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DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II
 AO NOVO EMBAIXADOR DA SUÉCIA
 JUNTO DA SANTA SÉ

Sexta-feira, 17 de Maio de 2002

 

Senhor Embaixador

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e que recebo as Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Suécia junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte de Sua Majestade o Rei Carlos XVI Gustavo, e pedir-lhe-ia que comunicasse a Sua Majestade os meus sinceros agradecimentos e os meus bons votos, que faço extensivos também ao governo e ao povo da Suécia, com a certeza das minhas orações pelo bem-estar da Nação.

As minhas recordações da hospitalidade sueca não diminuíram desde a minha visita, ocorrida em 1989, e é-me grato lembrar a visita que Suas Majestades o Rei, a Rainha Sílvia e a Princesa Vitória realizaram ao Vaticano em 1999, por ocasião da proclamação de Santa Brígida como co-Padroeira da Europa. Sem dúvida, estas visitas ajudaram a consolidar as relações cordiais entre a Suécia e a Santa Sé, as quais têm profundas raízes e que, no futuro, certamente hão-de dar novos frutos.

Aprecio as suas considerações sobre a edificação de "um mundo em que a cooperação, a solidariedade, o respeito pelo indivíduo e a compreensão recíproca constituam um fundamento para formar uma comunidade internacional justa, pacífica, segura e humana"; neste campo, existe uma finalidade que a Santa Sé compartilha com a Suécia. No termo do novo milénio pudemos testemunhar, por assim dizer, uma extraordinária aceleração, a nível mundial, daquela busca de liberdade que constitui uma das grandes dinâmicas da história humana, observando que havia grandes esperanças de que era possível um renovado período de paz e de estabilidade. Contudo, os acontecimentos a partir de então demonstraram que esta perspectiva não se realizará sem uma grande sabedoria e um esforço perseverante. Por conseguinte, é ainda mais urgente que a comunidade internacional se esforce por construir a paz e a estabilidade, tendo como fundamento a justiça e a solidariedade autênticas, e não os interesses particulares ou as animosidades prolongadas. Por outro lado, os modelos de violência, derivados dos profundos desequilíbrios mundiais, continuarão de maneira indefinida; e a dinâmica da esperança humana revolta-se contra esta perspectiva.

Vossa Excelência quis justamente falar dos valores elementares, como a igualdade, a liberdade e a tolerância. Estes valores são considerados como fundamentais e são valorizados por todos, e de maneira especial no seu País; e isto é um motivo de grande satisfação. Contudo, é normal que nos interroguemos acerca do fundamento destes valores, e assim entendemos que eles derivam de uma compreensão da universalidade da dignidade humana. Contudo, compreendemos também que no nosso mundo esta universalidade é com frequência ignorada e até mesmo rejeitada. Nisto consiste a contradição que a Igreja católica procura indicar e ajudar as pessoas e superar. Porque o perigo se apresenta quando estes valores são afirmados e, todavia, os seus fundamentos são negados, porque os próprios valores são desvirtuados e correm o risco de se transformarem no seu oposto.

Por exemplo, quando a liberdade é afastada da verdade universal da pessoa humana, mais cedo ou mais tarde torna-se um novo tipo de escravidão, em que a lei do mais forte certamente há-de prevalecer.

Acreditamos que todos os seres humanos são iguais em termos de dignidade. Isto significa que os mais frágeis - independentemente da forma que a sua debilidade possa assumir - não são menos dotados de direitos inalienáveis do que os mais fortes. Com efeito, eles podem encontrar maiores dificuldades no momento de defender os seus direitos ou de apresentar as suas reivindicações, mas isto não altera a verdade básica segundo a qual eles possuem a mesma dignidade. Com efeito, em conformidade com a perspectiva da Igreja católica, em última análise, qualquer sociedade deve ser julgada segundo o nível de protecção que oferece aos seus membros mais fracos. Trata-se de uma compreensão tirada da própria Bíblia, que insiste sobre o facto de que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus (cf. Gn 1, 26), uma compreensão profundamente impregnada na cultura sueca.

O 700° aniversário de Santa Brígida oferece uma maravilhosa ocasião para centrar a atenção de maneira ainda mais clara na herança cristã da Suécia, e para confirmar o facto de que os valores fulcrais desta herança são também essenciais para a renovada unidade que a Europa está procurando edificar. A busca de uma nova unidade europeia é complexa, mas oferece a esperança de ultrapassar os antagonismos do passado e de interromper definitivamente o círculo do recurso à violência; por conseguinte, ela deve ser encorajada. Contudo, se não se fundamenta sobre os valores fundamentais que Vossa Excelência quis mencionar, e se estes, por sua vez, não estiverem assentes num sentido de universalidade da dignidade humana, então provavelmente a busca da unidade europeia será desiludida. A comunidade católica na sua Nação é pequena, mas também continuará a oferecer a sua contribuição positiva para o futuro que Vossa Excelência não hesitou em descrever como "justo, pacífico, seguro e humano".

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe que os Departamentos da Cúria Romana estarão prontos a oferecer qualquer assistência de que possa ter necessidade, no cumprimento dos seus importantes deveres. Oxalá a sua missão sirva para revigorar ulteriormente os vínculos de compreensão e de cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo da Suécia, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

 


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