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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA
(16-23 DE JUNHO DE 1983)

CERIMÓNIA DE COROAÇÃO DE QUATRO IMAGENS DA VIRGEM

PALAVRAS DO SANTO PADRE

Esplanada do Santuário de Jasna Góra
Domingo, 19 de Junho de 1983

 

1. "O Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim" (Lc. 1, 32-33).

Desejo referir-me a estas palavras do Evangelho da Anunciação de Lucas, no momento em que me é dado realizar o acto litúrgico da coroação das imagens da Mãe de Deus:

— de Lubaczów

— de Brdów

— de Stoczek Warminski

— de Zielenice.

Realizo este acto em Jasna Góra no dia em que, juntamente com os filhos e as filhas da minha dilecta Nação, damos graças pelos 600 anos da presença da Mãe de Deus na nossa história. Desejo inserir de modo particular o acto da coroação litúrgica das mencionadas quatro imagens neste jubileu pátrio. A coroação está ligada à dignidade real. Por isso me refiro às palavras da Anunciação, que falam da dignidade real de Cristo. Ao Reino do Filho está ligado o reinar de Sua Mãe. Coroando com um acto litúrgico os quadros ou as esculturas, primeiro colocamos uma coroa na cabeça do Filho, de Cristo, e depois na de Maria.

2. Nas palavras da Anunciação a dignidade real de Cristo é expressa de modo messiânico. Precisamente da estirpe real de David havia de nascer Aquele que teria sido enviado por Deus como Ungido, isto é como Messias, para a salvação do seu povo: Aquele que foi ungido com o Espírito Santo e com poder.

Quando Jesus de Nazaré revelava o seu poder messiânico operando milagres e grandes sinais entre o povo, este queria fazê-1'O rei. Todavia Cristo afastava-se sempre dos fautores de um reino terreno. E quando, durante o processo, sob a influência das imputações por parte dos inimigos de Jesus, Pilatos Lhe perguntará "Tu és o rei dos judeus?" (Jo. 18, 33), Cristo responderá: "O Meu Reino não é deste mundo; Se o Meu Reino fosse deste mundo, pelejariam os Meus servos para que Eu não fosse entregue aos judeus" (ibid. v. 36), Pilatos ouve nesta resposta a afirmação de que Jesus de Nazaré não é um rei "deste mundo", e todavia fala do seu "reino". E por isso pergunta outra vez: "Logo Tu és rei?". Jesus responde: "Tu o dizes! Eu sou Rei!

Para isto nasci, e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz" (ibid. v. 37).

Assim, portanto, Cristo não aceitou nenhuma coroa sobre a sua cabeça, num sentido temporal. Aceitou só a coroa de espinhos, enterrada na sua cabeça para ridicularizar o "rei dos judeus". E com esta coroa de espinhos na cabeça, Jesus de Nazaré rendeu o espírito nas mãos do Pai, no Calvário: Rei Crucificado. Além disto, de facto, por cima da sua cabeça foi escrita a imputação da sua culpa: "Jesus Nazareno, rei dos judeus" (ibid. 19, 19).

Deste modo cumpriu-se a promessa da Anunciação. A Cruz no Calvário tornou-se para o Messias o Trono de David. Porém, precisamente nesta humilhação do Rei Crucificado, adquirem o seu pleno sentido as palavras: "O seu reinado nunca terá fim". Na Ressurreição, Cristo confirmou ser o Senhor da vida e da morte. O Senhor, que abraça todo o tempo da existência humana sobre a terra, guiando-o para a eternidade: "O Seu reinado não terá fim".

3. Quando, no acto litúrgico da coroação das imagens colocámos uma coroa na cabeça de Jesus,— de Jesus como Filho de Maria, que está nos braços d'Ela —, temos diante dos olhos esta verdade evangélica sobre o reino de Cristo. E unida à verdade sobre o reino de Cristo aparece diante dos olhos da nossa fé, também a verdade sobre o reino de Maria.

