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CARTA DO CARDEAL ANGELO SODANO
 EM NOME DO SANTO PADRE
POR OCASIÃO DA
XLIX SEMANA LITÚRGICA DE FIUGGI

   

 

A Sua Excelência Reverendíssima D. LUCA BRANDOLINI
Bispo Presidente do Centro de Acção Litúrgica

Com cortês atenção, Vossa Excelência quis informar o Santo Padre que, de 24 a 28 de Agosto corrente, se realizará em Fiuggi a XLIX Semana Litúrgica sobre o tema: «Por obra do Espírito Santo. O Espírito Santo na liturgia». Ao exprimir profunda satisfação por esta apreciada iniciativa, que já há diversos anos se renova, Sua Santidade envia-lhe, assim como aos relatores e aos participantes a Sua saudação cordial e de bons votos. Ele deseja, além disso, que o encontro contribua para tornar mais incisiva em todos os componentes eclesiais – Dioceses, Paróquias, Famílias religiosas, Grupos e Associações – a consciência do papel que o Espírito Santo ocupa na celebração litúrgica.

A temática da assembleia insere-se bem no itinerário eclesial de preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, que neste ano reserva uma especial atenção ao Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Na Encíclica Dominum et vivificantem o Sumo Pontífice faz observar que a Igreja não pode apresentar-se no término do milénio «de outro modo que não seja no Espírito Santo. Aquilo que na "plenitude dos tempos" se realizou por obra do Espírito Santo, só por sua obra pode emergir agora da memória da Igreja» (n. 51, 1). De facto, o Espírito torna presente na Comunidade eclesial a revelação de Cristo aos homens, desenvolvendo a sua eficácia em cada crente: «O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito» (Jo 14, 26).

Na perspectiva do evento jubilar, a próxima Semana Litúrgica poderá oferecer um significativo contributo ao aprofundamento da reflexão acerca da presença e da acção do Espírito Santo, que vivifica o povo cristão quer nas celebrações litúrgicas, quer mediante multiformes ministérios e carismas por Ele suscitados no interior do Corpo místico de Cristo. O Espírito é Aquele que edifica o Reino de Deus na história e lhe prepara a plena manifestação em Cristo no final dos tempos, animando cada pessoa e fazendo germinar nela as sementes da salvação.

O Santo Padre, enquanto assegura a Sua oração para que o interessante Congresso produza os frutos desejados, formula votos por que a reflexão sobre o Espírito divino favoreça nos participantes uma consciência mais amadurecida da obra admirável, que Ele realiza na Igreja e no mundo e, de modo singular, na Sagrada Liturgia. Com efeito, é Ele que desperta a orante memória dos eventos de salvação e actualiza para cada geração de crentes o mistério pascal do Senhor. É ainda o Espírito que, constantemente presente na vida dos fiéis, concede com liberalidade a variedade dos seus dons, mas de modo singular opera na acção litúrgica e especialmente na Eucaristia, quando a família dos crentes se põe em devota escuta e se volta com Ele para Cristo, na perspectiva do seu retorno glorioso: «O Espírito e a esposa dizem: "Vem!"» (Ap 22, 17).

Na recente Carta Apostólica Dies Domini, o Sumo Pontífice pôs em relevo o sentido e o valor do domingo, dia do Senhor que «mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão» (n. 1).

Dia da «luz», o domingo, em referência ao Espírito Santo, pode ser definido também dia do «fogo». A «luz» de Cristo, com efeito, está profundamente conexa com o «fogo» do Espírito, e as duas imagens manifestam o significado profundo do domingo cristão. Ao mostrar-se aos Apóstolos reunidos no Cenáculo na tarde do dia da Páscoa, Jesus soprou sobre eles e disse: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20, 22-23). A efusão do Espírito, dom pascal do Ressuscitado, perpetua-se na vida do povo cristão. Cinquenta dias depois da Páscoa, no Pentecostes, o Espírito desceu com poder, como «forte rajada» e «fogo» (cf. Act 2, 2-3), sobre os Apóstolos reunidos com Maria. O Pentecostes «não é só um acontecimento das origens, mas um mistério que anima perenemente a Igreja» (Dies Domini, 28). Se esse evento, observa o Vigário de Cristo, tem o seu tempo litúrgico forte na celebração anual com que se conclui o «Grande Domingo», como dizia Atanásio de Alexandria (cf. Lettere domenicali 1, 10: PG 26, 1366), «ele permanece também inscrito, precisamente pela sua íntima ligação com o mistério pascal, no sentido profundo de cada domingo» (Dies Domini, 28). A «Páscoa da semana » torna-se, de algum modo, «Pentecostes da semana», no qual os cristãos, por obra do Espírito Santo, revivem a experiência jubilosa do encontro dos Apóstolos com o Ressuscitado, deixando- se continuamente vivificar pelo sopro misterioso do seu Espírito (cf. ibid.).

À luz dessas considerações, Sua Santidade faz votos por que cada celebração litúrgica seja entendida e vivida como lugar privilegiado da original experiência pascal. É precisamente essa experiência que une num só vínculo os fiéis de cada nação e de cada cultura, fazendo com que saboreiem o dom da unidade. Na Liturgia eucarística celebra- se o sacramentum unitatis, que caracteriza profundamente a Comunidade de fé, Povo reunido «pela» e «na» unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Nela, cada família cristã vive uma das expressões mais qualificadas da própria identidade e do próprio «ministério» de «igreja doméstica», quando os pais participam com os filhos na única mesa da Palavra e do Pão de vida.

Possa essa consciência crescer sempre mais nos fiéis, para que mais vivo e eloquente se torne o seu testemunho evangélico pessoal e comunitário.

Ao invocar o Espírito Santo sobre quantos participam na anual Semana Litúrgica, o Santo Padre assegura a Sua lembrança na oração e, enquanto confia o desenvolvimento dos trabalhos a Maria, Mãe do Verbo que Se fez carne por obra do Espírito Santo, de bom grado concede a Vossa Excelência, aos Bispos e aos Sacerdotes presentes, aos Relatores e a todos os participantes uma especial Bênção Apostólica.

De bom grado aproveito a circunstância para me confirmar com sentimentos de muito distinto obséquio

Seu dev.mo no Senhor

Card. ÂNGELO SODANO
Secretário de Estado

 

 

  

 

 



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