Senhor Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola,
senhores delegados e representantes permanentes dos Estados-membros,
ilustres senhores e senhoras!

Tenho o prazer de me dirigir a vós por ocasião deste encontro do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e aproveito a oportunidade para vos transmitir as minhas cordiais saudações. Gostaria de vos agradecer o compromisso, o tempo e as energias que dedicais à luta por um mundo melhor, onde a ninguém seja lesada a dignidade e onde a fraternidade se torne realidade, fonte de alegria e de esperança para todos.

Hoje, o nosso mundo está diante de uma dicotomia angustiante. Por um lado, milhões de pessoas são atormentadas pela fome e, por outro, uma grande insensibilidade manifesta-se no desperdício de comida. Os alimentos que são desperdiçados todos os anos geram grandes massas de gases com efeito de estufa, quando uma distribuição adequada seria suficiente para alimentar todas as pessoas que sofrem de fome.

Vivemos tempos de precariedade. Levamos o mundo a limites perigosos: o clima continua a mudar; saqueiam-se os recursos; os conflitos e a crise económica ameaçam os meios de subsistência de milhões de pessoas. Perante a crise, as comunidades rurais são as primeiras a ser atingidas, pois não dispõem de recursos para enfrentar a situação gerada pelas mudanças climáticas e pelas hostilidades, e assim são excluídas do acesso ao financiamento. Também os povos indígenas são vítimas de sofrimentos, privações e abusos. Contudo, o seu conhecimento sobre a gestão dos recursos naturais e a sua ligação com o meio ambiente podem ajudar a conservar a biodiversidade.

Outro grupo negligenciado são as mulheres, pilar de mais de metade das famílias que sofrem devido à insegurança alimentar nas áreas rurais, onde muitos jovens também vivem desprovidos de educação, recursos e oportunidades. Os jovens são o futuro das nossas comunidades rurais, onde reside um importante potencial de inovação e de mudança positiva.

Senhor Presidente, esta realidade impele-nos a enfrentar os problemas existentes, em particular a fome e a miséria, sem nos contentarmos com estratégias abstratas ou compromissos irrealizáveis, mas cultivando a esperança que brota da ação coletiva. Colaboremos na construção de um sistema agrícola e alimentar mais inclusivo. Os programas de investigação e tecnologia destinados a promover uma agricultura sustentável e respeitadora do meio ambiente também contribuirão para isto. É ainda fundamental eliminar o desperdício alimentar e apoiar uma distribuição equitativa dos recursos. Investir no transporte e no armazenamento pode, por si só, reduzir as perdas dos pequenos agricultores, que produzem um terço dos alimentos consumidos todos os dias. 

Invoco a ajuda divina sobre todos vós, a fim de que a sabedoria, a empatia e o espírito de cooperação e serviço leal orientem as vossas deliberações e para se possam eliminar as causas da exclusão, da pobreza e da má gestão dos recursos, bem como os efeitos das crises climáticas. Que as vossas propostas e ações reflitam os valores universais da justiça, da solidariedade e da compaixão, e sejam orientadas para o bem comum e para a obra em prol da paz e da amizade social, gerando mudanças a favor do desenvolvimento integral da humanidade.

Francisco