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DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II 
AO  EMBAIXADOR DO EGIPTO
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS
 CARTAS CREDENCIAIS

Quinta-feira, 7 de Setembro de 2000


 
Senhor Embaixador

É com prazer que hoje lhe dou as boas-vindas e recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Árabe do Egipto junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que Vossa Excelência proferiu e os bons votos que transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Mohamed Hosni Mubarak. Pediria que lhe comunicasse as minhas cordiais saudações, juntamente com a certeza das minhas orações pela paz e o bem-estar do povo egípcio.

A sua presença evoca a alegria dos dias que transcorri no seu País no passado mês de Fevereiro, e uma vez mais expresso o meu sentido agradecimento ao Senhor Presidente Mubarak e ao Governo por ter podido realizar essa visita tão memorável e fecunda. Neste ano bimilenário do nascimento de Jesus Cristo, para mim constituiu uma grande graça viajar a lugares de importância vital para a história religiosa do mundo. Recordo-me de modo particular do Monte Sinai, onde pude comemorar o dom da Lei que há muito tempo Deus escreveu sobre tábuas de pedra e continua a inscrever em todas as épocas no coração humano.

Conservo uma lembrança particularmente afectuosa do meu encontro com o Grão-Xeque Mohammed Sayed Tantawi. Juntos, expressámos o desejo de uma nova era de diálogo religioso e cultural entre o Islão e o Cristianismo. Senhor Embaixador, neste contexto é-me deveras grato ouvir Vossa Excelência descrever o Egipto como uma terra em que a unidade e a harmonia são enormemente valorizadas e onde as diferenças de religião não são consideradas obstáculos, mas meios de enriquecimento mútuo ao serviço da Nação. Faço votos sinceros por que seja sempre assim, e oxalá se superem as dificuldades que surgirem de vez em quando, de forma especial em vista da difundida disponibilidade e das condições positivas para o diálogo inter-religioso e a cooperação que se podem encontrar no Egipto.

Num mundo assinalado por uma violência tão profunda, é tristemente irónico que os piores conflitos se travem entre crentes que adoram o único Deus, que consideram Abraão como o santo Patriarca e que procuram seguir a Lei do Sinai. Cada acto de violência torna mais urgente a necessidade de muçulmanos e cristãos reconhecerem em toda a parte o que têm em comum, darem testemunho de que todos são criaturas do único Deus misericordioso e admitirem de uma vez para sempre que cada recurso à violência em nome da religião é completamente inaceitável.

De modo especial quando a identidade religiosa coincide com a identidade cultural e étnica, o solene dever dos crentes consiste em assegurar que o sentimento religioso não seja usado como pretexto para o ódio e o conflito. A religião é contrária à exclusão e à discriminação; ela busca o bem de todos e, por conseguinte, deve constituir sempre um estímulo para a solidariedade e a harmonia entre os indivíduos e entre os povos.

Quando visitei o seu País, também tive a alegria de me encontrar com Sua Santidade o Papa Shenouda III e os representantes das antigas Igrejas do Egipto, e de celebrar com eles o glorioso passado do cristianismo nessa terra. Sensibilizou-me profundamente a memória da rica cultura cristã que teve origem em Alexandria, dos inumeráveis santos e mártires egípcios da Igreja, bem como do monaquismo cristão que nasceu no deserto do Egipto e dali se difundiu no mundo inteiro.

Trata-se de uma página rica de história tanto cristã como nacional; e a comunidade católica no Egipto, embora seja exígua, está determinada em continuar a trabalhar de todas as formas em benefício do progresso da terra que deu um impulso tão grande ao desenvolvimento espiritual e teológico da cristandade.

Hoje, o Egipto ocupa um lugar central entre as nações que procuram instaurar uma paz justa e duradoura no Médio Oriente. Não obstante se tenham verificado progressos positivos nos últimos tempos, estes são dias difíceis no longo e árduo caminho rumo à solução dos inúmeros problemas ainda insolúveis que atingem essa região profundamente perturbada. Sinto-me encorajado pela certeza que Vossa Excelência me dá, de que o Egipto compartilha a solicitude constante da Santa Sé pelo futuro daquela parte do mundo para a qual as três religiões monoteístas olham com tanta estima. Não se devem poupar esforços na promoção de uma solução genuína e imparcial que respeite os direitos e as aspirações legítimas de todas as pessoas interessadas. Estou grato por quanto o seu País e de modo especial o Senhor Presidente Mubarak têm feito para garantir que os horrores da guerra e a sua futilidade sejam eliminados, e a paz assente na justiça prevaleça depois de tantos anos de amargura.

A Igreja está profundamente interessada na busca da paz nessa região, não obstante no seu serviço à causa da paz desempenhe um papel bastante diverso do das autoridades civis e políticas. Ao cumprir a sua missão religiosa, a Igreja está presente na ordem temporal sobretudo através dos seus esforços em vista de educar as consciências para as verdades e os valores que são os fundamentos do bem-estar dos indivíduos e das sociedades. Isto significa proclamar e salvaguardar a dignidade humana, trabalhar para fortalecer a harmonia e a solidariedade, e promover a acção concreta em benefício do bem comum.

Embora dedique a sua diligência em primeiro lugar aos fiéis católicos, a Igreja permanece firmemente decidida em cooperar, com todos os homens e mulheres de boa vontade, no bem-estar genuíno de toda a família humana. A Igreja oferece de bom grado o seu auxílio e encorajamento onde quer que se despendam esforços pacíficos e legítimos em vista de obstar tudo quanto ameaça a saúde moral das nações e dos povos, ou periclita a compreensão e a concórdia que deveriam existir entre os mesmos.

Senhor Embaixador, tenho a certeza de que a sua missão há-de revigorar ainda mais os vínculos de amizade e de cooperação já existentes entre o Egipto e a Santa Sé, e que estes laços serão fecundos no serviço à grande causa da paz. Invoco as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da sua amada Nação.

 

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