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DISCURSO DO SANTO PADRE
 AO NOVO EMBAIXADOR DA
REPÚBLICA ISLÂMICA DO IRÃO
JUNTO À SANTA SÉ

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

 

 
Excelência Senhor Mostafa Borujerdi

É de muito bom grado que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Islâmica do Irão junto da Santa Sé. As amáveis saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Seyed Mohammad Khatami evocam a memória do nosso cordial encontro neste mesmo recinto há apenas três anos: no espírito da amizade e do respeito que caracterizaram a visita presidencial ao Vaticano, peço que lhe comunique os meus bons votos, assegurando as minhas orações pela sua pessoa e nação.

Vossa Excelência recordou a importância de um verdadeiro diálogo entre as culturas, se os esforços dos homens e das mulheres de boa vontade no mundo inteiro quiserem obter bom êxito na promoção de uma duradoura era de paz e fraternidade para todos os povos e nações. Com efeito, foi em virtude da sugestão do Senhor Presidente Kathami que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas declarou o ano de 2001 como "Ano internacional do diálogo entre as Civilizações". Assim, este eminente organismo internacional, que representa a família das nações, chamou a atenção para a urgente necessidade de as pessoas reconhecerem que o diálogo é o caminho necessário para a reconciliação, a harmonia e a cooperação entre as diferentes culturas e tradições religiosas. Esta é a abordagem que dará a todos a garantia de poder olhar para o futuro com serenidade e esperança.

O nosso mundo é feito de uma incrível complexidade e variedade de culturas humanas. Cada uma destas culturas se distingue pela virtude do seu particular desenvolvimento histórico e pelas consequentes características que a tornam um conjunto original e orgânico. Com efeito, a cultura constitui uma forma de auto-expressão do homem, que percorre a história; em síntese, é "o cultivo dos bens e valores da natureza" (Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo, Gaudium et spes, 53). É sobretudo através da cultura que as pessoas adquirem o sentido de identidade nacional e desenvolvem o amor pelo seu próprio país; trata-se de valores que devem ser tutelados, não com tacanhez de espírito, mas com respeito e compaixão por toda a família humana. Como tive a ocasião de salientar na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, devem- se envidar esforços para "evitar que as formas patológicas que têm lugar quando o sentido patriótico assume tons de auto-exaltação, de exclusão da diversidade, gerando formas nacionalistas, racistas e xenófobas" (n. 6).

Assim, o apreço pelos valores presentes na própria cultura deve ser oportunamente acompanhado pelo reconhecimento de que cada cultura, como realidade tipicamente humana e condicionada sob o ponto de vista histórico, tem necessariamente os seus limites. Esta compreensão ajuda a evitar que o orgulho da própria cultura se transforme em isolamento ou se torne uma forma de preconceito e de perseguição contra as demais culturas. O estudo atento das outras culturas revelará que, sob o aspecto de características aparentemente divergentes, existem significativos elementos internos que são comuns. Deste modo, a diversidade cultural pode ser entendida no contexto mais vasto da unidade de toda a raça humana. Desta forma, será menos provável que as diferenças culturais se tornem manancial de mal-entendidos entre os povos e causa de conflitos e guerras; será mais fácil mitigar as reivindicações, às vezes exageradas, de uma determinada cultura sobre a outra. No diálogo entre as culturas, os homens de boa vontade conseguem ver que existem valores comuns a todas as culturas, porque estão radicados na própria natureza da pessoa humana. Trata-se de valores que expressam as características mais autênticas e distintas da humanidade: o valor da solidariedade e da paz; o valor da educação; o valor do perdão e da reconciliação; o valor da própria vida.

É-me grato observar que a Santa Sé e as Autoridades iranianas têm trabalhado em conjunto, tendo em vista criar oportunidades para este diálogo, não só como promotores de vários encontros mas também como activos participantes nos mesmos. Penso de forma particular no Colóquio patrocinado em conjunto pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e o Secretariado para o Diálogo Inter-religioso da Organização para a Cultura e a Comunicação islâmicas, que teve lugar em Roma no ano passado, sobre o tema do pluralismo religioso na cristandade e no islão. Um ulterior Colóquio, também este promovido de forma conjunta pela Organização para a Cultura e a Comunicação Islâmicas e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, tem a sua realização prevista em Teerã, mais tarde durante este ano, sobre o tema da identidade religiosa e a educação dos jovens.

Além disso, desejo expressar o meu apreço pelas Conferências bilaterais regulares, que as Autoridades iranianas patrocinam juntamente com outras Igrejas e Comunidades cristãs, dos quais o mais recente teve lugar no ano passado em Teerã, sobre o tema "Islão e Cristandade ortodoxa". Este diálogo certamente ajudará os Governos e os legisladores na salvaguarda dos direitos civis e sociais dos indivíduos e dos povos, de forma especial quando se trata do direito fundamental à liberdade religiosa. Este direito constitui um ponto de referência para todos os demais direitos e de certa forma torna-se um parâmetro dos mesmos, uma vez que envolve o espaço mais íntimo da nossa identidade e dignidade pessoais de seres humanos. Consequentemente, mesmo nos casos em que o Estado concede uma posição jurídica especial a uma religião em particular, subsiste o dever de assegurar que o direito à liberdade de consciência seja legalmente reconhecido e respeitado de forma efectiva para todos os cidadãos e para os estrangeiros que residem nesse país (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1998, n. 1). Quando surgem problemas, o modo eficaz de preservar a harmonia é mediante o diálogo. Os governantes das nações têm o singular dever da clarividência, honestidade e coragem, reconhecendo que todas as pessoas possuem os mesmos direitos e dignidade inalienável, que lhes foram concedidos por Deus, e trabalhando com dedicação pelo bem comum de todos.

A este propósito, a Santa Sé conta com a colaboração das Autoridades iranianas para assegurar que os fiéis católicos do Irão presentes nessa região do mundo desde os primeiros séculos da cristandade gozem da liberdade de professar a sua fé e continuem a constituir uma parte da vida cultural da nação. Não obstante a comunidade cristã seja uma exígua minoria da população global, ela considera-se verdadeiramente iraniana; e após séculos de coexistência com os irmãos e irmãs muçulmanos, ela encontra-se numa posição singular, que lhe permite contribuir para o entendimento mútuo cada vez maior e o respeito entre os fiéis cristãos e os seguidores do islão em toda a parte.

Senhor Embaixador, referi-me aqui a alguns dos ideais e aspirações comuns, que estão na base do crescente relacionamento de respeito e de cooperação entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão. Estou persuadido de que a sua posição como representante do seu Governo servirá para revigorar os vínculos que já nos unem. Enquanto lhe asseguro toda a ajuda e assistência, ao procurar cumprir as suas altas responsabilidades, rezo para que o Senhor Embaixador, o Governo e o povo iranianos que aqui são por Vossa Excelência representandos, recebam as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.

 

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