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DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DA ISLÂNDIA
JUNTO DA SANTA SÉ

Sexta-feira, 17 de Maio de 2002

 

 
Senhor Embaixador

É com grande prazer que o recebo no Vaticano para a aceitação formal das Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Islândia junto da Santa Sé. Tendo em mente as lembranças duradouras da hospitalidade que a Islândia me reservou em 1989, peço-lhe que transmita as minhas saudações cordiais ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Olafur Ragnar Grimsson, assim como ao governo e aos seus compatriotas. Asseguro a todos e a cada um as minhas orações pelo bem-estar e a prosperidade de toda a Nação.

O vigésimo quinto aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Islândia e a Santa Sé constitui uma fonte de enorme satisfação, e alegro-me com Vossa Excelência pelos inúmeros factores espirituais e culturais que desejou mencionar e que contribuem para fazer dos vínculos entre a Islândia e a Santa Sé uma expressão de grande amizade e de respeito mútuo. Esta ocasião impele-me a reflectir sobre o contexto e a finalidade da diplomacia, de maneira especial num período que o Senhor Embaixador quis definir como "incerto e complexo".

A transformada configuração da comunidade internacional num mundo que se está a globalizar tem efeitos devastadores sobre as relações existentes entre os países e os povos.

Talvez não se trate tanto do facto de que os elementos essenciais da comunidade internacional estão a mudar. Os governos nacionais, as redes de comércio e de finanças, as agências internacionais e as organizações não governamentais, as Igrejas e as associações civis de todos os tipos: estes são os elementos da sociedade do presente, como foram no passado e como serão no futuro previsível. A estes elementos deveriam acrescentar-se, como factor fundamental e cada vez mais influente, os meios de comunicação - com frequência dotados de poderosos vínculos políticos e comerciais - que estão, eles também, a passar por um período de rápida transição, como resultado dos incessantes progressos tecnológicos.

Contudo, o ponto mais amplo e mais importante a considerar é que, se tais elementos são por si mesmos mais ou menos estáveis, a sua interacção e os seus relacionamentos não o são: efectivamente, eles estão a mudar com grande rapidez, sob as pressões da globalização.

Um dos principais efeitos disto é que, no mundo, observamos a mudança das fontes do poder, enquanto a autoridade política se multiplica de várias maneiras. Por exemplo, é claro que os líderes comerciais e financeiros dos dias de hoje exercem uma parte da autoridade que outrora pertencia exclusivamente aos governantes políticos. Por conseguinte, os efeitos da globalização, tanto sobre a natureza como sobre a prática da democracia, têm necessidade de ser examinados com uma atenção posterior. Levantam-se interrogações que se tornam cada vez mais prementes, à luz dos acontecimentos mais recentes: que possibilidade existe de que as políticas sejam globais, e não apenas nacionais? Quem seria responsável pela execução e a implementação de tais políticas? Que possibilidade existe de uma fiscalização democrática, certa e autêntica, das forças que estão cada vez mais em vigor no fórum internacional? E o que dizer dos tribunais internacionais? Quem é que deve designar os juízes e decidir o contexto legal dentro do qual tais tribunais deverão trabalhar? Sem dúvida, estas e outras interrogações análogas exigem atenção.

Nem os indivíduos nem as nações podem evitar os efeitos destas transformações na arena internacional. Por exemplo, em virtude das mudanças no relacionamento entre o comércio e o governo, as relações internacionais e o comércio entre os Estados, não raro, misturam-se.

Talvez isto seja inevitável, mas traz consigo o risco de reduzir os intercâmbios entre os Estados e os povos a transações comerciais, de tal forma que tudo passa a ser incluído na categoria da economia, como já se verifica nas sociedades em que a ideologia do consumismo está a prevalecer. Se esta tendência não for acompanhada e enriquecida de outras preocupações sociais e culturais, também a diplomacia deixará de servir o desenvolvimento integral dos indivíduos e dos povos, e o bem comum de toda a família humana, como deve ser. A fim de ser fiel à vocação que lhe é própria, num período como o presente, a diplomacia tem necessidade de fazer da pessoa humana o núcleo da sua visão e do critério do seu compromisso; ela precisa de ser orientada por uma sólida compreensão da pessoa humana e da sociedade dos homens.

Também a Igreja católica está intimamente comprometida na vida da comunidade internacional, não a fim de promover os interesses nacionais ou ideológicos, mas para servir o desenvolvimento integral dos povos, em conformidade com o mandamento evangélico. As raízes cristãs da Islândia remontam pelo menos à Idade Média, e esta herança espiritual, esta alma cristã, é o mais profundo manancial da índole do seu povo e das suas tradições.

Ela constitui inclusivamente o recurso em que a sua Nação se deve inspirar, enquanto desempenha a parte que lhe é própria na construção da Europa do futuro. Embora seja numericamente exígua, a comunidade católica da Islândia tem contribuído de maneira convicta para esta tarefa, de modo especial no contexto das fecundas relações ecuménicas dos últimos tempos.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a sua missão ajudará a consolidar ainda mais os relacionamentos já cordiais, que se desenvolveram entre a Islândia e a Santa Sé ao longo destes últimos vinte e cinco anos. No momento em que Vossa Excelência está a assumir as suas responsabilidades, no âmbito da comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, formulo-lhe os meus sinceros bons votos e asseguro-lhe que os diversos Departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e a sua família, mas também sobre o querido povo da Islândia, invoco de bom grado as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

 

© Copyright 2002 - Libreria Editrice Vaticana

 



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