A Mãe do Messias, desde o momento da Anunciação, teve uma particularíssima parte neste reino, que se tornou a missão do Seu Filho. Quando estava junto da Cruz, Ela, com o coração, aceitava sobre a própria cabeça a coroa de espinhos do Filho. Como ninguém. Ela, a Mãe, participava no sacrifício do Filho — o sacrifício da nossa Redenção. Participava nele maternamente. E Cristo associou esta participação materna ao Seu Sacrifício redentor, dando como filho a Maria o seu discípulo João: eis ai o teu filho e — na pessoa dele, deu-Lhe cada homem, porque cada um é abraçado pela força misericordiosa da Redenção. Assim, pois, aquele reinar de Maria, ao qual damos expressão colocando com um acto litúrgico uma coroa na sua cabeça, tem o seu início decisivo na união da Mãe à Cruz e à morte do Filho.

Unida a Ele no despojamento, é unida também na glória, que se manifesta antes de tudo mediante a Ressurreição. Nós cremos que a Mãe de Deus participa na Ressurreição de Cristo mediante a sua Assunção ao Céu. A Assunção participa também naquele reino, do qual tinha ouvido falar no momento da Anunciação "O Seu reinado não terá fim". Participa nele a titulo de Mãe — é participa nele maternamente. Colocando uma coroa na cabeça da Mãe de Cristo, representada na imagem que é coroada, desejamos exprimir a fé nesta admirável participação de Maria no reino de Seu Filho.

4. O Seu reino — e o reino d'Ela — não é deste mundo, todavia radicou-se na história do homem, na história de todo o género humano — antes de tudo pelo facto que o Filho de Deus, da mesma substância do Pai, se fez homem por obra do Espírito Santo no seio de Maria. E aquele reino radicou-se definitivamente na história da humanidade e mediante a Cruz, ao lado da qual estava a Mãe de Deus como "Sócia Redemptoris". E, nesta radicação, aquele reino perdura. Perdura sobre a terra. Perdura nos "diversos lugares da terra. Várias comunidades humanas experimentam o reino materno de Maria, o qual aproxima delas o Reino de Cristo. Esta experiência relaciona-se com os lugares, com os tempos, com as imagens. Quando numa comunidade do Povo de Deus, aquela experiência do Reino de Maria alcança, mediante a fé das gerações, uma particular maturidade, então nasce o desejo de o exprimir com um acto litúrgico. E a Igreja, depois de ter constatado a liceidade deste desejo, realiza o acto da coroação.

Rejubilo, por conseguinte, pelo facto de que hoje ser-me-á dado realizar tal acto precisamente em Jasna Góra.

5. Vou colocar as coroas papais na cabeça de Jesus e na de Maria na imagem de Lubaczów. Saúdo cordialmente D. Marian Rechowicz, Administrador Apostólico de Lubaczów, como também o Cabido, o Clero e as Ordens Religiosas masculinas e femininas. Saúdo todos os peregrinos vindos daquela arquidiocese, cujos inícios remontam aos tempos de Casimiro, o Grande.

Com profundíssima comoção honro com as coroas esta efígie que foi testemunha dos votos de João Casimiro, na Catedral de Leopoli, em 1656; efígie diante da qual a Mãe de Deus foi chamada pela primeira vez Rainha da Polónia e o nosso povo se empenhou a uma nova e zelante dedicação ao serviço da sua "Rainha Misericordiosíssima" (votos de João Casimiro, rei da Polónia).

Vou também colocar as coroas papais na cabeça de Jesus e na de Maria na imagem de Brdów, na Diocese de Wloclawek. Esta circunstância tem particular eloquência na peregrinação, que me é dado fazer na Pátria, depois da canonização de São Maximiliano Kolbe. De facto, este primeiro Santo polaco do segundo Milénio, nasceu em Zdunska Wola, exactamente na diocese de Wloclawek. Torne-se a coroação de hoje a expressão daquela extraordinária veneração e daquele extraordinário amor que ele teve pela Imaculada. Mas pode-se mencionar apenas ele, ao falar daquela que é talvez a maior diocese polaca, que ofereceu uma hecatombe de vítimas entre os seus sacerdotes, tendo à frente o servo de Deus, o Bispo Michal Kozal? Por outro lado, além disso — precisamente daquela diocese foi para a Sé de Lublim e depois para a de Primaz, o inesquecível Cardeal Wyszynski, o Primaz do Milénio.

