelência Amba Bishoi, da Igreja copta, enquanto os representantes das Igrejas ortodoxa e luterana elevaram o Livro dos Evangelhos em direcção aos quatro pontos cardeais. Tratava-se de uma expressão profundamente simbólica da nossa missão comum no novo milénio:  juntos, devemos dar testemunho do Evangelho de Jesus Cristo, da mensagem salvífica de vida, amor e esperança para o mundo.

Durante essa mesma Liturgia, três representantes de diversas Igrejas e Comunidades eclesiais proclamaram o Credo apostólico, tendo a primeira parte sido anunciada pelo representante do Patriarcado greco-ortodoxo de Alexandria. Sucessivamente, oferecemo-nos uns aos outros o sinal da paz, e para mim esse momento jubiloso representou a antecipação e o antegozo da plena comunhão que nos estamos a esforçar por alcançar entre todos os seguidores de Cristo. Queira o Espírito de Deus conceder-nos sem tardar a unidade completa e visível à qual aspiramos!

7. Confio esta esperança à poderosa intercessão da Theotokos, Arquétipo da Igreja. Ela é a criatura toda pura, toda bela e toda santa, capaz de "ser Igreja" como nenhuma outra criatura jamais o pode ser. Sustentados pela sua presença maternal, devemos ter a coragem de admitir as nossas culpas e hesitações, buscando a reconciliação que nos há-de fazer "viver no amor, como Cristo nos amou" (cf. Ef 5, 2). Veneráveis Irmãos, o terceiro milénio cristão seja o milénio da nossa plena unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

Enfim, desejo agradecer muito cordialmente ao Papa Shenouda as comovedoras palavras que me dirigiu. Compartilho as esperanças que ele expressou e quero retribuir-lhe com estas palavras:  "Também nós vos amamos!".

 


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