Saúdo pois cordialmente D. Jan Zareba, Pastor da Diocese, os Bispos Auxiliares, o Cabido, o Clero diocesano e religioso: as irmãs e os irmãos. Saúdo todos os peregrinos vindos da Diocese de Wloclawek, e sobretudo do Santuário de Brdów. Realizando este serviço da coroação compartilho convosco a alegria mariana.

7. Vou depois colocar as coroas papais na cabeça da imagem de Jesus e na de Maria do Santuário de Stoczek, da diocese de Warmia. Com este acto manifesto gratidão à Mãe da Paz pelos mais de 300 anos de protecção da Santa Warmia, que no curso da história e da estabilidade da sua sorte manteve a fé em Cristo e na sua Igreja.

Conhecemos também Stoczek Warminski como lugar da encarceração do Cardeal Stefan Wyszynski nos anos 1953-1954. Precisamente ali, o Primaz do Milénio compôs o "Acto de consagração pessoal à Mãe Santíssima" e ali também fez esta consagração a 8 de Dezembro de 1953.

Saúdo cordialmente o Pastor da Diocese, o Bispo Jan Oblak, os Bispos Auxiliares Julian e Wojciech, os Cabidos da Catedral e da Colegiada, o, Seminário Diocesano "Hosiapum" tão fortemente ligado à ilustre figura do Servo de Deus Cardeal Stanislaw Hoslusz; saúdo os Sacerdotes, as Famílias Religiosas masculinas e femininas, e todos os peregrinos da diocese. Em vós saúdo toda a Igreja .de Warmia.

Neste momento solene desejo também recordar todas as gerações de Bispos e de Sacerdotes, que no passado construíram esta Igreja sobre o fundamento da fé e do amor. De modo particular, quero recordar aqueles que, depois da segunda guerra mundial, sem terem em conta as dificuldades, lhe trouxeram o seu serviço pastoral.

Confio todos vós à Mãe da Paz.

8. Vou também colocar as coroas papais na cabeça de Jesus e na de Maria na imagem do Santuário de Zielenice, da diocese de Kielce. Com este acto litúrgico desejo ao mesmo tempo exprimir gratidão à Santíssima Trindade ao nosso Redentor e à Sua Mãe, pelo centenário da Diocese de Kielce.

Ao saudar cordialmente o pastor da diocese, D. Stanislaw Szymecki e ambos os Bispos Auxiliares, desejo ao mesmo tempo recordar todos os Pastores da Diocese de Kielce no arco destes cem anos, até D. Jan Jaroszewicz falecido há pouco. Saúdo todos os Cabidos de Kielce é de Wislica, e o Seminário Maior. Saúdo os sacerdotes diocesanos e as famílias religiosas masculinas e femininas. Contemporaneamente recordo todas as gerações do clero, que durante estes cem anos exerceram o serviço evangélico entre o Povo de Deus, na Igreja de Kielce.

Ao saudar em seguida todos os peregrinos, irmãos e irmãs, vindos para a cerimónia hodierna, recordo ao mesmo tempo todas aquelas gerações de diocesanos que, durante os cem anos passados; constituíram a comunidade viva do Povo de Deus .da diocese. Naquela comunidade realizou-se o Reino da Cruz e da Redenção de Cristo — e renasceu continuamente a esperança da vida futura graças à Ressurreição de Cristo. Naquela comunidade esteve sempre entre Vós a Mãe de Cristo. Hoje desejamos coroar esta sua presença materna juntamente com o Filho colocando as coroas da imagem da Mãe de Deus de Zielenice.

Maria esteja convosco nos anos que hão-de vir e nas gerações vindouras, aproximando de Vós Cristo e o Seu reino: reino de graça e de verdade, reino de fé, de esperança e de caridade, reino de vida eterna.

 



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